domingo, 3 de junho de 2012

House - Finale

Nas páginas de Guia para House, leio o seguinte:

"A referência a Sociedade dos Poetas Mortos justamente para demonstrar uma suposta indiferença de House para com a iminente morte do personagem interpretado por Robert Sean Leonard, tem sido evocada como um exemplo de intertextualidade. O equívoco dessa assertiva, que se popularizou com  Hitchens, é de natureza dupla. A uma, embora seja verdade que a menção àquele filme tenha sido feita de forma sarcástica - sarcasmo aliás justificado ao se considerar que o episódio foi ao ar em 2012 e que desde os anos 90 do século XX o filme vinha sendo recomendado por professores ginasianos - , é certo que..."

Não preciso nem continuar. O autor prosseguirá sustentando que não existe um sentido artístico na elaboração do diálogo e que tudo não passou de uma diatribe dos roteiristas. O mesmo tipo de explicação, casual, ele oferecerá para a menção à personagem de Lisa Edelstein, que no último episódio é citada em tom de lamentação por House como sendo a mulher que deveria fazer parte da sua vida mas que acabou indo embora, e de quem se sabe ter saído da série na última temporada apenas por questões salariais. É assim, também, que ele verá a aparição de Kal Penn. Com certo descaso, quero dizer. Uma alucinação febril de House no momento em que encara a morte, cujo próprio suicídio foi amplamente explorado no enredo, inobstante sua saída da série ter sido provocada pelo trivial convite do ator para integrar os quadros burocráticos da administração do Presidente Obama.





domingo, 13 de maio de 2012

Coriolanus - Ralph Fiennes



A ideia é simples e engenhosa demais para ser uma novidade. Mas eu tenho assistido a tão poucos filmes ultimamente que, num pensamento súbito, o que eu diria é que este filme  foi a melhor adaptação shakespeariana para os tempos modernos -- para os tempos de Conflitos Modernos, quero dizer


É ver isto.


E então imaginar que esse sujeito vai ter alguma coisa de grandiosa a dizer quando finalmente ele chegar aonde ele está indo.


Por entre a fumaça das explosões, uma sombra andante vai ser vista e alguém vai perguntar:

Who's yonder, that does appear as he were flayed?

Olhar de incompreensão, e um lânguido e espantado sussurro:

O gods! He has the stamp of Martius.

Imaginem agora o sujeito esbravejando, depois de fazer mais ou menos a mesma coisa que o bonequinho do vídeo fez; e, vivo, encontrar o que havia restado de sua tropa, num canto da zona de combate, em estado de descrença e já desistindo do ataque final ao inimigo.

Come I too late?! Come I too late?!


domingo, 4 de março de 2012

Parenti Serpenti - Mario Monicelli


A primeira cena deste filme poderá agradar bastante a um certo tipo de turista que goste de caminhar pelas ruas de uma cidade, olhando as pessoas e os prédios. É uma sequência de alguns minutos de plena agitação natalina na Europa. No final, por entre as luzes que enfeitam os prédios, o céu aparece numa modalidade de azul que os pintores de todas as escolas artísticas falharam em reproduzir, e que só tem uma aproximação, que eu saiba, nas fotos tiradas em máquina digital sem flash. Mas eu posso estar ignorando alguma pintura famosa porque azul não é a minha cor preferida.

Mais adiante, os filhos estão na cozinha, conversando agradavelmente sobre como o pai aparenta saúde e bom espírito. "Achei-o melhor dessa vez", diz um. "É verdade", concorda a outra. Alguém resume a impressão geral "Está mais presente". O velho aparece, então, desde o fundo da grande sala, andando com os braços cruzados nas costas, um monumental walk-man nos ouvidos. Está estudando inglês, em preparação para a abertura das fronteiras na Europa. Sua voz é a mesma voz concentrada, militar, que anuncia logo que as pessoas chegam à porta há quantos dias ele não evacua adequadamente. Ainda antes do jantar, com uma boina que alguém deixou em cima da mesa, ele mostra mais uma vez qual a espécie de alienação que o está acometendo. Com essa boina ele pega a enguia que alguém havia trazido da rua, e que deslizava pelo chão, e a atira pela janela. Nessa mesma cozinha, um tanto amorosos, os filhos começam a cantar uma daquelas canções tradicionais italianas para a matriarca familiar. Que depois de alguma resistência se deixa abraçar e beijar, cantando junto com eles, em rodopios esfuziantes de quem sabe que fez macarrão em quantidade suficiente para saciar a fome de todos os presentes.

