sábado, 27 de novembro de 2010

Kill Bill - Quentin Tarantino




Acabei de assistir pela segunda vez a obra que tantas pessoas consideram ser a melhor do Tarantino. Como da primeira vez, assisti ao volume 2 logo na sequência do volume 1, talvez como o próprio diretor teria gostado que a história fosse vista. A outra oportunidade aconteceu no próprio cinema, alguns anos atrás: uma apresentação especial que eu fui descobrir que estava passando bem por acaso, caminhando distraído pela porta do cinema. Dessa vez, também sem maiores planejamentos, assisti na HBO, com um intervalo de apenas alguns poucos minutos entre as sessões.

Foi uma imersão total, portanto, num universo que por sua dualidade pode deixar um homem encabulado. É um universo atraentemente fictício na parte em que Uma Thurman é uma assassina de beleza desconcertante, de talentos incomparáveis e de uma história de vingança que nos comove no primeiro segundo em que descobrimos, afinal, que história é essa. Mas é um universo um pouco triste no seu realismo - no seu realismo de pés horríveis sendo mostrados sem qualquer esforço de se proteger a imagem do contrário perfeita que todos nós teríamos de Uma Thurman. Estou dizendo isso porque mesmo uma pessoa sem qualquer fetiche por pés femininos, porém dotada de um senso estético mínimo, não deixaria de notar como os pés dela se desarmonizam com o resto de suas belas formas. Contemplá-los em isolado chega a ser um pouco desagradável. Os dedos que ali se abrigam parecem tortos demais para a criatura que os encima, do mesmo jeito que as protuberâncias dos ossos articuladores, não como suaves dobras por cima das quais se poderia sentir inclinado a pousar as mãos carinhosamente, lembram os contornos de uma bruxa velha. A cena dela no banco de trás da camionete amarela do Buck, os pés ao fundo, como duas raízes deformadas brotando da terra, desafia qualquer admiração.

Fora isso, evidentemente, são horas de diversão e de estímulos visuais.

É bem verdade que um controle meu, absoluto, monarquicamente absoluto, isto é, sobre como filmes deveriam ser feitos, é bem verdade que um controle assim resultaria em filmes um pouco diferentes. Haveria, fosse esse o caso, reduções significativas na extensão das cenas em que as pessoas ficam só apontando os braços umas para as outras e os movimentos dos seus corpos fazem um barulho cortante no ar. Uma decisão minha, é claro, e uma decisão que nem todos os grandes diretores do cinema mundial precisariam necessariamente seguir. Aliás, em se tratando de filmes sobre pessoas com unfinished business, talvez nem fosse a mais apropriada decisão. Unfinished business a serem resolvidos com inimigos do passado, que é o tema central algumas vezes repetido nesse filme, talvez seja uma circunstância mais bem desenvolvida com uma espécie de parcimônia; principalmente, eu acho, se você passou alguns anos em coma antes de ter a chance de rastrear pelo mundo as pessoas que invadiram o ensaio do seu casamento e metralharam quem quer que estivesse no local. Quer dizer, a ira e o desejo de vingança não reclamam sempre pessoas sobressaltadas que saiam pulando e esmurrando o adversário na primeira chance. É possível, nesse ponto, haver-se com uma razoável dose de comedimento oriental. A ira e o desejo de vingança meio que podem se acumular progressivamente nas veias da pessoa, mais e mais, sempre mais, até o limite humano da força, tudo isso enquanto a pessoa mesma está lá, paradinha, só apontando os seus dedos na direção do inimigo, na posição simuladora de algum animal encontradiço nas florestas asiáticas.

Mas saio dessas pequenas críticas para bajular. Os personagens secundários que mais me agradaram, o tipo de personagem do qual você se esquece completamente depois que viu o filme pela primeira vez e que só entrará nas suas memórias quando você consegue assistir novamente, foram o do xerife e do seu filho nº 1. São os mesmos, eu acho, que aparecem no Death Proof, o que qualquer conhecedor mais profundo da obra do diretor poderia confirmar. Eles são bons, de qualquer maneira, a ponto de merecerem a dupla aparição. Eu fiquei com vontade de me mudar para o Texas só para ver se eu consigo aprender a cuspir com aquela displicência genuína, rústica e técnica.

