domingo, 25 de abril de 2010

The Front - Martin Ritt

Assisti a este filme tomado por um sentimento de nostalgia, reavivando no meu coração velhos ímpetos de ser um conspirador. Sabem, alguém muito convicto de uma proposição qualquer e disposto a eliminar por ardis, ao menos no plano intelectual, quem quer que a ela se oponha. Ultimamente, a minha ideia é investir na carreira de conspirador no mundo dos comentadores de vídeos no Youtube.

Queria entrar em várias discussões que hoje são conduzidas para se decidir se algumas versões de covers são melhores que outras, sustentando a minha opinião e diligenciando para que quem não concordasse comigo fosse banido. Com a dose certa de insídia da minha parte, acho que as pessoas envolvidas poderiam facilmente ser levadas a um estado de confusão desagregadora, e no final restaria a minha opinião como a líder do debate.

Eu gostaria de fazer exatamente o que o personagem do Woody Allen fez quando ele foi, sob falsas premissas, homenageado numa escola. Acreditavam os professores que estavam fazendo a homenagem que ele era um grande escritor, talentoso e profícuo, que poderia servir de exemplo para os alunos. Mas a história inteira do filme, apresentada logo no início, é a de que ele apenas emprestava o seu nome para alguns escritores que tinham entrado na lista negra do comunismo e que por isso não conseguiam trabalhar como roteiristas para televisão. Com uma enorme desfaçatez ele faz umas poses para as crianças, saúda a plateia e balança um canudinho recebido. Masca um chiclete com uma expressão de tranquilidade. A meu turno, o que eu faria seria entrar naquelas discussões do Youtube fingindo pleno conhecimento das músicas em questão, inventando circunstâncias, por exemplo, que pudessem ser atribuídas à gravação original e ao cover.

- It's Ok, do Dead Moon e a versão tocada em shows do Pearl Jam: Ah, seus ignorantes, o tom que o Pearl Jam usa é simplesmente o tom original. O Dead Moon é que estragou a música. O baixista do Dead Moon era amigo do Ed Vedder. Eles compuseram a música juntos, numas férias que o baixista passou em Seattle. Depois a banda aproveitou o material, só que o idiota do vocalista não conseguia cantar no tom certo. Daí eles mudaram. A música foi pensada para ter o Ed Vedder cantando do jeito que depois o Pearl Jam veio a tocar em shows. Então é melhor calar a boca quem não sabe do que está falando, que o Dead Moon, do jeito que o vocalista cantava, estragou a música! Ed Vedder é o melhor!

- Taxman, dos Beatles, também tocada pelo Steve Ray Vaughan e pelo Black Oak Arkansas. O quê?? A redenção dessa do contrário ridícula música pop foi a verão em southern rock do SRV? Ah, isso só mostra o quão pouco você sabe de southern rock, animal. Se alguma salvação existe para essa música, o responsável foi o BOA. Eu vi os caras ao vivo e posso dizer o que é uma plateia indo ao delírio. Aquilo sim era guitarra! Sem exageros preciosistas do do SRV e sem aquela chocante falta de virilidade do George Harrison. Aliás, o Paul McCartney mesmo já disse que a música só entrou no disco porque o GH deu uns chiliques e começou a chorar dentro do estúdio. E todo mundo sabe que o SRV só gravou essa música porque a gravadora estava fazendo pressão, que ele tinha bebido e injetado todos os dólares que o disco anterior tinha conseguido.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Fantastic Mr. Fox - Wes Anderson


Crash Bandicoot encontra Ocean's Eleven, certo? É o que todo mundo que eu consultei mentalmente disse sobre esse filme. A parte das caixas de madeira explodindo à passagem desenfreada é a semelhança mais notável, e se alguns balões coloridos aparecessem como obstáculos na carreira alucinante dos personagens por meio das tubulações e árvores, então a questão toda se resolveria em termos de desbragado plágio. Mas, mesmo sem os balões, quem tem alguma afeição pelo jogo e pelo impossível carisma do George Clooney não terá motivos para reclamar, pois raposas subindo pela parede quando elas não sabem como reagir a um ataque estão lá -- Street Fighting Man tocando por alguns momentos, contudo, para fins de humanização.

