terça-feira, 30 de dezembro de 2008

News

The only way to implement New Year's resolutions is to get the thing started before New Year's Eve. That way you can trick yourself into believing, by January 1st, that the thing you want done is already a tradition you couldn't possibly escape from keeping. I've done it before, anyway. I mean, I've written stuff in English and had the nerve and the lack of respect for others to actually post it. Not that my regular Brazilian readers do not horrify themselves with my bad usage of the Portuguese language. Writing in English, however, is perhaps a dangerous assignment for me, as I try to imitate the writers I most admire -- failing in accomplishing that much more deplorably than I'm used to do in Portuguese. All of you be darlings and forgive me for that.

My plans to extend this realm of idiocy to the English-speaking world will follow the same guidelines that oriented my approach to great empires such as Mozambique and Macau. I will choose a movie or a book and I will do some trash talk if I am not crazy about it. One in every four posts, if I can write in English one in every four posts, I figure enough damage will be done.

domingo, 28 de dezembro de 2008

We're no Angels - 1955 - Michael Curtiz


Não a versão com Sean Penn e Robert De Niro, como vocês podem imaginar. Aqui são três prisioneiros fugitivos que se abrigam numa casa de fundos para um loja, em oposição à mencionada dupla se escondendo num convento. Aqui a história se desenvolve em torno de diálogos, saídas e entradas dos personagens basicamente de uma única sala. Que é por onde transitam, indo de um canto para o outro, os três membros da família Ducotel: o pai, encantadoramente pródigo gerente da loja que o seu primo rico lhe deu para administrar; a mãe, uma mulher que não se arrepende de ter se casado com um encantadoramente pródigo homem de negócios falido; e a filha, a sonhadora apaixonada pelo primo que ficou na França quando ela e sua família abandonaram o país em razão de um mau relacionamento com os credores.

O filme é de 1955. A fotografia Technicolor parece ser de 1955. O fato de os prisioneiros, em algum ponto, homenagearem a família cantando uma música sobre os três reis magos tem alguma coisa de 1955. O próprio Humphrey Bogart, já nas últimas, tem um corte de cabelo definitivamente típico do ano de 1955. Só dois elementos que destoam: os outros dois companheiros de prisão. Um deles é igual àquele amigo do sujeito naquele filme em que a mulher do Sex and the city tenta obrigá-lo a sair de casa (bastante acurada e precisa essa minha frase). O outro, dir-se-ia um taumaturgo na arte de violar cofres e outros utensílios lacrados, também tem um aspecto mais moderno. Não sei dizer bem o porquê.

Vou dizer exatamente qual foi a minha parte favorita. Foi o efeito especial, rudimentar à sua própria maneira, da última cena: o breve instante que eles esperam para colocar a auréola na cabeça do Adolphe é o mesmo que eu esperaria, se eu fosse o encarregado. Transcrevo uma das melhores falas. Peter Ustinov está contando sobre uma vez que Adolphe intercedeu por eles. Suas mãos estão displicentes em seus bolsos. Suas palavras são pronunciadas com uma espécie de consternação zombeteira, os lábios se mordendo algumas vezes, os ombros se encolhendo algumas vezes, o seu olhar algumas vezes se desviando para o nada, como se a visão que ele estava descrevendo tivesse alguma qualidade indizível que só quem tivesse visto pudesse compreender.

"Adolphe did us a favor once".
"A big favor".
"We used to be watched over by a guard who was a very disagreable fellow... with a whip. One day, he was shouting in a particularly nasty way and must have been a note in his voice which irritated Adoplphe. Because, you know, vipers are very musical reptiles. They're much more musical than people think. And, anyway, the snake lost his patience, fell into the gap beetween the guard's collar and, I suppose, it would be the neck and... schheezzz. It was a matter of seconds.

Death Cab for Cutie - Photobooth

sábado, 27 de dezembro de 2008

The Graduate - Mike Nichols


Também um presente que eu ganhei nesse natal, o que me faz lembrar daquele episódio de South Park em que as crianças, um pouco enojadas com toda a transformação que elas estão vendo acontecer com a forma de se celebrar o natal, tentam resgatar o seu verdadeiro espírito de consumismo desbragado e total oblívio da fraternidade. Infelizmente, eu estou me aproximando desse grau de cinismo para reconhecer que, se é que vamos ser cretinos incorrigíveis ao longo da nossa existência inteira, que pelo menos de vez em quando paremos por um segundo e entreguemos aos outros alguns presentes. Isso ajuda a economia. Estou brincando... acho eu.

