sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Radio Days - Woody Allen



Cheio de cenas com várias pessoas falando ao mesmo tempo, normalmente discutindo recreativamente sobre uma ninharia insignificante. Várias ninharias insignificantes, aliás, cada uma apenas incidentalmente relacionada com as outras que estão sendo discutidas pelas pessoas sentadas ao lado. De alguma forma, no entanto, isso não é retratado da maneira grotesca e irritante com que acontece na vida real. Na minha opinião, conseguir esse resultado é uma das habilidades mais notáveis e meritórias do Woody Allen.

Quem sabe um dia alguém das gerações mais novas poderá fazer um filme sobre como uma trilha sonora em particular influenciou a sua vida e sobre como memórias bastante caras lhe são reavivadas a cada vez que ouve novamente uma velha canção. A oportunidade para que isso aconteça, naturalmente, é muito maior hoje em dia do que era na época em que se escutava música só quando se estava em casa. E olha que os dias do rádio ainda eram bem mais prolíficos, nesse ponto, do que, digamos, tudo que aconteceu na Terra antes do rádio ser inventado. Alguma dúvida, por exemplo, de que eu já ouvi o Liebestod no meu celular muito mais do que o número de vezes em que ele foi executado durante a vida inteira de Wagner?

Ao contrário do que usualmente acontece em outros filmes, quando ele fica de narrador só bem no início e depois parece se esquecer por completo da idéia, aqui o W.A segue até o final com o mesmo padrão: descrevendo com um ou outro eufemismo delicado uma cena que a imagem mostra ser precisamente... merecedora de um eufemismo delicado.

Termino elogiando o Seth Green no papel do infante Allen. É legal quando o pai dele fica indignado e começa a dar tapas nele, perguntando por que ele não poderia ser um gênio.

30 Rock - Do-over


Primeiro episódio da terceira temporada. Simpático o suficiente para que eu não pare de acompanhar a série justo a partir de agora. Coincidência o fato da história mostrar a Lemon tentando adotar uma criança, coisa que também aconteceu no episódio de House dessa semana, com a Cuddy. A diferença é que, no caso da Cuddy, o House um pouco facilmente demais detectou que ela no fundo estava com medo de levar a adoção a sério - e por isso ele ficou utilizando formas de psicologia para atrapalhar -, ao passo que, com a Lemon, o pessoal do trabalho ficou atrapalhando simplesmente sendo os asnos que de ordinário eles são.

Não dá para comparar, infelizmente, a presença do Seinfeld no primeiro episódio da segunda temporada, por breve que ela tenha sido, com a comparativamente vápida Megan Mullally, no papel da avaliadora da agência de adoção. O que dá para fazer é parar e pensar no que o Jack (Alec Baldwin) diz para a Lemon no final, sobre não nos arrependermos de seguir o semi-virtuous path. Talvez já seja mesmo alguma coisa, afinal.

The last lack all conviction

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Sour grapes - Larry David


Escrito e dirigido por Larry David - um filme dificilmente poderia ter credenciais melhores do que essas, poderia? Leio umas críticas bastante desfavoráveis na internet, mas atribuo a insatisfação desse povo mais a uma decepção pelo fato do filme não ser um novo Seinfeld do que a uma inconsistência artística mais propriamente considerada.

A história se parece muito com um episódio de Curb Your Enthusiasm, na parte em que se aproveita de uma pequena trivialidade para em torno dela criar uma série de obsessões frívolas. O caso é o desses dois primos que vão passar um final de semana em Atlantic City, um deles ganhando um prêmio numa máquina de caça-níqueis com as moedinhas fornecidas pelo outro.

É difícil dizer qual dos dois tipos melhor representa o próprio Larry -- um, o dono de um espírito mais leve e de uma bonomia mais visível, subitamente agraciado pela sorte; outro, um sujeito mais complexado, vítima de um grande azar, que sempre poderá se queixar de alguma coisa para a qual as outras pessoas não estão dando muita bola.

Gostei de todos os personagens do filme. Da mãe exageradamente preocupada com todas as minúcias da vida do filho. Da namorada muito brava e crítica, ocasionalmente também muito conscienciosa. Do chefe original nas suas manias -- talvez o diálogo mais característico do tipo de humor do Larry David, não à toa interpretado por aquele sujeito que fez o papel do fiscal da biblioteca num episódio do Seinfeld. Da secretária impaciente. Do ator estúpido, protagonista de uma série chamada Guys and Gals, o insulto que Larry David houve por bem fazer a Friends. Do mendigo aproveitador. O próprio Larry David aparece, o que é sempre legal.

A trilha sonora também merece destaque. Tem Dean Martin, Beethoven, Mozart, Bach, a turma toda.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

No Municipal

Algo que encontrei no DVD antigo.

***

Estive na reabertura da temporada do Theatro Municipal deste ano. Foi em meados de março, com a apresentação do oratório de Beethoven, Cristo no Monte das Oliveiras. Eu poderia parar por aqui. Continuo apenas para registrar uma impressão não exatamente elegante como todas as que eu guardo daquela noite, mas no fundo bastante recreativa. Na meia hora que antecedeu a apresentação eu rapidamente conheci o senhor sentado ao meu lado e conversei com ele. Tive, ainda, a chance de o ver conversando com outras pessoas e pude perceber, de um ponto de vista puramente estatístico, o quão extraordinário era esse senhor.


