
*[Sempre que ouço alguém dizer que uma coisa deixa de ser boa ou ruim apenas porque tomada em comparação com a realidade brasileira, lembro-me daquela máxima segundo a qual uma discussão mais rapidamente se aproxima da esquizofrenia delirante, quanto mais cedo uma das partes que discutem é comparada a Hitler.]
Senti falta dele como narrador. Confesso que até agora eu ainda não encontrei um motivo razoável o suficiente para que ele mesmo não apresentasse os personagens usando aquele monte de advérbios que ele costuma usar. Por ter chegado um pouco em cima da hora no cinema, tendo sentado na cadeira no preciso momento em que o famoso "Written and directed by Woody Allen" dos créditos desaparecia sob o fundo escuro para dar lugar, eu acho, à primeira tomada de Barcelona, senti falta também de praticar o meu velho hábito de ficar tentando reconhecer os nomes dos membros da equipe de filmagem. Sempre me lembro de uma tal de Rosenthal. Na pressa para sair da sala, igualmente, não fiquei até o final e não olhei com atenção para a informação da trilha sonora.
Na crítica que saiu da Veja algumas semanas atrás, o maior elogio que foi feito ao filme foi o de que era uma celebração à força do acaso. Como se uma ulcerada ser acometida por uma crise estomacal, depois de largamente se servir de tudo quanto é bebida alcoólica, fosse realmente uma obra do acaso. Mas estou sendo injusto. Confiro na revista, e uso aspas para citar, que o que realmente se quis enaltecer foi a atitude de se sujeitar à sorte, de "abraçar o inesperado" como um "emblema do imprevisto", tudo para transformar o postulado cartesiano em "me arrisco, logo existo". Tá bom.
O ponto mais baixo do filme foi o tal do violão catalão. Por duas vezes, eu acho, fui obrigado a ficar escutando um sujeito tocar violão para uma rodinha de pessoas maravilhosas que se espalham pelo chão e fazem uma cara de quem está se lembrando de coisas funestas. Deixam cair lagriminhas e saem de lá perturbadas. O próprio sujeito que está tocando tem o semblante amargurado de um cantor sertanejo, com direito a cabelo penteado e tudo. Eu gostaria de pensar que essas cenas foram uma piada, e não uma homenagem ao Pedro Almodóvar, mas, afinal, a quem eu estaria enganando?
Escolho como ponto alto, bem a esmo e sem qualquer intenção previamente concebida, uma das três mulheres estonteantes. Uma foto só não bastará.



Tal como foi mostrada, e já termino, Barcelona pareceu ser uma cidade muito bonita. Dizem que sofreu uma reforma urbanística para receber os Jogos Olímpicos. Mas é claro que os ambientes internos também ajudam.

2 comentários:
Penelope Cruz esta muito bem no papel da perturbadissima Maria Helena.
Ela e o Javier tiveram o bonus da lingua espanhola pra adicionar o dramalhao "mexicano" nas discussoes durante o filme, que casaram de uma forma magica com o liberalismo nao compreendido da Scarlet.
Otimo tambem o contraste de personalidade de 'Vicky' e 'Cristina'.
E Javier merecia uma papel de amante latino depois de usar aquele cabelinho terrivel e ganhar o Oscar (Alias, ja viu o camaleao contracenando com a nossa Fernanda Montenegro no "Love in the time of Cholera?")
Concordo com a narracao. Teria sido perfeita na voz do proprio Woody.
-O primeiro cara tocando violao parecia o Ricardinho Mansur. perceba!
E acho q por varios aspectos, o filme e sim muito proximo a realidade. E a escolha e limitacao de conceitos que cada um segue em sua propria vida.
Otimo post!
May =]
Maria "Dame la pistola" Helena - quase impossível dizer não a ela.
Sobre o Amor Nos Tempos, não vi o filme, mas já li o livro. Se a velha chata for mesmo a Fernanda Montenegro, acho que vou parar por aqui.
Se você está dizendo que o tocador de violão não era o Daniel, então eu não vou insistir.
Essa parte do filme, a da limitação e tal, é bastante real. Real até demais. Acho que eu deveria ter deixado mais claro que é o estilo de vida dos personagens que eu acho, talvez lamentavelmente, impraticável.
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