Notei um besteirinha engraçada na cena em que a Beatrix dizima a gangue dos 88 Loucos. Dificilmente terá sido um erro de direção ou algo que não seja a mais elementar referência aos clássicos de kung fu que inspiraram o Tarantino. O que eu notei, em todo caso, é que um sujeito, supostamente atingido por uma espadada da Beatrix, se bate de dor numa forma bem curiosa. Logo depois que a Beatrix mata um chefão (o chefão que cai numa piscina toda cheia de sangue), de cima do parapeito ela exorta aqueles que ainda estão vivos a saírem do recinto, deixando para trás somente a vergonha da sua derrota e os membros que por casualidade lhe tivessem sido decepados. Segundo todos os conhecidos preceitos de direito natural, sugere ela, esses membros agora lhe pertenciam, na qualidade de guerreira. Voltando ao assunto, um desses soldados sobreviventes, um dos poucos de pé, fica cambaleando às tontas, com as mãos na cabeça. Menos como alguém condoído que sobreviveu a um combate extenuante, o sujeito fica lá, encenando uma pequena brincadeira de cabra cega, sozinho, dando uns chutinhos na cadeira. Dir-se-ia que estava completa e inimputavelmente bêbado, se um pequeno tipo de riso quase imperceptível não estivesse saindo da sua boca e denunciasse que ele não estava fora de controle...

Uso até de reticências para mostrar como achei a coisa estranha e uso até da expressão "eu perguntaria isso numa entrevista" para mostrar como eu fiquei com vontade de perguntar isso numa entrevista. Acho que não aconteceu por acaso ou por má assessoria do diretor em artes marciais. Isso tudo parece ter um sentido próprio. Terá sido esse, eu perguntaria na entrevista, o momento da grande crítica do diretor às nações pusilânimes e acovardadas, que se furtam a entrar nos combates que realmente importam ser combatidos e que, quando confrontadas por seus inimigos, mal percebem de onde estão vindo os ataques? Aos povos que se curvam perante aqueles contra quem deveriam pegar em armas, e que, sob ataque, não reagem senão com uns patéticos golpes no ar, que nada acertam e que em nada debilitam o agressor? Ora, não terminarei eu um post com uma pergunta?

sábado, 20 de novembro de 2010

The usual suspects - Bryan Singer


Eu fiquei pensando na denúncia de que o banditismo tem sido romantizado por uma classe artística corrompida, ou mesmo francamente comprometida com uma certa forma de organização da sociedade que mais ou menos pretende destruir tudo de bom que os pais dos pais dos pais dos pais dos nossos pais quiseram construir neste nosso canto do planeta. Os fatos para os quais se chama atenção, nesse caso, e cujas consequências se vão fazendo sentir no Brasil com uma larga degeneração tanto da sociedade como da arte que lhe devia servir de inspiração, são graves. São muito graves, por natural.

Eu acho ok, no entanto, quando o banditismo que se deseja romantizar não é aquele truculento e chão, e, sim, um banditismo sutil e elevado. Eu acho ok, em matéria de cinema, por exemplo, quando a justificativa para o crime não é a suposta necessidade de dar leite para os filhos ou perturbar a ordem injusta estabelecida pelos ricos, e o sujeito vai e se põe a delinquir por pura malignidade e ganância. Bandido bom, em ficção, não é bandido morto. Bandido bom, em ficção, é bandido bem nascido, ou que pelo menos seja um arrivista com um mínimo de polidez e bons tratos e pelo qual não se consiga, em momento algum, sentir pena.

Tipo Keyser Söze.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Direktøren for det hele - Lars von Trier


Dá até vontade de usar aquelas sequencias verborrágicas de advérbios e adjetivos que costumam ser retiradas das críticas dos jornais direto para as capas de dvd. Com adaptações da linguagem do jornalismo para aquela da blogosfera, é claro. "Meticulosamente irônico, ocasionalmente lobotômico, triunfalmente maneiro". E O Grande Chefe é tudo isso, é tudo isso. O crítico poderia ter escrito assim: "Saí de casa, assisti a um filme meticulosamente irônico, ocasionalmente lobotômico, triunfalmente maneiro, e depois decidi me jogar do oitavo andar porque crianças morriam em Guiné Bissau por falta de água pótavel enquanto eu, usina de pedantismo neste canavial de brutos que é o Brasil, ficava me distraindo com uma comédia dinamarquesa sobre o mundo corporativo. Não mereço a dádiva da vida, assim como você, leitor, é um insulto à criação." O crítico poderia ter escrito aquilo, eu dizia, que nenhuma injustiça estaria sendo cometida se a pessoa responsável por fazer a capa do dvd resolvesse citá-lo apenas na parte do "meticulosamente irônico, ocasionalmente lobotômico, triunfalmente maneiro".