Não me lembro do nome dele; possivelmente sequer nos apresentamos. Sentou-se ao meu lado no Balcão Nobre. Era um senhor de aspecto mirrado, macilento. Sugeria, como de fato era, o tipo perfeito e acabado de um ex-funcionário de Banco, mas nem por isso era uma completa nulidade como pessoa. Tinha uma engraçada, um pouco acerba, impaciência com as pessoas.


A sua existência, segundo me narrou, seguira um curso muito tranqüilo, como se não houvesse outro jeito de começar e se desenvolver. Notei uma placidez de vontade, se é que essa expressão faz algum sentido. Acho que não faz. O que quer que eu tenha notado, de todo jeito, se manifestou com maior força no modo como ele me informou sobre uma série de circunstâncias da sua vida. Foi com muita naturalidade, e expondo os fatos sem ordem alguma, aleatoriamente, emendando a um assunto outros que nada tinham a ver, como o aniversário de sua neta à discussão sobre a hora certa de se bater palmas num concerto.


Eu juntei mais ou menos estes dados. Passara toda a vida trabalhando numa mesma agência do centro da cidade, onde hoje funciona uma loja de telefonia celular. Desempenhara seu ofício com alguma dedicação e quase nenhum talento. Vagarosas e inevitáveis promoções o haviam levado ao cargo de sub-gerente, função em que alguém do sindicato o convencera a se aposentar mediante um benéfico acordo. O piano que possuía fora comprado à época, com o dinheiro que recebeu por ocasião do ajuste. Ele me disse que aquilo era um grande sonho.


A conversa desceu a detalhes de sua criação com seu pai, viúvo boticário. Por causa dessa condição, praticamente não teve convivência familiar; seus gostos assim como suas maneiras foram sendo adquiridos ao acaso. Foi assim com a música, por exemplo. Um membro da Banda da Polícia lhe ensinou as primeiras lições dos instrumentos de sopro e um pouco sobre pratos. Aprendeu e tomou gosto. Experimentou, também, o canto; largou-o quando constatou que só era capaz de executar músicas populares e que o repertório clássico estava muito além de suas aptidões. Foi, então, aprender a ler partituras, sozinho; mais tarde, quando se mudou de uma cidade do interior de Minas Gerais para Rio de Janeiro, chegou a se matricular num Conservatório. Finalmente, pensou, poderia aprender a tocar o nobre piano. A escolha, naturalmente, era a mais concorrida, precisava se submeter, inclusive, a uma prova. Como se preparar e conseguir passar, se até ali ele mal tinha encostado num piano? Sua única chance era se esforçar para exibir tudo que sabia de teoria musical, e simular umas e outras passagens de dedo. Simulou até que bem, achava, pois acabou passando.


Uma vez matriculado, no entanto, o problema da falta de piano permaneceu um inconveniente. Foi levando com a barriga, com toda sorte de reprimendas do professor, um homem que havia se casado três vezes; até que, depois de algumas semanas, arranjou um teclado para praticar as lições: um teclado, entretanto, absolutamente defeituoso.


Aos poucos, foi desistindo. Na cabeça ele tocava muito bem todas as músicas, e era um excelente assobiador, só as mãos é que não tinham qualquer técnica. Talvez tivesse até se saído melhor se possuísse um piano; mas a vida se encarregou de afastá-lo do sonho. "Me deram um trabalho de escrever no banco; escrevia à mão mesmo. E tinha que ser rápido. Você faz idéia do que é registrar todas as saídas e entradas de dinheiro de um Banco? Em três vias? Minha mão ficava doendo e eu chegava em casa e colocava compressa de água quente. Ia tocar piano?"


Tinha seus setenta e poucos anos, perceptíveis na pele enrugada e cheia de pequenas e coloridas bolotas, na saliência de veias levemente esverdeadas nas mãos, nos dentes amarelados, na camisa de botão colocada para dentro da calça caqui. A calvície já lhe levara todos os fios de cabelo localizados acima da linha das orelhas; os que sobraram eram artificial e grotescamente tingidos de preto. De todo o corpo exalava odor característico da idade, em geral fraco, mas um tanto incômodo na modalidade específica de mau hálito – em alguns momentos, eu prendia a respiração para evitar o péssimo cheiro. Sorte que ele costumava falar quase sempre olhando para as direções, indiferente ao fato de eu estar, sem me mover, à sua esquerda.


Eu tinha lá comigo uma impressão do libretto, que encontrei no Google e imprimi. Começamos a conversa criticando-o, coisa que o próprio Beethoven havia feito. Nele, Jesus canta feito um personagem qualquer, o que se reconheceu não ficar bem; Nosso Senhor tinha saído muito humano e pouco Senhor. Além disso, a letra, composta por Franz Xaver Huber, acho que com assistência do próprio Beethoven, é de espantosa pobreza poética, quase cretina e certamente enfadonha – a ponto de terem desejado reescrevê-la totalmente. Beethoven, que lamentava o texto e concordava com as críticas, acabou por não mexer com reescrita – dizia que a música tinha sido feita para aquelas exatas palavras e que alterá-las seria pior. Parece, também, que eles estavam com um calendário apertado.


Eu disse a ele que eu tinha estudado música quando pequeno e que chegara a tocar piano decentemente. Disso e das delícias usuais de se saber música, tornamos a Beethoven. Que gravações da Nona conhecíamos? As sonatas, o concerto do Imperador, o Minha Amada Imortal. Chegamos a Wagner, que foi onde eu parei. Ele ainda foi ao balé, aos tempos em que para entrar no teatro só com terno e gravata; fez um vôo horizontal, razoavelmente informativo, sobre a programação especial em homenagem a Mozart, as apresentações gratuitas da orquestra da Petrobrás®...