The Graduate é um ótimo filme. Não foi por acaso que se tornou um clássico. Tenho alguma coisa, porém, a acrescentar a tudo o que já foi dito e falado sobre ele? Acho que não. Acho que esse blog seria menos obtuso se eu escrevesse sobre os clássicos apenas que eles estão aí para a gente ver e que, por obrigação moral, deveríamos assistir sempre que a ocasião se apresentasse (daqui). A trilha sonora, toda ela original (até o limite da minha ignorância), é bastante passável.

Me atrapalhou bastante assistir a esse filme o tempo todo pensando naquele filme com a Jennifer Aniston e com Kevin Costner, Rumor Has It. Digo, não me lembrar exatamente duma história e de como ela se baseia na outra, isso me atrapalhou bastante. Gastei a minha reduzida energia mental tentando entender dois filmes ao mesmo tempo, quando é bem sabido que entender um único filme de cada vez já não é algo que eu consiga fazer com grande facilidade. Ainda mais porque, logo no início, eu já tinha detectado um ato de, como direi?, intertextualidade -- Dustin Hoffman atravessando o aeroporto na esteira, exatamente como fez a Jackie Brown. Quer dizer, a partir desse momento, pensei, não preciso mais ficar prestando atenção no que o diretor está fazendo porque eu, muito esperto, já vi uma coisa dele que mais tarde foi imitada por outro diretor. Porca miséria.

Butch Cassidy and the Sundance Kid - George Roy Hill


Incorporei alguns pensamentos ao meu conciso, porém desconexo, acervo. Quando eu chegar a algum lugar que por qualquer motivo seja especialmente desolador, pensarei comigo mesmo que eu me sentirei melhor depois de roubar alguns bancos. Quando eu estiver com medo de fazer alguma coisa ordinária, pensarei que eu provavelmente morrerei só com a queda. Ou então direi que a minha procura não deverá levar mais que alguns dias.

***

Não gostei da cena da bicicleta. Parece uma propaganda de banco veiculada por agência de publicidade brasileira. De filme de época com música moderna, ou com versão moderna de uma música antiga, já basta aquele de cavalaria medieval em que o sujeito chega na arena de batalha ao som de uma música, acho, do Queen.

***

No mais, gostei muito desse filme. Ganhei o dvd de presente, o que até me animou a iniciar mais seriamente uma coleção. Já assisti a quase todo o material extra, que é bem legal, aliás. Parece que a história e a - tosse, tosse - química entre os atores não eram para ser tão engraçadas como acabaram sendo. Isso quem disse foi o próprio Paul Newman, numa entrevista em que ele relatou uma conversa tida com o diretor. Disse o P.N que nos primeiros dias de gravação, o diretor chegou para ele perguntando por qual motivo ele e o Redford tinham mudado tanto em relação aos ensaios. Mudado como, questionou o ator. Por que vocês estão tentando ser engraçados, redarguiu o diretor.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

House on Haunted Hill - 1959 - William Castle

Aqui.

Com Elisha Cook Jr. em mais um papel de acovardado simpático. Sabe quando alguém vai imitar uma outra pessoa e então muda completamente o tom de voz, sugerindo, no imitado, o ridículo e o patético? Imagine, agora, uma pessoa que já fale normalmente nesse outro tom de voz e que na sua versão oficial já seja ridícula e patética: eis aí qualquer personagem interpretado pelo Elisha Cook Jr. Com ele, fica bem reduzido o material daqueles que imitam pela diversão de fustigar moralmente os outros. Se você quiser imitá-lo, o máximo que poderá fazer é, como ele, tentar abrir e fechar a boca de um jeito muito peculiar, como se estivesse sempre tentando sorver o conteúdo de uma pequena ameixa. A voz que propriamente sairá da sua boca, no entanto, não fará muita diferença. Isso porque é impossível que alguém consiga pronunciar qualquer palavra de um jeito que seja mais tíbio e sem espírito do que o próprio Elisha. Não estou dizendo isso só tendo visto um filme com o sujeito, nem, muito menos, só tendo parado para pensar uma única vez nos tipos inseguros e pusilânimes. Por uma grande coincidência cinematográfica, a minha atenção tem se ocupado dele nesses últimos dias. Eu, que já havia notado esse talento para a franca debilidade em The Killing, agora confirmo a minha teoria.

