domingo, 21 de agosto de 2011

Dear Wendy - Thomas Vinterberg


Eu tinha uma longínqua lembrança de que eu cheguei a postar aqui da última vez que eu li The Picture of Dorian Gray. Foi curioso perceber, depois de encontrar afinal o arquivo, quanto tempo isso já faz. Um tempo suficiente, devo dizer, para acumular práticas degenerativas tanto do corpo quanto da alma, como por exemplo a experimentação não metódica de certos tipos de cerveja lager. Por pura ausência de pacto com o demônio, eu imagino, muitos rasgos esteticamente perturbadores devem ter aparecido no meu rosto de lá para cá. Mas não foi só isso. Agora eu também fico na delicada posição de dizer que este filme é uma versão bang-bang do dandismo oficial sem poder dizer, porque eu não me lembro tão bem do livro assim, quem seria o Lord Wotton da história.

***

É preciso não ter muitas resistências a qualquer tipo de exagero inofensivo para gostar dessa história. Deixando de lado o exagero inofensivo mesmo de pensar que o filme de fato é brilhantemente original e sombriamente legal, como não poderia deixar de estar escrito na capa, eu me diverti, sim, e me encomendei aos diabos na cena em que Clarabelle, a velhinha do escopeta, faz jus ao seu epíteto. Em outros momentos de exagero também dá para se comover. Na apologia de Krugsby (Bill Pullman) aos bolinhos de chocolate, talvez até a menos exagerada das filosofias apresentadas; ou, ainda, nos ataques de fobia do Sr. Salomon.

Krugsby é o policial que você pode ver que está falando do fundo do coração ao dizer qualquer coisa. You're a good kid, ele diz, e pela quantidade de ar retida dentro da boca, modulando a voz, você percebe quê tipo de homem ele é. Ele anuncia que o Marshall Walker está chegando para resolver uma pequena emergência policial e daí alguém pergunta se era the Marshall Walker. Krugsby encolhe um pouco os ombros, levanta um pouco as sobrancelhas, perde um pouco o olhar no horizonte e diz yeah... como um é isto mesmo, meu amigo, aquele bruto de homem acabou de dizer que ele está vindo aqui, então imagina só quê tipo de merda insana e exagerada totalmente fora do nosso controle está prestes a acontecer... Mas existe quem não pense assim. Lars von Trier, por exemplo, aliás o roteirista do filme, pensa que ele é como qualquer homem que carrega uma pistola L1808 polymer e assim indigno de confiança. O Sr. Sslomon é o dono da mercearia onde Krugsby sempre começa o seu dia. A presença constante das forças de ordem no seu estabelecimento não é suficiente para afastar o medo do proprietário de que as coisas fujam do pacato e tornem-se parecidas a um ataque de gangues. Disseram por aí que as gangues estão soltas pelas ruas e então o Sr. Salomon hiperventila-se, atônito de medo.

Quem tiver dúvida sobre a pouca ou nenhuma seriedade com a qual se deve tratar esse tipo de história -- em que um guri forma um clube juvenil de amantes de armas de fogo e sonha em dominar uma pracinha -- não deve se afligir. No próprio roteiro se fez questão de criar um personagem bocó que exagera números e que diz que os índios atacavam seus inimigos dando mil por cento do seu vigor. É mais ou menos como fez Sebastian, ao ouvir esse disparate, que sempre se deve reagir a um discurso exagerado. Isso é alguma porcentagem, hein?!

A trilha sonora do filme, se não for toda, é quase inteiramente composta de músicas da banda The Zombies.

 
Free counter and web stats