Conversávamos fluentemente, ele com total desembaraço, eu mais ouvindo, quando alguém da orquestra soltou uma nota mais longa, que sobressaiu entre as demais. Ainda não era o concerto. Os músicos só estavam brincando com os instrumentos. Esse ruído não foi acompanhado por nenhuma classe de agitação ou burburinho que indicasse qualquer coisa, todavia bastou para que uma senhora que estava na fileira debaixo da gente pensasse que o concerto estava começando – e ela falou ao senhor, com jeito educado, mas tratando-o como se fosse uma criança, se ele podia "ficar quietinho".


"Ficar quietinho? Pra quê?", respondeu irônico, "Eu vou falar! Tô conversando aqui, ora" completou como constatando um teorema matemático "Preciso falar!".


Eu já ia rindo do velhinho, no meu canto. Lembrei-me na hora de uma cena em que o George fica babando o ovo da Elaine "You´re the master of confrontation". Pois ele em nada ficava devendo à mulher que chegou a invadir o trabalho de uma pessoa só para mandá-la parar de falar sobre seus sapatos comprados, oh, na Botticelli! Eu já tinha achado o sujeito um espécime interessante; sua reação ao pito que lhe passara a mulher confirmava que ele era, ainda, notavelmente despeitado. Admirei.


Não se intimidando, dessa vez mais séria e talvez até rude, a mulher então disse "Tá começando, tá começando!" Fez com o dedo na boca "Shzzz", e voltou-se para o palco, dando o assunto por encerrado. Bom, na hora não atinei com o execrável insulto que acabara de ser perpetrado contra a gente. Confesso que não me dei conta instantaneamente do ultraje. Ainda achando graça na cena, fui fazer alguma coisa com a mochila, disfarçando.


Não é o que faria o meu companheiro de palestra; sublevar-se-ia contra a rebarbativa mulher, já com uma impaciência que não se mostraria evidente num funcionário de banco aposentado. Além do quê, acho que em algum momento ele teve a chance de olhar bem no rosto da mulher e investigar certas intenções que a mim escaparam. Eu não tinha percebido nada de especial nela, mas ele certamente havia farejado algo sórdido. Pois ele reagiu qual um urso, um velho e experimentado urso, de funesto instinto.


Repoltreou-se na cadeira fazendo gestos negativos com a cabeça, gestos que em retrospectiva eu considero completamente emblemáticos. Encolheu o pescoço, os ombros, baixou a cabeça, tudo isso numa expressão revoltada. "Tá começando?" Imagino que aquela frase ofendia tudo que ele achava correto nesse mundo; era aviltante, errada; negava-a com todas de suas forças interiores, como se ela estivesse a lhe roer por dentro. O vigor contido extravasou, então, para a imagem e os contornos do seu corpo, que flamejava contorcido. Eu não sabia que ele tinha isso nele. "Tá começando! Shzzz!" Quanta insolência!


A mulher, nessa hora, já olhava para frente e não viu aquele homem a rosnar de ódio. Não fosse a estreiteza da fileira dos assentos, acho que ele teria avançado sobre ela. Mesmo com as dificuldades de movimento impostas pelo guarda-chuva que ele tinha sobre as pernas, ele deu umas cutucadas nela e bravejou: "Que começou o quê! Começou nada! Cadê o regente? Cadê o regente? O regente nem entrou ainda... Tá vendo ali? Cadê o regente?"


A advertência foi recebia pela mulher com atonia. Algumas pessoas chegaram a se virar para ver direito o que estava acontecendo, mas a escuridão que recobria os assentos não permitia que muita coisa fosse vista. Quanto a este ponto em particular, eu estava numa posição privilegiada porque eu via, num mesmo plano, a perplexidade da mulher e o ânimo do senhor. Era mesmo de se esperar que ela ficasse um pouco envergonhada. Mas eu tampouco sabia o que fazer. Fiquei quieto, me segurando para não rir escancaradamente. Foi mesmo muito divertido olhar para o palco, na direção em que ele apontava, e ver no lugar destacado um eloqüente vazio. "Cadê o regente?" Vi que ele me olhava e se ria, o que eu teria percebido, de todo jeito, com as pancadinhas que me dava; olhei e também ri. E então entre desdenhoso e gozador, disse finalmente para a mulher "Você sabe o regente?", e depois de uma breve pausa, aniquilou "o r-e-g-e-n-t-e?".


Nesse momento, a mulher se levantou e começou a bater palmas. Ela e todas as pessoas por perto; e finalmente, todas as pessoas do teatro fizeram o mesmo, com entusiasmo e emoção. Eram os membros do coro que entravam. Quero dizer que, para mim, a senhora se aproveitou um pouquinho da situação para ignorar o meu companheiro, que ainda repetia absorto "Não chegou ainda o regente! Eles estão batendo palma pra quem?". Irritado, contudo, por ver que suas palavras de zombaria não mais afetavam a mulher, ele se deteve. Com descaso esticou o pescoço e viu o pessoal do coro entrando. Eu permaneci imóvel, pensando que ele pudesse puxar a mulher pelo pescoço para avisar que o regente ainda não tinha aparecido. Vendo que ninguém já o olhava, aumentou o tom de voz, mas ficou dizendo para si: "Tsc, brasileiro não sabe nada mesmo! Bater palmas para o coro? Tá errado, tá errado! Tem que esperar o regente, ora! Brasileiro não sabe nada, antigamente não tinha disso...".