Pessoas sensíveis também poderão sentir saudades de uma memória distante quando virem a procissão da noite de natal. A que aparece no filme tem uma vantagem inegável a todas as outras, porém. Para acompanhar essa procissão você não precisa sair de casa. Quando o sino que a anuncia é ouvido, basta que você desligue a televisão, faça um pouco de silêncio e beije a mão das pessoas mais velhas. Depois você pode ficar olhando pela janela os padres e coroinhas caminhando lentamente na neve, e guardar outros sentimentos de festividade católica para a Missa do Galo, onde, desde o espaço no alto da igreja, estão cantando Adeste Fideles. Não dá para ver muito bem se as crianças estão usando as túnicas vermelhas e brancas.

Eu estava esperando por uma comédia mais espalhafatosa e cáustica, mas acabou sendo exatamente o tipo de filme que eu queria ver.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Medianeras - Gustavo Taretto

Eu suprimi um parágrafo inteiro em que eu escrevia sobre a palavra "paradoxal" constar do roteiro desse filme -- um tanto assombrosamente, aparecendo num dos voiceovers, agora não me lembro se da guria ou se do cara. Quando eu reli o que eu tinha escrito, a impressão que eu tive foi a de que eu estava cometendo exatamente o mesmo erro que eu estava querendo criticar no roteirista: o erro de fazer qualquer coisa ligada ao gênero das comédias românticas de um jeito que não se poderia imaginar Billy Crystal, sozinho pelas ruas de Manhattan na noite do Ano Novo, fazendo ou pensando. De modo que fica o registro da ideia abortada e do meu acesso de tentativa de honestidade intelectual.

De todo jeito, se ficou a sugestão vaga de que o filme é culpado por elevar demais os pensamentos dos seus personagens, numa forma que chega a ser risível para a trivialidade da situação em que eles se encontram, também um grandíssimo tributo tem que ser prestado aqui no que diz respeito à verossimilhança atroz com que um determinado pedaço da realidade é mostrado. Estou falando da perfeição com que as telas dos computadores são retratadas. Aqui eu ofereço as minhas palmas para a produção. Eu acho que eu nunca tinha visto um filme mostrando uma tela de computador tal como ela ordinariamente se apresenta na natureza. Uma coisa tão improblemática de ser feita que, até onde vai o meu conhecimento, por algum motivo vinha sendo evitada a todo custo pela indústria e pelas partes interessadas.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Der Ring des Nibelungen - Por Anna Russell

Se a versão resumida que será apresentada no Teatro Colón, na Argentina, não é resumida o suficiente para o gosto de alguém, então uma saída é assistir à versão resumida apresentada por Anna Russell.



Que pode ser lida aqui.

Dos vídeos que encontrei no youtube, esse foi o de melhor qualidade. Pela quantidade de versões, umas mais comentadas que outras, o texto foi mesmo popular em algum momento e até hoje é bastante conhecido. Bom símbolo da aversão ao intelectualismo que só os ingleses são capazes de elevar à categoria de arte, chegaram a dizer, tomei conhecimento desse monólogo por acaso. Ele veio junto num download que eu fiz dos arquivos em mp3 das quatro obras do ciclo. Escutando a coisa foi possível intuir que, mais do que só pelos bons termos do texto, a performance gestual era também bem engraçada, o que acabou me levando a assisti-la umas três ou quatro vezes, enquanto procurava as melhores imagens.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Melancholia - Lars von Trier



Eu pretendo fazer ao público o mesmo benefício que me fizeram quando me contaram mais ou menos qual é a história desse filme. O motivo que eu tenho para isso é bem simples. É que o filme é um pouco longo; e embora ele não seja o mais cheio de mistérios e intrigas que possam encher de curiosidade e apreensão a quem o esteja assistindo, para mim ele pode ser visto com mais proveito quando se sabe desde o início que, no mundo, um astro de significativa relevância se aproxima da Terra e que existe uma dúvida algo pertinente se ele pode se chocar com o planeta e extinguir a vida. Ficar com um sentimento de antecipação nervosa em relação a essa catástrofe, no meu caso, ajudou nos momentos de maior sono (também eu preciso dizer que comecei a coisa tarde da noite, um tanto cansado até). Mas, quando se passa da metade inicial, os detalhes do planeta Melancholia vão sendo apresentados com mais largueza e quase tudo que aparece na primeira parte do filme acaba sendo esquecido.

A minha inclinação, pelo menos, é esquecer detalhes que eu tenha visto em festas de casamento. E a primeira parte desse filme - estamos falando de mais de uma hora - dolorosamente se limita a uma festa de casamento, com todas os acontecimentos que os filmes sempre mostram, aliás. A lista que eu apresento é só a de alguns poucos exemplos.