Numa nota mais boba, eu disse mais boba, eu não irei apagar esse filme da memória da SKY. Por enquanto ele vai entrar para a galeria seleta dos indeléveis em que hoje ainda figuram Gotcha, uma Arma do Barulho, Laranja Mecânica, Taxi Driver e O Exterminador do Futuro 2. A lista, eu adianto, tem mais a ver com filmes que eu por acaso vi passarem na televisão e que eu por acaso tive a ideia de gravar, e menos com filmes que eu considere os esplendores do cinema. Não são os filmes dos quais eu mais gosto, mas certamente são filmes que se eu, de uma hora para a outra, sentir um ímpeto enorme de assistir, é bom saber que eu não vou ter que correr a uma locadora ou então ao isohunt. Além do mais, a memória da SKY ainda está com 59% da sua capacidade livre; é um desperdício apagá-los.

Voltando ao filme, uma das coisas mais legais que eu achei na história é como o personagem maluco do ator que é contratado para se fingir presidente da empresa complementa, de um jeito muito natural e bem elaborado, os desvios de personalidade do próprio presidente da empresa que o contratou para aquele serviço. Os nomes, para esclarecer, são Ravn e Kristoffer, quer dizer, Kristoffer e Ravn. Kristoffer é o ator que enxerga na sua atuação, escassa e desbotada o quanto ela pudesse ter sido no passado, um sentido grandioso e profundo a que o seu talento infelizmente não consegue corresponder. Culpa, dentre outros, das suas pausas incompreensíveis no discurso, da sua total falta de expressão facial e da circunstância incômoda dele usar todo dia a mesma roupa. O simples trabalho de comparecer a uma reunião, dizer que ele estava feliz de estar ali e assinar um contrato, Kristoffer consegue transformar numa escalada culminando no desastre pessoal e na calamidade empresarial, não sem antes enfrentar a avalanche de um casamento prometido a uma mulher cujo nome ele ignora.

Mas as coisas não acontecem como se Kristoffer fosse o único doente mental da história. Ravn não fica atrás como um confirmado estróina. O que ele fez, vejam, foi contratar um ator para se passar pelo presidente da empresa que ele próprio fundou e da qual ele próprio era o presidente. Ele fez isso, vejam, para evitar os tormentos insuportáveis no mundo hodierno de um empresário se responsabilizar, perante seus empregados, pelas decisões que ele toma na condução negocial da internacionalização do seu eficiente produto de TI, o Brooker 5. O personagem é o de um louco, e é divertido vê-lo se encontrando com Kristoffer, em territórios neutros, fora da empresa, para confabular sobre como o ato de fingimento poderia ser desempenhado com sucesso e para compartilhar solidariedade quando inevitavelmente as coisas colapsam.

sábado, 13 de novembro de 2010

Take the money and run - Woody Allen


Algumas cenas deste filme me fizeram pensar que a qualquer momento o Woody Allen iria se colocar em frente a um armário, experimentar um monte de roupas engraçadinhas, fazendo pose e tudo, enquanto ao fundo uma música divertida era executada. O tipo de coisa, eu quero dizer, que se pode ver nos filmes antigos do Rob Schneider. Só faltou mesmo ficar experimentando os diferentes figurinos, porque fazer as poses cômicas, ao som de uma trilha sonora abertamente feliz, isso o Woody Allen fez. Nada disso, é claro, me irritou de uma maneira séria, embora tenha me perturbado um pouco, no que a dúvida sobre quando é que esta funesta tradição começou ficava indo e vindo na minha cabeça. Quando é, afinal, que mostrar a pessoa experimentando diferentes peças de roupas foi pela primeira vez considerado um recurso humorístico aceitável; e por que, desde então, repeti-lo não é considerado um atroz desrespeito com as pessoas que querem genuinamente rir com uma história? São questões para as quais eu ainda procuro uma resposta e que se eu me deparasse com uma monografia inteira dedicada ao tema, provavelmente eu pararia para conferir pelo menos o resumo.

Como hoje em dia Woody Allen só faz filmes com a fotografia resplandescente, fresca, e com roteiros lineares que no máximo permitem umas poucas observações de um narrador logo no início, na época desse filme ele também só fazia filmes com a fotografia opaca, envelhecida, e com enredos integralmente conduzidos por um narrador que vai do começo ao fim expondo os personagens com pretensões de descrição científica. TTMR não é diferente. Até entrevistas dos personagens e com pessoas que conheciam os personagens você vai encontrar. Talvez uma monografia que identificasse o nascimento do gênero fosse também uma leitura interessante (colho o seguinte resumo e não para a minha surpresa eu encontro a referência deste filme).