Meti-me com a minha mochila. Eu sei lá se o coro pode ou não receber uma salva de palmas? E dado que sim, não seriam as minhas, tão fraquinhas e apáticas, que fariam diferença. De toda forma, eu não queria me juntar aos outros, e o certo é que eu não faria nada à vista dele. Ambos ficamos sentados. "Tenho que ligar para a minha neta em Belo Horizonte, quinze anos!", disse ele.

domingo, 26 de outubro de 2008

Mestre dos Magos

Encontro várias coisas num DVD antigo que eu já dava por perdido. Aos poucos eu vou colocando tudo aqui.

Para começar, esta aparição do Mestre dos Magos na França. Não me lembro exatamente do ano -- acho que em 1991. Na primeira imagem, seu aspecto mais facilmente reconhecível.


Mas quem acha que ele é só um personagem de desenho, favor explicar isto:


I rest my case.

The Goodfellas - Martin Scorsese


Aqui, sim, eu declaro a minha preguiça em escrever qualquer coisa.

Gentlemen prefer blondes - Howard Hawks



Trainspotting - Danny Boyle


Simplesmente uma coisa: o apelido de um desses caras é Spud. Acho que é o primeiro da esquerda. A grande impressão que isso me causa é, uma, a de que ele é meio que um sujeito um pouco alto, ou pelo menos tão desajeitado como o Stephen Merchant; a outra, a de que embora não seja o líder da gangue, ele é meio que um membro confiável.

sábado, 25 de outubro de 2008

Eraserhead - David Lynch


Em termos de repulsa e estupor, um bebê mutante não se destacava tão gloriosamente no meu quadro de referências desde que eu vi pela primeira vez Inimigo Meu, ainda na escola, acho que na quinta série, numa aula de orientação vocacional. E olha que naquele filme a última classificação que se poderia dar ao bebê que nasce é a de mutante, já que ali ele é puramente fruto de um alienígena consigo mesmo -- a rigor, portanto, da mesmíssima espécie que o seu ascendente. De lá para cá, em todo caso, que eu me lembre agora, algumas coisas em Alien e n'A Experiência talvez me tenham suscitado pensamentos mais demorados sobre esse assunto. Nada que se compare a Eraserhead, posso dizer.

Meio como resultado de uma indução pavloviana, metodicamente trabalhada nos últimos anos, começo sempre a assistir aos filmes do David Lynch insistindo em me lembrar de que tudo ali é o sonho de alguém. O problema é não esquecer essa regra de ouro no meio do filme. Quer dizer, oportunidades para divagar perdidamente acerca do sentido das coisas que acontecem nos filmes dele não faltam, eu sei, mas em Eraserhead o fato do personagem explicitamente se deitar na cama antes das cenas mudarem completamente de padrão ajuda um pouco.

Foi desta maneira, atentando para os casos em que imediatamente antes da cena o sujeito estava deitado na cama e os casos em que imediatamente antes da cena ele não estava, foi assim que eu consegui estabelecer na minha cabeça uma distinção razoável entre o que estava acontecendo de verdade e o que não estava acontecendo de verdade. O que estava acontecendo de verdade me deixou mais encabulado, coisa que eu não sei se já aconteceu em muitos dos outros filmes dele.

Mas eu já deveria esperar pesada esdruxularia quando alguém disse, a respeito do recém-nascido, que eles ainda não sabiam se era um bebê. Não sabiam se era um bebê, prestem atenção. A dúvida não era se ficaria tudo bem com a saúde do bebê; a dúvida era se o que havia emergido do ventre da mulher era ou não uma criatura humana.

The Ricky Gervais Show - Series one


Para informações técnicas e dados históricos é só conferir aqui. Subsidiariamente, para os que gostam de checar informações diretamente na fonte original, o site é este aqui.

***

Tem sido imensamente divertido escutar as parvoíces dementes e incensuradas deste Karl Pilkington -- o tipo perfeitamente esférico da direita. Além disso, eu não conheço ninguém que tenha um sotaque mais parecido com o que eu acho que seja o sotaque galês. Logo na primeira transmissão ele ser absolutamente heteróclito é apresentado como motivo maior para a realização do programa. Ao longo dos doze episódios esse intuito vai se mostrando como algo plenamente justificado, pois aparentemente o que se apresenta aqui é uma das mentes mais confundidas do nosso século, eu diria psicótica em alguns detalhes, às vezes perspicaz numa matéria sobre a qual ninguém se deu o trabalho de pensar, às vezes refratária às mais comezinhas lições do bom senso, e, o que me parece mais incrível, geralmente muito espontânea em tudo aquilo que diz: ramblings of a madman, como diz o próprio Ricky.

O Ricky, aliás, de vez em quando tem uns acessos de vaidade e tenta monopolizar a atenção. Isso ele faz aumentando o tom da sua voz e repetindo inúmeras vezes que algo é "brilhante", técnicas as quais, é preciso reconhecer, normalmente conseguem atingir o seu objetivo cômico. No meio desses dois extremos, como não poderia deixar de ser, Stephen Merchant acaba sendo o mais legal.

Transcrevo eu mesmo uma passagem... pobremente. De resto uma que me faz lembrar exatamente a pessoa que eu fui e sou.

Stephen Merchant: I always wanted a nickname. I just thought it was quite cool for some reason, particularly because gangsters always seemed to have nicknames.

Ricky Gervais: Lefty.