Vi a versão mais moderna desse filme no cinema. Isso foi há quase uns dez anos, calculo. Lembro-me de que reclamaram quando eu fiquei tentando adivinhar o que iria acontecer em cada cena. A queixa foi praticamente formal, ao ponto de o assunto ser retomado várias vezes, mesmo já tendo se passado alguns dias. Provavelmente, e agora eu não me lembro, mas imagino, eu devo ter acertado alguma coisa muito séria ou imprevisível naquele momento. O que é raro, eu sei. No geral os meus palpites estão sempre errados, ainda mais em se tratando de um filme de terror. De que eu possa me vangloriar, vangloriar mesmo, só a minha descoberta instantânea do assassino em Jogos Mortais - descoberta dificilmente aceita como um sinal de intelecção e vida cerebral, muito mais atribuída a alguma espécie de sorte ou puro e simples mau gosto.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Bullets Over Broadway - Woody Allen


Coincidência que esteja tocando Jeepers Creepers. O efeito disso, eu acho, não será pequeno. Louis Armstrong é sempre uma espécie de ativador de qualidades. Para mim, aliás, escutá-lo é quase a mesma coisa que vir um subalterno da máfia e escrever um post muito melhor do que eu jamais seria capaz de escrever -- pausa para elogiar o script: Cheech, o guarda-costas que vira escritor, é, como modelo de vida, a pretensão ideal de todo blogueiro.

O link do filme.

Registro ser impressionante como Jennifer Tilly se especializou em interpretar personagens, permitam-me errar, obnóxios. O caso é realmente grave. A cada novo filme fica mais difícil dizer onde termina o talento dela e onde fica só o que ela tem de autenticamente irritante. E não existe maneira mais cordata de se falar o que tem de ser falado: a guria é anatomicamente preparada para ser chata. Não estou exagerando quando eu digo que em toda a minha vida talvez eu tenha conhecido umas três pessoas com pescoços que mais afrontem a minha noção de estética.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

The killing - Stanley Kubrick

Esse filme mostra o crime de um ponto de vista um pouco jornalístico. A impressão que se tem é que um repórter resolveu mostrar como é feito um crime. Um pouco do drama de cada personagem é até revelado entre uma cena e outra, mas o foco principal é nas ações e no plano que será executado. Nisso fica o grande contraponto, eu acho, com a trama de Jackie Brown. Também ali, a seqüência de atos vai nos ocupando a cabeça até que o desfecho final seja explicado. Mas, enquanto isso, o Tarantino nos tenta convencer de que o exótico nos seus personagens, ainda que apenas muito marginalmente, é motivo para que tenhamos alguma admiração por eles. De minha parte posso dizer que essa manobra deu certo, o que não me impede de reconhecer, em tese, que as coisas não deveriam ser bem assim.

Em todo caso, o parágrafo anterior é o que acontece quando eu tento escrever sobre o filme em vez de humildemente reconhecer que o máximo que eu posso fazer é escrever sobre o fato de eu ter assistido a algum filme.

Que diferença faz?, como diria o próprio Johnny Clay.

domingo, 21 de dezembro de 2008

Goya's ghosts - Milos Forman


Eu tenho alguma implicância com filmes que mal podem esperar para mostrar um grande evento histórico. Porque, no mais das vezes, eles fazem isso, ou da forma mais inverossímil que se pode imaginar, ou simplesmente forjando eventos para efeito dramático. E sejamos francos: Cousin Eddie de Rei está nessas duas categorias.

The emperor waltz - Billy Wilder


Na melhor cena do filme, o imperador austríaco se refugia numa sala do seu palácio a pedido de um dos seus guardas, o qual, por sua vez, teme que um gramofone dentro da mala de um vendedor americano seja uma bomba pronta para explodir o sire. Uma meia comoção se prepara: os defensores muito mais agitados do que o defendido. Todos os soldados do castelo são avisados da ameaça iminente com um sino. Todos eles assomam pelos corredores, espingardas na mão e, no peito, o desejo de morrer pelo soberano. "What is it now?, pergunta o imperador. Polidamente o guarda responde que, ao que parecia, havia um assassino nas proximidades. "Oh dear", lamenta o imperador, "this get to be such a bore". Neutralizado o perigo, a mala finalemente é jogada numa fonte, já do lado de fora, nos jardins do palácio. Enquanto tudo isso vai acontecendo, o imperador brinca e se diverte numa salinha, fazendo vocês sabem o quê? Andando em cima do desenho de uma espiral no chão. Seus braços, é claro, estão cruzados nas costas, seus olhos, vagamente distraídos. Quando ele chega no centro da espiral ele pára, vira-se, e percorre novamente o seu passeio.