Kika - Pedro Almodóvar


Deixei passar um tempo muito grande desde o dia em que eu assisti a este filme para que este post pudesse se tornar qualquer coisa que não um mero registro. Faz aí uma semana ou um pouco mais que tudo aconteceu, e ao contrário do que se poderia esperar de uma obra de arte atemporal como é qualquer coisa que venha das mãos de Pedro Almodóvar, vejo-me na delicada circunstância de dizer que eu não me lembro muito da história. Escrevo isso sorumbático, ciente de que Caetano Veloso deve me achar um filisteu incurável.

O que está na claro na minha lembrança é que eu ri bastante e que nesse filme aconteceu o excepcional fato de eu notar, logo no início, um detalhe crucial mais tarde levado a uma posição de destaque no enredo. Mas eu não faço ideia de qual detalhe foi esse. Apenas me informaram, eu acho, que eu estava certo em achar estranhas umas cordas que apareciam em algum lugar. Só disso é que eu me lembro.

Olhando com atenção para esta foto aí em cima, no entanto, me recordo um pouco das duas primeiras personagens, à esquerda. A primeira delas é a apresentadora de um programa de televisão desmiolado, uma espécie de Aqui e Agora com elementos de Zorra Total. Ela relata tenebrosidades policiais que chocam a população espanhola, mas acalenta o público com a visão constante dos seus seios, por entre buracos nas suas roupas de couro. Quando ela não está apresentando o programa, ela anda com uma câmera pregada num capacete. A outra é a empregada da personagem principal. Ela é uma pouco recatada lésbica que não refreia seus desejos nem mesmo para a sua empregadora, e que aliás serviçalmente obsequia a patroa com investidas despudoradas enquanto casualmente a ajuda a cortar legumes.

domingo, 7 de novembro de 2010

Stealing Beauty - Bernardo Bertolucci

Stealing Beauty Poster

Assistir a este filme foi quase um dos momentos mais elegantes que eu, na minha (aliás) improfícua carreira de mestre das questões de informática, poderia produzir em matéria de adaptação e aproveitamento de tecnologias. Teria sido, eu posso dizer, ao mesmo tempo simples e engenhosa a solução que eu tentei improvisar no cenário de escassez material em que eu me encontrava. Quase que deu certo. Passo a passo eu fui superando os obstáculos que se me apresentavam, passo a passo eu fui me aproximando de uma vitória apoteótica. Cheguei a acreditar e cheguei a fazer acreditar. Mas o final, isto é, o ocaso final terminativo que encerrou a minha longa empreitada com uma nota de fracasso foi causado pelo imponderável. Foi causado por algo que talvez eu pudesse antever, mas que aparentemente eu nada poderia fazer para evitar.

O desafio às minhas poucas luzes era executar um dvd, só que sem um aparelho de dvd. O que eu tinha em mãos era o disco e uma televisão com entrada USB. O que eu não tinha, desafortunadamente, era um cabo USB de duas pontas que eu pudesse usar para ligar este meu mac à televisão. O único jeito de assistir ao filme na televisão em vez de no computador, que foi o que eu acabei fazendo, era recorrer aos outros perif'éricos. Eu tinha um iphone e um ipod e nada mais. O primeiro é o que eu uso na itunes que eu tenho neste computador, o outro, numa itunes totalmente separada que eu mantenho num outro computador, distante quilômetros.

Meu humilde plano tinha três etapas e foi o seguinte. Inserindo o disco no mac, transformar e depois adicionar o arquivo de vídeo à itunes. Inserindo o iphone no mac, sincronizar o conteúdo. Inserindo, por fim, o iphone na televisão, rir, me chocar e talvez refletir um segundo sobre os estrambólicos personagens do filme. Infelizmente a minha escolha tinha que ser pelo iphone e foi isso que causou o meu desconsolo. As duas primeiras etapas do plano que eu imaginei, como eu disse, foram realizadas com sucesso. Na última, porém, veio o triste conhecimento de que, bastante imponderavelmente, o iphone é um dispositivo USB que a televisão da LG não aceita. E então nada mais foi tentado. Me dei por vencido e fui ver o filme pelo próprio computador.

Eu gostaria, aqui, de me defender daqueles que com pressa poderiam me acusar de mau escolhedor, no que diz respeito à opção do iphone no lugar do ipod. O ipod, eu sabia e depois confirmei, é um dispositivo usb que funciona maravilhosamente bem nas televisões da LG. O meu problema em transferir o filme para o ipod nunca esteve no ipod, mas na itunes, e eu lhes digo o porquê.