S.M: Fingers... Lefty, yeah. Scarface. So I decided, I thought, 'cause no one was giving me a nickname at school, it was kind of annoying, or surely not to my face... I decided to just come up with one. And so, I remember it was at lunch once and I just said to my mate, Phil...

R.G: How old were you?

S.M: Huh, twelve, thirteen.

R.G: Brilliant.

S.M: I just said to him -- Phil, don't know if you know me, but people aren't calling me Steve anymore, everyone's calling me Spud now. Now I don't know why I thought Spud was a cool nickname...

R.G: It's a grown-up name, isn't it?

S.M: And it's also 'cause I think it sounded like... it was probably either something that you find in one of those kids, suppose the Famous Five, or The Bash Street Kids. I always imagined that Spud, he's not the leader of the gang, but he's a reliable member. (...) In my mind I would be one day part of a gang and it's -- I'm Pinky, this is Jojo and the tall guy is Spud. And no one started calling me [Spud]. (...) But I think, it kind of in a way pretty revealed I was just probably not in people's thoughts enough for the name to catch on.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Um teste

Faça o download da Sinfonia Inacabada de Schubert e, pelo menos, da abertura de Fidelio, de Beethoven. Execute as duas simultaneamente. Sugiro que se abra um arquivo no Winamp e o outro no Windows Media Player.

***

Todo mundo sabe que Schubert era um grande fã de Beethoven. Tem um filme em que ele aparece todo absorto e contrito e quieto, dedicadamente prestando atenção num concerto de piano do Beethoven. Seu estado contemplativo se acentua ao final do concerto; aumenta também a oposição a todo o resto da platéia, que fica batendo palmas. Depois os dois se encontram numa pracinha, o último já então um misantropo ensimesmado e enjeitador da sociedade. Esse filme também mostra Schubert disposto a fazer passeios na colina, se é disto que vocês duvidam.

Acho que as pessoas que conhecem bastante o assunto, inclusive, poderão que dizer é óbvio, a sinfonia de Schubert tem uma inspiração direta em Beethoven -- e que isso se mostra particularmente nas duas partiduras em questão. Eu não conheço a história a ponto de afirmar isso. Foi por acaso que eu deixei tocarem as duas obras ao mesmo tempo, coisa que eu já não diria do belo conjunto que elas duas parecem formar. Talvez uma tenha sido uma resposta sutil à outra, ou uma chave secreta, como aqueles mapas ancestrais que só fazem sentido quando sobrepostos. Terei sido o primeiro a perceber? Ah, eu queria ter em mãos as duas partituras originais e um escudeiro; realmente acho que com essas coisas seria impossível não entrar numa aventura investigativa.

Não sei, infelizmente, como fica a distribuição no microfone, se o meu fonezinho é capaz de suportar totalmente a emissão integral das duas músicas. Pode ser que não.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Uma platitude

Quando você caminha numa direção, você só repara em quem vai no sentido oposto.

domingo, 19 de outubro de 2008

Animal House - John Landis


Fraternidades que se rivalizam, uma organizada unicamente para promover o caos, a outra tendo como membros homens adultos que gastam tempo demais penteando o cabelo e dando nó nos casacos amarrados sobre os ombros. Dois calouros bisonhos vagamente preocupados com a vida acadêmica. Algumas garotas orbitando. Um reitor querendo fazer uma diáspora dos maus alunos. Não é difícil somar essas coisas e escolher um jeito de apresentá-las com um início, um meio e um fim, é?

Some like it hot - Billy Wilder


O próprio Tony Curtis sustenta que na época em que esse filme foi gravado Marilyn Monroe já estava inaugurando o que seria um ocaso decadente. Ele deve saber do que está falando.

Mas eu não tenho nada a reclamar. O filme diverte do início ao fim. Para começar, é em preto-e-branco; boa música; diálogos que marcham incondicionalmente para a futilidade; perseguições pelas escadas do hotel em imagens aceleradas, quase sempre terminando em trombadas épicas.

Eu acho legal, nos filmes antigos, quando um personagem se refere ao jazz como sendo esse tipo novo de música muito agitada. Acho que é um dos milionários de férias num hotel da Flórida que diz isso, ou mais ou menos isso, logo ao ver a banda chegando. Nada como o relato das pessoas que observam uma manifestação artística qualquer de fora, mas no tempo mesmo em que ela está acontecendo.

sábado, 18 de outubro de 2008

Scrooged - Richard Donner


Ainda da época em que ele era fundamentalmente espalhafatoso -- nessa foto, aliás, está parecendo um vampiro. Também um pouco irreconhecível, aquele sujeito mais boboca da Loucademia de Polícia faz o papel do cara que a cada vez que aparece, de cinco em cinco minutos, sofre uma infelicidade muito grande, um tipo de sinistro que seria indenizável por uma companhia de seguros contra a sacanagem universal [esse tipo de personagem é muito claro na minha cabeça, suas características muito bem delineadas até, mas não eu não saberia explicá-lo coerentemente].

Quando eles vão apresentar o programa no qual se contará uma história de Charles Dickens, colocam um sujeito velhinho instalado numa poltrona enorme, perto de uma lareira. Vestem-no um paletó acinzentado por cima de um colete. O livro que ele tem nas mãos é sempre daquela espécie de encadernação que, de tão bonita, muitas vezes valerá mais do que o conteúdo. Todas essas circunstâncias, pelo que me foi dado observar ao longo dos anos, devem ser obrigatórias em se tratando de programas de TV sobre ele.