Muito bom, muito bom.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

A serious man - Ethan Coen & Joel Coen


Quando o Rabino Marshak, o mais sábio dentre aqueles que poderiam solucionar as aflições intermináveis do Prof. Gopnik, se recusa a recebê-lo, ao pretexto de estar ocupado pensando, e no fundo de uma ampla sala ele aparece na imagem de um decrépito homem barbudo, sentado imóvel, confesso que eu perdi as esperanças de ouvir a voz do eminente senhor. Pensei que o Prof. Gopnik iria sucumbir finalmente a todas as suas infelicidades sem nem saber de onde estavam atirando e que o máximo de sabedoria judaica que eu iria extrair desse filme seria o "dá uma olhada neste estacionamento" que o rabino júnior -- este sujeito do The Big Bang Theory -- muito comicamente sugeriu. Aconselhar garotos que tinham acabado de completar treze anos era a única atividade não puramente contemplativa do Rabino, a concessão maior que ele fazia aos congregados e que, ainda assim, era feita com pouquíssima desenvoltura. Nada de receber o Prof. Gopnik para falar do fracasso do seu casamento, das ameaças à sua estabilidade profissional, da loucura enervante do seu irmão ou simplesmente do mau relacionamento com o seu vizinho. Eu não fiquei decepcionado, de toda maneira, quando, mais tarde, o Rabino Marshak apareceu para dar conselhos ao filho do Prof. Gopnik, citando "when the truth is found to be lies and all the joy within you dies...". E mandando, também, que o guri fosse "a good boy". Me lembrei, é claro, do Jim Carey em The Cable Guy, e sorri candidamente.

No mais, gostei muito de algumas passagens. Uma foi o pai do aluno coreano que tenta subornar o Prof. Gopnik, dizendo que o seu filho ter deixado um pacote de dinheiro na mesa do professor não foi um suborno, foi só um confronto cultural. Outra foi o rabino perguntando quem se importava com o sujeito em cujos dentes apareceu uma inscrição íidiche, ele próprio um paciente não judeu de um dentista judeu. Ou então Arthur, irmão do Professor, dizendo que ele iria sair do banheiro... num minuto. Logo no início tem uma bem simples, mas muito eficiente como comédia: um velho professor examina o pequeno rádio que o filho do professor escamoteava na aula na escola hebraica, como se poderia esperar de um mergulhador da Petrobrás examinando diferentes peças de seda de diferentes épocas do império chinês.


domingo, 18 de abril de 2010

Lembra?

Definitivamente, não estou perguntando naquele tom detestável e retardado que as pessoas costumam usar para - cough, cough - desenterrar coisas dos anos 80 -- estilo Marcos Mion. Se bem que tenha sido mais ou menos isso que eu me propus a fazer quando eu fui procurar o vídeo dessa música. O que eu até acho que pode ser a minha desculpa, eu estava muito mais era preocupado em encontrar alguma coisa que a princípio não era identificada do que preocupado em mostrar que eu me lembrava da música. Preocupado a ponto de deixar essa última frase do jeito canhestro que ela saiu. O que faço novamente, para confirmar o péssimo estilo.

Coloco este site que apresenta algumas sugestões de detetive, na oportunidade em que relato brevemente a minha própria experiência. A situação inicial, é bom dizer, era a da total ignorância quanto ao nome da música, da banda ou de qualquer palavra que estivesse na letra. Eu e mais duas pessoas conseguíamos trautear claudicantemente a melodia, mas esse era o nosso limite. Sabíamos que a música era daquela época, e isso era tudo. Quase chegamos a formalizar uma aposta para ver quem conseguiria descobrir qual era essa música, o que agora me faz pensar que eu deveria ter acreditado mais na eficiência do correto uso do Last.fm, pois se aposta tivesse sido feita, eu teria sido o vencedor.

Não fizemos a tal aposta, como eu disse, mas eu não deixei o assunto morrer. Mesmo depois de alguns dias, gastei uns bons minutos da minha atenção quando eu pude arrumar um pouco de tempo livre. Comecei procurando pelos maiores sucessos dos anos 80, no que eu fui remetido a algumas listas não de todo inúteis. Percebi que Erasure era uma referência constante e que uma investigação mais cuidadosa sobre essa banda poderia me dar o resultado que eu queria: saber qual era a música muito parecida com Blue Savannah, mas que não era Blue Savannah.

Aqui eu preciso esclarecer que o mérito de descobrir Blue Savannah não foi meu. Foi exatamente de uma das pessoas que estavam querendo também descobrir qual era a outra música. Esse meu amigo, no entanto, fez apenas alguns telefonemas na tentativa. Eu fui direto ao Last.fm. E uma vez que eu cheguei ali, o resto foi fácil. Apareceu como uma das mais tocadas uma música chamada Oh l'amour, que eu imediatamente considerei como uma forte candidata, pela vaguíssima cogitação que eu fazia sobre como era a letra dessa música da qual eu estava tentando me lembrar.

