***
É preciso não ter muitas resistências a qualquer tipo de exagero inofensivo para gostar dessa história. Deixando de lado o exagero inofensivo mesmo de pensar que o filme de fato é brilhantemente original e sombriamente legal, como não poderia deixar de estar escrito na capa, eu me diverti, sim, e me encomendei aos diabos na cena em que Clarabelle, a velhinha do escopeta, faz jus ao seu epíteto. Em outros momentos de exagero também dá para se comover. Na apologia de Krugsby (Bill Pullman) aos bolinhos de chocolate, talvez até a menos exagerada das filosofias apresentadas; ou, ainda, nos ataques de fobia do Sr. Salomon.
Krugsby é o policial que você pode ver que está falando do fundo do coração ao dizer qualquer coisa. You're a good kid, ele diz, e pela quantidade de ar retida dentro da boca, modulando a voz, você percebe quê tipo de homem ele é. Ele anuncia que o Marshall Walker está chegando para resolver uma pequena emergência policial e daí alguém pergunta se era the Marshall Walker. Krugsby encolhe um pouco os ombros, levanta um pouco as sobrancelhas, perde um pouco o olhar no horizonte e diz yeah... como um é isto mesmo, meu amigo, aquele bruto de homem acabou de dizer que ele está vindo aqui, então imagina só quê tipo de merda insana e exagerada totalmente fora do nosso controle está prestes a acontecer... Mas existe quem não pense assim. Lars von Trier, por exemplo, aliás o roteirista do filme, pensa que ele é como qualquer homem que carrega uma pistola L1808 polymer e assim indigno de confiança. O Sr. Sslomon é o dono da mercearia onde Krugsby sempre começa o seu dia. A presença constante das forças de ordem no seu estabelecimento não é suficiente para afastar o medo do proprietário de que as coisas fujam do pacato e tornem-se parecidas a um ataque de gangues. Disseram por aí que as gangues estão soltas pelas ruas e então o Sr. Salomon hiperventila-se, atônito de medo.
Quem tiver dúvida sobre a pouca ou nenhuma seriedade com a qual se deve tratar esse tipo de história -- em que um guri forma um clube juvenil de amantes de armas de fogo e sonha em dominar uma pracinha -- não deve se afligir. No próprio roteiro se fez questão de criar um personagem bocó que exagera números e que diz que os índios atacavam seus inimigos dando mil por cento do seu vigor. É mais ou menos como fez Sebastian, ao ouvir esse disparate, que sempre se deve reagir a um discurso exagerado. Isso é alguma porcentagem, hein?!
A trilha sonora do filme, se não for toda, é quase inteiramente composta de músicas da banda The Zombies.
Nenhum comentário:
Postar um comentário