O discurso final de redenção louva o espírito natalino e, é claro, é feito em um momento em que a redenção ainda é logicamente possível. Chega-se a dizer textualmente que nunca é tarde demais para que coisas maravilhosas aconteçam, milagres dependendo basicamente apenas da fé. Normalmente eu não teria objeções a esse postulado, até porque o meu credo pessoal, notoriamente radicalista, talvez consiga elevar ainda mais o grau desse otimismo desenfreado. Tenho problemas, no entanto, quando se pede que as pessoas manifestem essa fé não como o resultado de uma longa meditação reflexiva, mas apenas por estar todo mundo ao redor batendo palmas e balançando a cabeça. De todos os tipos de argumentos que tenho conhecido, a simples euforia alheia é o menos suscetível de me convencer de qualquer coisa. Mas quem quiser sanar a obscuridade disso que eu acabei de falar terá que ver o filme.

Harvey Birdman, Attorney at Law


Aparentemente, todas as minhas tentativas de estabelecer algum padrão nas coisas que eu posto aqui fracassam. Parte desse insucesso, estou descobrindo agora, é causada por equívocos que se acumulam desde a origem, no momento em que eu faço os downloads e não confiro se todos os arquivos estão em exata correspondência com o guia de episódios das séries. Foi o o que aconteceu com Harvey Birdman, de cuja terceira temporada, no arquivo que eu baixei, não constam os dois últimos episódios, Juror in Court e o profético The Death of Harvey. Logo, quebrando a tradição que eu quis convencer a mim mesmo que existia, falo de uma série sem ter assistido ao início ou final de temporada. Porque, quanto ao início, eu já havia assistido aos episódios há várias semanas, ao final eu ainda não tendo assistido pelo mencionado lapso de due diligence.

Essa é mais uma das séries do Adult Swim. Me foi recomendada especialmente, pelo que sou muito grato.

Gosto particularmente da extensão dos episódios. Sem intervalo, são mais ou menos uns 11 minutos. É uma duração suficientemente grande para permitir o oblívio da minha própria vida, e adequadamente pequena para ser assistida a qualquer hora do dia, sem uma drástica interrupção na minha rotina. Mesmo não tendo um vasto conhecimento de personagens de histórias em quadrinhos, sempre me divirto. Digo isso porque o enredo básico da série é a militância cotidiana de um antigo super-herói que vira advogado e que tem no seu portfólio infortunados personagens de desenhos.

O fundador do escritório onde Harvey trabalha, Phil Ken Sebben, tem uma risada que se eu pudesse aplicar eu seria uma pessoa completamente diferente. Detentor de um poder que não menos que a risada de Phil Ken Sebben mudaria completamente a pessoa que eu sou, o juiz Mentok, The Mind-Taker, é também um dos pontos fortes da série. Coloco um video para que se tenha uma idéia do tipo de comédia que se faz nesta série, um dos poucos momentos em que se usam imagens normais no desenho.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

South Park - Breast Cancer Show Ever


Não dá para fazer um post a cada episódio de série a que eu assistir. Daí eu ter criado o sistema de só mencionar alguma coisa no início e no fim da temporada. Tudo bem que não começou tecnicamente uma nova temporada de South Park. Mas eu acabei cometendo um erro na hora de baixar os episódios, em todo caso: o primeiro episódio dessa segunda metade da 12ª temporada se intitula The China Probrem, que pressagiosamente estou tendo alguns problemas para baixar.

Fique esta minha breve apresentação ao Breast Cancer Show Ever -- o segundo episódio dessa segunda metade -- como um merecido elogio. [Aqui eu descreveria a coisa toda como Three O'Clock High -- Te pego lá fora -- seria descrito na Sessão da Tarde]

Essa guria de roxo, a Wendy, por incrível que pareça, faz o papel de Buddy Revell. Ela recorrerá à violência para dar o seu recado. Na foto também aparece o personagem que faz o papel do Jerry. Um prêmio para quem advinhar quem é comparado a um tumor cancerígeno, maligno no limite mesmo da torpeza, e que depois de provocar uma briga que não está disposto a lutar, covardemente pede que sua mãe interceda junto aos pais da adversária, para tanto até colocando uma camisa de gola por baixo de um casaco de lã. (Nota: sempre que ele troca de roupa, alguma coisa série está acontecendo)

Antes disso, no entanto, Cartman jacta-se da surra que ele dará na Wendy. Com muito exagero, é claro. Fazendo lá umas coisas com a mão, ele diz coisas como "you wanna throw down, dawg?", "what's up?" e o arquicélebre, plurissignificativo, sempre engraçado e catártico "it's on!". Ainda antes de pedir ajuda à sua mãe, ele tenta escapar da briga ficando de castigo na própria escola. Para isso ele escolhe uma ação perturbadoramente adequada. Depois de executar o seu plano, diz a um perplexo Mr. Harrison, as mãos lá daquele jeito, "Crapped on your desk, dawg, what's up with that?".

Gostei da cena em que os EMO's chegam para Stan tentando convecê-lo de que deixar o Cartman brigar com a Wendy -- namorada do Stan -- seria culturalmente injustificável, segundo o código de honra não-EMO. "Yeah" diz um deles, concordando com o outro, "I don't ever remember AC/DC singing about letting dudes beat up on their girlfriends". A cena da briga, no fim, é a mesma de Snatch.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Whisky - Juan Pablo Rebella e Pablo Stoll


Eu deveria ter antecipado os 40 minutos gastos basicamente com desterros uruguaios, com donos de pequenas lojas de meias no Uruguai, com recatadas funcionárias uruguaias.