E foi assim que eu localizei no Youtube esta música, dessa forma obtendo sucesso no que quase chegou a ser uma aposta formalizada entre três amigos.





Que uma coisa fique clara, porém: eu não gosto dessa música. No máximo, admito como material para paródias.

sábado, 17 de abril de 2010

Do arquivo

Março de 2005

***

O que é uma cultura superior! Em pleno Dia-D, pouco depois da Hora-H, as tropas britânicas que desembarcaram nas praias da Normandia jamais perderam a civilidade e excelência.

Enquanto os americanos, como formiguinhas atômicas disciplinadas e incansáveis, tomavam, na praia de Omaha, os canhões da parede canhões idealizada por Rommel, os ingleses, pontualmente, interromperam a batalha travada a poucos quilômetros dali, no front que lhes cabia atacar (esqueci o nome da praia), para tomar chá. Só voltaram ao expediente no outro dia. Isso não foi outra coisa senão arriscar todo o futuro da campanha aliada no continente europeu.

Mas, aos cautelosos em exaltar a superioridade dos ingleses, basta ver a possibilidade de anulação de casamento on the grounds of seduction, em virtude do uso feminino de maquiagem (que dá lugar à acusação de bruxaria), prevista em lei nunca revogada, desde o final do século XVIII.

domingo, 4 de abril de 2010

How to make it in America

Estou acompanhando esta nova série da HBO. O último episódio dessa primeira temporada, aliás, deve ir ao ar no E.U.A hoje. Não vejo como grandes surpresas possam acontecer, nem como esta série possa entrar para a história como memorável. É um mau sinal quando o melhor da série é a imagem de um sanduíche na introdução.

The Hobbit - J. R. R. Tolkien


Eu posso ter entrado perigosamente no clube dos habituados a tirar fotos com a preocupação de como a luz vai afetar o resultado. Ouço dizer que esse é um caminho sem volta, mesmo para aqueles que, como eu, só por acidente tenham ido parar nessa portinha de madeira encardida, escondida atrás de um latão de lixo, num beco escuro de um bairro de má reputação na cidade. Mas tento a absolvição e me explico. Eu tirei essa foto um pouco sem querer. Estava tentando destravar o celular e acabei apertando antes do planejado o botão que eu deveria ter apertado para tirar a foto. De modo que essas luzes vindo da esquerda e que invadem a ilustração da capa não saíram do cajado mágico do Gandalf; é só o sol. E aqueles pés-de-pato, em cima, não são de um mergulhador esportista sendo sugado para dentro do livro pelo exército de orcs; é só o marcador da 55ª feira do livro de Porto Alegre que eu ganhei de brinde.

Sobre o livro, não posso dizer o quão feliz eu estou de ter começado a saga pelo início. Já lendo agora o Senhor dos Anéis, percebo que a história de Bilbo Bolseiro, objeto d'O Hobbit, esclarece um bocado de circunstâncias peculiares à Terra Média. Quem já viu o filme, ou de alguma forma conhece AD&D e quejandos, reconhecerá o ambiente e não irá se surpreender com elfos se destacando como arqueiros. Quem quiser detalhes, no entanto, terá que recorrer a este primeiro livro.

Embora se trate de uma tradução, acho que injustiças cabais não foram feitas ao estilo do Tolkien. Talento literário, afinal, é outra coisa. Frases bem colocadas, parágrafos limpos e densos, prerrogativa de poucos. O que eu mais tenho admirado em escritores ultimamente é a noção perfeita de quando eles precisam interromper uma descrição e lançar alguma coisa, por simples que seja, no discurso direto. E nesse ponto Tolkien verdadeiramente excele, seja com Bilbo pensando na sua toca e nos seus dois cafés-da-manhã, seja com um dos anões querendo continuar com a caminhada pela Floresta das Trevas. Sempre alguém aparece para dizer exatamente aquilo que você, como leitor, meio que imaginava que deveria ser dito, mas que não conseguiria imaginar sendo dito, se assim não lhe contassem.