Além disso (estou falando das coisas que me fazem reconhecer a minha inclinação para o exercício do poder absoluto), a etiqueta imperial não o obriga a participar do baile. Tudo depende da decisão de Sua Majestade, do seu estado de espírito no momento. Ao ser informado, por exemplo, de que haviam nascido sem vida os filhotes do seu cachorro, Franz Joseph I subitamente se vê roubado da sua bonomia natural. Alguém diz que he's not in the mood for a ball. Ao que ele responde: you're quite right. I'm in the mood for a cemetery -- let us proceed to the ball.

Mas passemos ao ponto a respeito do qual não existem quaisquer dúvidas:


Joan Fontaine. Essa foto não é do filme.

sábado, 20 de dezembro de 2008

Jackie Brown - Quentin Tarantino


Vejo o diretor e Robert De Niro falando sobre o personagem; vejo-os, no conteúdo extra do dvd, falando um pouco mais abundantemente do que se poderia esperar de pessoas que não pensam demais sobre aquilo que elas fazem para ganhar a vida. O que me faz lembrar que cinema é uma coisa bem menos improvisada do que eu costumo imaginar, se é que é improvisada em qualquer grau. Fica registrada, então, a contradição com algo que eu escrevi, aqui, alguma coisa sobre.
[Deixo essa última frase canhestra de próposito; faz tempo que eu estou querendo pesquisar a possibilidade de inverter a ordem das preposições; espero que eu não esqueça esse assunto]
Mas eu não gosto de soul para poder elogiar todos os aspectos desse filme.
A formatação desse post está péssima, não sei bem o porquê. Acho que pode ser alguma coisa no computador que estou usando. Não me alongo.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

domingo, 14 de dezembro de 2008

I'm not there - Todd Haynes


Chego à bilheteria e respondo que sim, que pretendo ir ao cinema. Lá nesse prédio, eu sei, existem muitas outras instalações. E quando não fosse por isso, a pergunta nunca me pareceria muito idiota porque eu sou o tipo de pessoa que fica dando satisfação. Por exemplo, eu dou satisfação quando eu vou beber água. A mais patética sensação de dever, vinda não sei de onde, me obriga a informar a todos que eu estou indo beber água porque estou com sede. Como se as variáveis fossem muitas.

"Só um minutinho", diz uma mulher que estava dançando com um cigarro na mão, um cachecol verde no pescoço, e que eu já havia notado como um pouco fora do contexto alguns instantes antes, enquanto eu ainda passava pelo jardim que dá acesso à bilheteria. Olhando para ela mais de perto, já depois de atravessar o jardim, reforcei a minha primeira idéia de que alguma estroinice estava acontecendo. Na minha distração, porém, respondi à pergunta antes de achar estranho que ela a estivesse me fazendo. Mas depois de alguns instantes eu me vi na circunstância de imaginar de onde ela tirava aquela autoridade. Reparei, então, que não tinha ninguém na bilheteria, onde normalmente bilheteiros medram, e concluí que o minutinho que ela estava pedindo era o minutinho que ela iria gastar fumando e dançando para um senhor que estava sentado num pequeno balcão, à minha esquerda. Que atendimento ao consumidor!, pensei -- tudo a ver com o nome do filme.

Instantes após, apareceram três amigos que furaram a fila e compraram os ingressos na minha frente. Duas pessoas que já tinham entrado, e que estavam numa galeria adjacente, também apareceram. A mulher contou, um, dois, três, quatro, cinco... seis. Eu era o sexto. O cinema só poderia funcionar com seis espectadores.

Deadwood


Que atire a primeira pedra quem nunca ficou torcendo para que aquele cavalo que aparece correndo na abertura da série realmente levasse um tombo, num certo momento em que parece muito que ele vai levar um tombo. Ora, eu admito que minha simpatia pelos animais, se é que eu tenho alguma, não perdoa esse cavalo. E considerando as atrocidades ordinárias que acontecem no acampamento de Deadwood, minha fixação pelo tombo é quase uma sutileza de espírito, quase uma distinção celestial que me diferencia das outras vis criaturas.

Que atire a primeira pedra, também, quem nunca achou estranha a forma como Seth Bullock (Tymothy Olyphant) não movimenta os braços enquanto anda. Ele andando parece aquela mulher que trabalhava no escritório da Elaine e que mais tarde, naquele episódio, protagonizou uma catfight memorável.