Duas cenas espetaculares, porém: uma em que eles aparecem com a cara mais aborrecida do mundo, contemplando pesarosamente uma menininha patinando sozinha numa pista; outra em que eles aparecem com a segunda cara mais aborrecida do mundo, contemplando pesarosamente uma menininha cantando num karaokê. Não reparei se é a mesma.

Mas até o irmão que se mudou para o Brasil, e que se deixou infectar um pouquinho pelo vírus que combate a apatia uruguaia, não resiste. Até ele deixa os ombros caírem debilmente, os olhos caírem debilmente, com todos os trejeitos ocasionados pelo absolutamente fastidioso. É a parte mais engraçada do filme, sem dúvida.

Pouquíssimas pessoas têm desenvolvido ao seu limite essa técnica. E por falar em desenvolver alguma técnica, peguei esse pôster deste blog.

domingo, 12 de outubro de 2008

The king of comedy - Martin Scorsese

Robert De Niro como um monomaníaco num filme de Martin Scorsese, com direito a falar sozinho, armas e tudo mais: não poderia dar errado. Se fizerem isso trezentas vezes, trezentas vezes o resultado será esplêndido.

***

Existe alguma coisa no barulho urbano de Nova Iorque dos anos 80 que só os filmes daquela época, gravados naquela cidade, têm.

Pearl Jam - Breath

The man who knew too much - Alfred Hitchcock (1956)


Não é a versão do livro do Chesterton, embora eu me lembre, eu acho, de alguém comentar que o Hitchcock tinha os direitos autorais sobre o título. Isso, eu acho, eu ouvi no material bônus do DVD. Não é, tampouco, a versão original do filme, que foi gravada em preto-e-branco, ainda nos anos 30, parece.

Como essas minhas referências estão muito vagas, aproveito que metade do post já foi desperdiçada para registrar uma outra coisa que me ocorreu ao assistir a esse filme.

Não faz muito tempo que eu li na Veja uma reportagem sobre alguma orquestra. Entre outras coisas, falou-se dos instrumentistas responsáveis pelos pratos, sobre como eles costumam ser sujeitos pitorescos, não raro grandemente caprichosos e temperamentais. A opinião elevadíssima que esses músicos costumam ter de si mesmos, dizia a reportagem, é explicada pelo papel fundamental que os pratos desempenham na obra, pelo surto dramático que o seu som provoca em quem está ouvindo, ainda que tocado uma única vez ao longo de toda a duração da sinfonia.

A trama deste filme gira basicamente em torno dessa fração de segundo na qual os pratos se encontram e um estrondo retumbante é produzido. E, até que isso aconteça, o músico fica bem confortavelmente instalado, bem sentadinho, só aguardando a hora de executar a sua única manobra. O que me faz pensar: a mesma razão que leva um menino mais ou menos inepto para o combate braçal a querer ser o piloto do helicóptero, que só chega no final para resgastar os soldados, inatingível pelos estilhaços, essa mesma razão irá levá-lo a querer ser a pessoa que toca os pratos.

sábado, 11 de outubro de 2008

A fish called Wanda - Charles Crichton e John Cleese

O primeiro de uma série de filmes que estou baixando ao critério de serem com o John Cleese. Esse é daquela época em que ele não apenas fazia papéis ligeiramente desimportantes de velhinhos ingleses numa comédia americana, como ultimamente ele vem fazendo -- muito provavelmente por ter se tornado, afinal, um velhinho inglês.

Mas este filme é dos final dos anos 80. Tem, portanto, aquela marca indelével de algumas cenas acelerarem as imagens, principalmente no caso de acidentes de carro. Pelo mesmo princípio vinculante, os créditos aparecem da forma como aparecem.

Especificamente sobre o conteúdo, e sobre o desempenho dos atores, minha opinião é a de que funcionava muito bem a espécie de joint venture que, nessa época, o Cleese fazia com o Michael Palin, a Jamie Lee Curtis e o Kevin Kline. Só lamento que os filmes mostrem tantos animais. Tem um que se passa até num zoológico.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Extras


Aceito, de Dia das Crianças, o box da segunda temporada.

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Quem diria, Ricky Gervais não é intrinsecamente o sujeito mais antipático da Terra. Eu ousaria até ir mais longe. Eu ousaria dizer que o sujeito tem habilidades artísticas suficientes até para interpretar um personagem que não produz uma repulsa psicológica contínua no espectador. Isso já é um grande avanço para mim, que nunca havia experimentado a sensação de não rejeitar imediatamente tudo que ele fazia como David Brent e também como aquele chefe do museu naquele filme com o Ben Stiller.

Mas aprendi esta lição assistindo à primeira temporada de Extras: dadas as circunstâncias adequadas -- por exemplo, fazer o papel de um ator fracassado que só arruma trabalho de figurante --, Ricky Gervais pode se tornar um tipo diferente daquele intratável pirraceiro do Office. Mais importantemente, se você não der a ele a oportunidade de monologar em frente à câmera pelo tempo que ele bem quiser, coisa que sabiamente não foi feita nessa nova* série, isso também contribuirá para que você consiga, em algum momento, se identificar com o bloke. Sugiro, para essa finalidade, prestar atenção numa hora em que ele fica em casa assistindo televisão; se você não se identificar com isso... bom, você não teria chegado a esta parte do post se você não se identificasse com isso.

* Nova... O negócio já está na praça há um bom tempo. Eu é que demorei para assistir.

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Descubro que ele tem um podcast chamado Ricky Gervais Show. Já baixei. Posto alguma coisa quando eu começar a escutar.