Começa-se com um dos velhos truques do negócio. Um ou ambos os noivos atrasados. Na história do cinema existem algumas variações nesse recurso narrativo, mas dificilmente um casamento é mostrado sem que uma cena paralela aconteça fora da igreja ou do salão. Aqui o que temos é o atraso na limosine. O carro é tão grande que não consegue passar pela estradinha de terra entre as árvores que se desfolham. O que é uma chance para dizer, quem sabe, que o casamento dos dois é artificial; que não adianta tentarem se encaixar naquilo que as pessoas acham que seja perfeito para eles; que dá problema quando uma escolha matrimonial é tomada com base somente em estratificação social, etc. Ou uma chance, apenas, para que se ria da pusilanimidade do motorista, verdadeiramente pusilânime que ele é.

Outro evento: os discursos de brinde aos noivos impecavelmente articulados, mesmo quando breves. Não se fugiu um milímetro da regra estabelecida por nossos ancestrais de que o chefe de um dos noivos tem que aparecer e, aparecendo, falar bobagens sobre sua empresa de publicidade. Tampouco daquela sobre o pai da noiva estar bêbado e na companhia de suas amantes; e, igualmente, a da mãe, severa e fria, constrangendo as pessoas com comentários sobre a imperfeição intelectual da filha. E apenas como um adendo a isso, é claro, a irmã mais velha tem que estar mais preocupada com a organização da festa do que a própria noiva. Repassando broncas que levou da esposa, também, o cunhado se obriga aqui e ali a tentar colocar as coisas em ordem. Não estou exagerando quando digo que, no fim das contas, Jennifer Aniston de meados dos anos 2000 poderia sem qualquer problema ser a atriz principal desse filme.

Para não dizer que tudo é reprodução do manual, o arremesso do buquê foi um pouco diferente. A noiva subiu numa escada, para início de conversa, e estava de frente, não de costas, para as pretendentes. Aliás, quando o buquê vem abaixo - quem o arremessa, depois de muita hesitação da noiva, é a irmã -, o que dá para ver é que não apenas mulheres estão na expectativa de se apropriarem das flores. Até o pai da noiva está ali. Mas ok, a noiva não quer transmitir a ninguém, nem mesmo na imbecilidade de um buquê, a grande miséria materializada no ato de um ser humano de confiar em quem quer que seja. Porque, para a noiva, tudo é maldade na Terra. E se alguém duvida de como essa concepção é radical, melhor pensar de novo. Até rosbifes se degeneram para essa guria -- têm gosto de cinzas e são aviltantes à mesa.

Andei lendo por aí uma comparação da noiva com Maria Antonieta na corte francesa. Se fosse para esse casamento ser comparado com qualquer outro que não pudesse ser visto em filmes da Jennifer Aniston, insisto, o que eu faria é ir logo na óbvia comparação com Isolda - na trilha sonora do filme, salvo engano, só se tocam trechos do vorspiel de obra de Wagner. Os puristas que me perdoem, mas essa noiva lembra mesmo a heroína da lenda e personagem da ópera, e não só pelo cabelo cor de ouro. As duas, no fundo, são noivas chatas e mimadas, com uma espécie de macumbeira na família. Isolda, recebendo da mãe, se eu me lembro bem, uma poção do amor que lhe garantiria mais do que uma afinidade com o futuro marido, rei da Cornualha, a quem tinha sido prometida como esposa sem correspondentemente lhe ter qualquer afeto especial, ele tio de Tristão e infeliz que viu a mulher se apaixonar pelo sobrinho num episódio de equívoco na hora de se beber um pouco de vinho. E, de outro lado, Kirsten Dunst, com a sua irmã comprando pílulas para a morte rápida e serena para o caso de a catástrofe do planeta Melancholia se abater na placidez arquimilionária do seu castelo/sede de um campo de golfe.

Justificativa para uma segunda foto neste post:





quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Cid Moreira é de direita

Eu suponho que Luciano Huck teria, é claro, que perder aquele lobo cerebral que condiciona suas reações de sublimação epifânica toda vez que ele toma conhecimento de histórias de vida. Nessa fantasia que eu acabei de criar isso poderia ser possível e o homem poderia deixar de ser o que ele é. A parte fácil é imaginar diatribes de Cid Moreira sobre o excesso de tributação. E ele fazendo graça e se afastando quando Luciano Huck diz uma besteira.

Ei-la, a versão brasileira disso aqui.

Acabei de elaborar a ficção para afirmar que Cid Moreira é realmente de direita e tal.
 
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