Há alguns meses, eu atualizei a versão da itunes em que eu deixo as músicas que eu escuto no meu ipod. Acho que para a versão 9.0, se eu me lembro bem. Essa simples atualização, em todo caso, foi o que bastou para gerar um erro irreparável no ipod e me transtornar a vida por alguns dias. Depois que eu baixei lá a nova versão, o aparelho entrou no que muito apropriadamente poderia ser chamado de espiral do silêncio, uma pane do aplicativo provocando a falência de todas as funções do ipod e basicamente fazendo de mim um entusiasmado, porém sofrivelmente fracassado, exegeta das escrituras disponibilizadas nos foruns da apple do mundo inteiro. Nenhuma das soluções propugnadas nesses foruns resolveu o meu problema. Nenhuma. Versões as mais elaboradas de ligar e desligar, com entradas sendo colocadas em saídas diferentes, saídas recebendo fios advindos de entradas alheias, up-grades e down-grades de praticamente tudo que veio depois do DOS. Nada disso adiantou. O erro desconhecido continuava a inutilizar completamente o aparelho. Eu cheguei a postar sobre isso aqui? Já não sei. O que sei é que a garantia da apple é que me salvou -- e se eu não fosse salvo nesta última instância da esperança humana, nada mais me teria resgatado.

Defendo-me que evitar o risco com a transferência do vídeo desse filme para o meu ipod, numa itunes que está numa versão diferente daquela que eu uso neste computador aqui, isso é o que eu cautelosamente queria fazer.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Gran Torino - Clint Eastwood




Quando este filme estava passando no cinema, isso há uns dois anos, imagino, uma amiga me falou que ela tinha visto e que tinha gostado. Recomendou que eu visse, não muito efusivamente. Disse apenas que era legal, eu acho. Uns outros dois ou três filmes que tinham parecido bons a ela estavam numa pequena lista despretensiosa e, junto deles, Gran Torino acabou não ganhando o destaque eu eu acho que ele deveria ter. Porque pela lacônica descrição que ela tinha me apresentado - "um filme" - eu não poderia supor uma circunstância, a de que na verdade se tratava não apenas de um filme, mas de várias histórias consagradas nos anais do cinema. Um cuidadoso ato de sincretismo cinematográfico, isto é que é este filme.

Vamos começar pelo mais óbvio de todos os filmes que formam o conglomerado Gran Torino: Karate Kid. Uma rápida pesquisa no Google com os dois nomes mostra bem como é absolutamente geral e multipartidária a impressão de que os dois filmes são os mesmos. É só olhar. Você tem as gangues, o fetiche pueril pelo carro, toda aquela história de tornar um menino um homem por meio do contato, ainda que apenas tangencial em Gran Torino, com a arte da luta física. Tudo que fez Karate Kid ser o sucesso que ele ainda é, tudo está em Gran Torino. Você tem até cenas explícitas de um garoto pintando uma parede por força de um contrato moral com um homem velho demais para serviços manuais, o que apenas mostra como é profunda a admiração que Clint Eastwood nutre por aquele grande clássico e reformador da juventude.

Numa perspectiva mais branda, Clint Eastwood interpreta o Mr. Wilson.

Em se tratando de aparições de Clint Eastwood, é claro, qualquer filme é no máximo um prolongamento das histórias do Homem Sem Nome. Gran Torino não é nenhuma exceção a essa regra. Simbólico ou simplesmente pantomímico, o ato de sacar um arma ou fingir que está sacando uma arma é um elemento constante ao longo de toda a história. E sempre ele é feito com aquela expressão facial que caracteriza o grande imitador de Clint Eastwood que o próprio Clint Eastwood é. Dá-se-lhe um cigarro; fá-lo cuspir no chão; e subitamente, sem maiores esforços, se tem Clint Eastwood mais uma vez protagonizando uma grande cena do melhor estilo faroeste. Realmente, não importa que os bandidos com os quais ele esteja em contenda não sejam aqueles usuais foragidos mexicanos, mas, notem, homeboys com camisetas da Nike.

[Certa estupidez na hora de salvar o post me fez perder a continuação. Fez o mundo perder a continuação, para ser mais exato. Era genial. Eu tinha apontado elaboradamente como Gran Torino era, no fundo, Dança com Lobos. Como era, também, Um Príncipe em Nova Iorque e Juno.]
 
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