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A moça à esquerda se chama Ashley Jensen. Vejam só que excelente referência eu encontrei dela.
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O outro se chama Stephen Merchant. Faz o papel do agente do personagem do Ricky. Uma espécie de Gareth comicamente insolente. Nota: conferir tudo que esse cara já andou fazendo.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Candide - Voltaire


O pessoal desse site vai para o céu. Ou, na versão assustadora das coisas, vai para o lugar que seja o mais parecido com o melhor dos mundos possíveis.

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Reli a história encontrando tantas novidades que foi como se eu não conhecesse um só detalhe do enredo. Não tenho dúvidas de que acompanhar o texto com o som, coisa que da outra vez eu não tinha feito, fez toda a diferença. É impressionante, em todo caso, como a convicção de que o narrador está ejetando perdigotos implacavelmente chama a sua atenção para detalhes até então despercebidos.

domingo, 5 de outubro de 2008

Rope - Alfred Hitchcock


Para não falar que eu não coloquei nenhum defeito neste filme, o que iria contrariar enormemente a minha índole, menciono algo que me pareceu uma limitação técnica bastante curiosa. Falo das vezes em que as pessoas se deixaram atropelar pela câmera numa tentativa de esconder um pequeno tilt na filmagem. A intervalos mais ou menos de uns dez minutos, sem que isto fosse de qualquer maneira rigorosamente necessário para o desenrolar da cena, e mesmo para alguma afirmação de caráter estilístico, dá-se um jeito de algum personagem ficar bem próximo à câmera, de costas. E então se troca o rolo ou sei lá o quê, de modo que uma interrupção na seqüência da cena se torna ostensivamente visível.

Fora isso, nada a reparar. Os diálogos atingem um grau de excelência raramente visto, divertidos que são, muito bem construídos e sempre a propósito. Idealmente, todas as conversas deveriam ter um James Stewart, ou deveriam se parecer ao máximo com conversas das quais James Stewart fosse parte.

Destaco, mais um vez, o material bônus do DVD. O trailer chega a mostrar partes que nem estão no filme; chega a mostrar uma cena na qual o sujeito que é estrangulado logo nos primeiros segundos do filme está sentado tranqüilamente no parque, conversando com a noiva e tudo; chega a mostrar James Stewart - já então conhecedor do homicídio - afirmando que aquela tinha sido a última vez que viram o de cujus em público.

C'era una volta il West - Sergio Leone


De que outra coisa Charles Bronson poderia ser acusado, senão de fazer o papel de uma sereia? Estranho como isso possa parecer, nada poderia ser mais nítido. A única diferença é que a história não se passa no oceano, mas em pleno Velho Oeste; e que ele se faz notar aos que passam por perto tocando uma gaita, e não soltando uns gritinhos de criaturas lendárias do mar; e que a sua única vestimenta não é formada por escamas azuladas, consistindo apenas num tergal branco ridiculamente por cima de uma camiseta rosa, muito semelhante a algo que um cantor de lambada usaria.

Mas este filme já teria cumprido a sua missão se ele não passasse da cena inicial, que provavelmente já se tornou clássica. Se bem que eu não teria achado ruim o seguinte. Acho que, para completar a demonstração da pura incivilidade dos personagens, o sujeito lá poderia apertar o gatilho do revólver contra a parede e pulverizar a mosca capturada dentro do cano da arma. Acho que isso teria mandado a mensagem.

Um pouco mais para frente, aliás, na hora em que a guria está entrando na cidade pela primeira vez, pode-se ver de onde saiu a tomada de câmera com a qual se mostrou o próprio Marty McFly entrando pela primeira vez na Hill Valley de 1885 - uma das minhas cenas favoritas de toda a trilogia. E aqui eu registro formalmente algo que já me incomodava na cena do De Volta para o Futuro, e que agora eu percebo foi herdado diretamente do Sergio Leone: tanto o Marty, como a Jill, parecem ter apertado sensivelmente o passo entre o momento em que eles aparecem no início da cena, embaixo do portão, e a hora em que eles já aparecem bem ao fundo, já dentro da cidade. Não entra na minha cabeça que uma distância daquelas pusdesse ser percorrida em tão pouco tempo. Tudo não passa de um belo truque.

sábado, 4 de outubro de 2008

Pi - Darren Aronofsky


Dizer que assistir unicamente a pedaços deste filme no Telecine não basta é dizer o óbvio. Mas, por mais insatisfatória que possa ser essa conjuntura, do ponto de vista do conhecimento da obra, era só isso que eu já havia feito até hoje. Muitos anos atrás, passando pelos canais, eu me deparei lá com um sujeito querendo decifrar a lógica das bolsas de valores por intermédio só de um computador que vivia dando pala e uns rabiscos no jornal, ao mesmo tempo em que tentava perfurar um cérebro humano esquecido por alguém numa estação do metrô, talvez uns judeus que andavam em busca de um misterioso número; parei para assistir o que deve deve ter sido a meia hora final do filme. O que nunca me impediu de elogiá-lo, é bem verdade.

Só excluo dos meus elogios a parte em que se pretende causar grande sensação mostrando o sujeito engolir uma pletora de remédios lá com aqueles cortes rápidos e trêmulos da câmera. Essa parte é chata, como chato, aliás, é todo o Requiem for a Dream.

Gostei de ver, no material extra do dvd, algumas filmagens nas quais não se utilizou o preto-e-branco. Eu sempre gosto de ver coisas desse tipo.
 
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