Mas eu quero fazer boa propaganda dessa série. Pelo motivo da minha natural lentidão, eu não fui audiência na época em que ela estava passando -- tenho a minha parcela de culpa, pois, no encerramento das filmagens. A história, em todo caso, é a de uns pioneiros que se juntam num acampamento prestes a ser anexado aos Estados Unidos, hoje na região da Dakota do Sul, se eu não estou enganado. Estar prestes a ser anexado aos Estados Unidos, porém, significa uma coisa: nada. Significa que aquilo é um canto da Terra em que tudo pode acontecer e que nada acontecerá seguindo uma ordem juridicamente lógica. Homens que assassinam outros homens até poderão ser julgados por um tribunal montado para a ocasião; o juri não o condenerá a uma pena, entretanto, toda vez que ele estiver convencido de que o sujeito que morreu, uma vez, não se sabe onde nem quando, também matou o irmão de alguém.

Deadwood é muito mais suja do que Hill Valley, na mesma proporção em que seus habitantes têm, muito mais, o aspecto da lepra. Em termos de imundícia e de limpeza artificial, Deadwood se opõe a Hill Valley da mesma forma que Braveheart se opõe a Rob Roy.

sábado, 13 de dezembro de 2008

In Bruges - Martin McDonagh


Gostei muito. Acho que é o primeiro filme desse diretor que pode ser chamado de filme normal. E por normal eu quero me referir à duração de 107 minutos.

Vejamos alguns pontos altos:

- Ray, o semblante enojado, diz que uma família de turistas americanos não pode subir na torre por causa das escadas. Ele não está dando uma de engraçadinho, avisa. E a família está realmente bem acima do peso. O patriarca, depois disso, começa a correr atrás dele, na mais ridícula tentativa de desagravo já registrada.

- "A bottle?", pergunta, esmurrando-a. "Oh, don't bother!".

- "Well, I'm not gonna have a shootout in the midlde of a thousand fuckin' belgians, am I?" pergunta, bebendo tranquilamente a cerveja. "Not to mention the other nationalities just on their holidays."

domingo, 7 de dezembro de 2008

Swing Kids - Thomas Carter


Eu subestimo muitas coisas. O máximo que acontece comigo quando eu estou escutando It don't mean a thing if it ain't got that swing é alguém comentar que eu vou ficar surdo. E a noção que essas pessoas têm de um campo de trabalho forçado, para o qual, não tenho dúvidas, elas me mandariam se tivessem poder, é, no máximo, um barzinho com música brasileira ao vivo. Todas as coisas consideradas, portanto, estou no lucro.

Coisas que aparecem em Swing Kids que eu não sei fazer: (i) reger uma orquestra; (ii) dançar chutando os ares e rodando os braços e, ao mesmo tempo, estalando os dedos, tudo isso sem perder contato visual com a parceira e, ainda, sem trombar nas pessoas ao lado; (iii) descobrir qual disco está tocando, de uma coleção que deve ter mais de mil, e ainda informar todos os detalhes da gravação, se alguém tiver escolhido por sorte qualquer um deles, eu estando com uma venda nos meus olhos; (iv) sair vivo de uma briga com o Batman.

Não que o Robert Sean Leonard tenha feito todas essas coisas. Mas fez pelo menos a (ii) e a (iv), de resto as mais difíceis. Eu não sei, em todo caso, se eu comecei a gostar dele por causa desse filme ou se por causa do Sociedade dos Poetas Mortos -- sim, eu tenho a audácia, ainda a audácia, sempre a audácia de gostar do Sociedade dos Poetas Mortos.

A woman under the influence - John Cassavetes


Mais um da mostra só com os filmes desse diretor. Estou um pouco cansado para escrever sobre a história do filme. Em comparação com o Shadows, acho que o rolo estava muito mais limpo. O som era um pouco mais audível.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Gotcha! - Jeff Kanew


Com um ponto de exclamação. Mais cedo ou mais tarde, era inevitável que eu ficasse sentimental e nostálgico a ponto de não desistir até encontrar o torrent deste filme. Já tinha procurado esse arquivo uma porção de vezes. Dessa vez eu encontrei. Não para a minha decepção, posso dizer. Pacífico, gosto do fato da arma que ele está segurando ser apenas um tranquilizador veterinário utilizado para adormecer, mas não matar, tigres enjaulados ou espiões russos lotados na Alemanha Oriental. Como dá para perceber, o importante no mundo de Gotcha não é a letalidade da arma. O importante é dizer Gotcha, assim humilhando a pessoa que recebeu o disparo.