No enredo, Bilbo Bolseiro, ancestral não tão distante do Frodo, tem contada a história de como ele obteve para si o Um Anel. Foi bem casualmente, aliás, e no meio de uma aventura que, enquanto acontecia, preocupou muito mais o bom hobbit do que o anel. Ele tinha saído numa expedição de anões para recuperar o tesouro guardado por Smaug, um terrível e poderoso dragão. Separado de seus amigos quando de uma perseguição de orcs, Bilbo se viu arrastado para uma fossa subterrânea e foi lá, na escuridão, que as suas mãos tatearam o precioso anel.

O livro, segundo leio, foi um presente para os filhos do autor.

Paper Heart - Nicholas Jasenovec

Um post inteiro sem conteúdo, sem opiniões minhas. Literalmente, uma sequência de palavras que não fazem sentido e que foram escritas apenas para ocupar espaço na tela.



Como o Jack Nicholson reclamando da vida para o seu vizinho, às três da madrugada - é como eu estou tratando este blog. Fico em silêncio, ou numa leve hostilidade por uns tempos, e depois eu venho aqui, sento-me nesta cadeira e menciono algumas incoerências sobre a vida. Daí eu saio dizendo que foi bom ter postado e tal, da mesma forma que o Melvin Udall faz, também sob a firme crença de que atos mais expansivos e elucidativos de comunicação não seriam possíveis nem em tese.

E o pior é que, pelo menos em relação às coisas que eu costumo postar aqui, material não me tem faltado ultimamente. Depois de um longo período de escassa disponibilidade de tempo, estou em vias de reconquistar um certo ponto de equilíbrio ótimo entre as forças blogueirísticas e as forças mundanas que me movem no globo.

Eu tinha escrito um parágrafo sobre como Michael Cera e Charlyne Yi mereciam um ataque frontal por este raio de filme. Relendo-o, percebi mais uma vez a minha tendência a odiar atores pelos personagens que eles representam, e a odiar personagens me esquecendo das pessoas que os criaram. Então eu acho que a grande reclamação que eu teria a fazer aqui deveria ser contra o diretor, que foi também o roteirista da história, e foi por essa razão que eu retirei deste post o tal parágrafo, onde se poderia ler, só para que se tenha uma ideia, a seguinte passagem:

"Então temos como estabelecida a circunstância de que esse conjunto de trejeitos que o Michael Cera repetidamente exibe, tão bem evidenciada nas roupas que ele usa, não o torna propriamente um idiota, embora esse mesmo conjunto seja ridículo para supostamente demonstrar que ele não seja exatamente um."

Só que reclamar contra roteiristas e diretores, como todo mundo sabe, e contra roteiristas/diretores, em especial, é uma negócio para profissionais da crítica. É preciso que se desvendem primeiro quais eram as intenções da obra para depois examinar com qual grau de sucesso essas intenções foram realizadas. Tudo isso dá muito trabalho, é claro, mesmo naqueles casos, como parece ser o deste Paper Heart, em que as intenções não sejam muitas, nem de difícil anúncio. Quer dizer, sendo um filme selecionado para passar no Festival de Sundance, acho que podemos considerar a sua intenção de destruir a civilização ocidental como sendo flagrante demais para não ser notada e o seu grau de sucesso como sendo apenas moderadamente preocupante, tudo isso para, deixando de lado essa questão, passarmos a examinar o que mais escorre dessa ferida purulenta que é Paper Heart.

O que vem a ser o seguinte: se você é um divorciado de 50 e tantos anos que só se casou quando tinha passado dos 40, e tem, paralelamente, uma sala de sinuca na sua casa com umas cabeças de animais penduradas na parede, então você está gabaritado para falar sobre o que é o amor de verdade a uma guria enjeitada; se você tem 70 anos de idade e é incapaz de se comunicar quando a sua esposa está na sala, tão controladora e bobinha-querendo-atenção-o-tempo-todo que ela é, então, meu amigo, só você pode dizer o que é o amor de verdade a uma guria enjeitada; se você é uma criança brincando num parquinho, então o que você tem a falar sobre o amor de verdade é certamente tudo aquilo que uma guria enjeitada poderia querer saber sobre o assunto.

Esses exemplos só serão compreendidos por quem viu o filme, eu imagino, e eu, aqui, nem facilitei a vida das pessoas que ainda não fizeram isso e que portanto não sabem que a coisa toda é um documentário em que a Charlyne sai em busca de demonstrações de amor, porque ela mesma não acredita e não sabe como sentir amor na sua própria existência. Mesmo assim eu os deixo aí, como uma preparação para quem ainda vai assistir/lembrança para que já assistiu.
 
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