As demais regras do jogo são nebulosas. O filme logo se desvia desse inocente jogo de paintball universitário para um ambiente tecnicamente mais beligerante -- o da espionagem soviética. Basicamente só a primeira cena, os créditos ainda passando, é que mostra alguma coisa sobre a entidade Gotcha. Dá para saber que os participantes têm um cartão de identificação, que aparece de modo claro em algum momento. Mais do que isso já passa a ser um mero exercício de especulação. Suponho que exista uma sala dentro do campus onde os jogadores entrem apenas se mostrarem a carteirinha. Talvez nessa sala funcione a central de mandados, que distribua aleatoriamente a cada jogador o nome de um alvo que deva ser eliminado. Haverá equipes ou é cada um por si? Quem ficar por último vence ou existe um sistema de pontos? Essas são algumas perguntas que ficam sem resposta.

Manhattan Murder Mystery - Woody Allen


Histórias de detetive só funcionam num extremo: quando o detetive é mais importante do que o crime. Se você colocar verossimilhança demais nos detalhes do assassinato, ou se você colocar esquizofrenia de menos na personalidade do detetive, o resultado será, na melhor das hipóteses, um episódio de Law and Order.

E ajuda bastante quando o investigador se nega terminantemente a se envolver na história. Por exemplo, proibindo que sua esposa invada o apartamento do vizinho, comandando que ela durma. Acho que essa foi a melhor cena do filme. Ou então quando ele diz que não está entrando em pânico e que apenas vai começar a rezar o rosário. Ou então quando ele diz que existe um risco de colidir com um ônibus escolar de madrugada: "what about night school?" Ou então quando ele diz que, ou ele está com medo de ser assassinado pelo assassino contra o qual se está intrigando, ou ele acabou de desenvolver Parkinson.

Só fiquei um pouco melancólico ao mais uma vez me lembrar de um grande sonho que eu sempre tive e que até hoje nunca se realizou. Um sonho bem infantil: estar numa sala de espelhos. Não sei se eles ainda têm salas assim.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Shadows - John Cassavetes


Um disclaimer, no final, adverte que a coisa toda foi um ato de improviso. Posso dizer que eu mesmo também exceli na minha dose pessoal de improviso. Assistir a esse filme, nas condições em que assisti, foi um dos feitos mais repentinos, súbitos, espontâneos da minha trajetória. Eu estava passando em frente ao cinema quando vi o anúncio e, na confusão do momento, só deu tempo de ir em casa, tomar banho, jantar, responder emails, pagar algumas contas e pegar o meu aparelho móvel de contenção. Entreguei o ingresso e escolhi um lugar ato contínuo, menos de uma hora e quarenta minutos depois de ter visto a programação no placar.

Sobre o filme, acho que eu nunca vi um rol tão grande de coisas que eu adorei e detestei condensadas tão proficuamente num único filme. Para começar falando de algo legal, a legenda do filme era em português de Portugal. Contemporâneo à época do filme, reparem. Filme que é de 1959. O que eu li de "whatcha doin', man" sendo traduzido como "que fazes, pá?" é mais do que eu gostaria de lembrar. Também me inquietou a questão das "tipas miúdas", ou das "tipas não miúdas", não me lembro bem. O chato é que o som muitas vezes era incompreensível por deficiência técnica. Outras vezes, no entanto, não dava para ter noção do que os personagens estavam falando porque a trilha sonora -- jazz da melhor qualidade -- era muito alta.

Como eu disse, dez segundos de uma cena poderiam contemplar, e muitas vezes contemplaram, o pior e o melhor que eu conheço em matéria de cinema. Nem tanto pelo que estava aparecendo na tela, em si, mas pelas alusões e memórias que aquilo constantemente me infligia. Mesmo eu, que não conheço ninguém, por exemplo, não pude deixar de notar que, dos dois irmãos músicos e do empresário que agenciava para o cantor, um era o Netinho, outro, o Jair Rodrigues, outro, o filho do Jair Rodrigues. Estou falando de serem exatamente as mesmas pessoas; estou falando de não haver nenhuma diferença física. Quase me levantei quando me pareceu que o empresário iria começar a dizer "E deixe que digam, que pensem, que falem..."
 
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