domingo, 14 de dezembro de 2008

I'm not there - Todd Haynes


Chego à bilheteria e respondo que sim, que pretendo ir ao cinema. Lá nesse prédio, eu sei, existem muitas outras instalações. E quando não fosse por isso, a pergunta nunca me pareceria muito idiota porque eu sou o tipo de pessoa que fica dando satisfação. Por exemplo, eu dou satisfação quando eu vou beber água. A mais patética sensação de dever, vinda não sei de onde, me obriga a informar a todos que eu estou indo beber água porque estou com sede. Como se as variáveis fossem muitas.

"Só um minutinho", diz uma mulher que estava dançando com um cigarro na mão, um cachecol verde no pescoço, e que eu já havia notado como um pouco fora do contexto alguns instantes antes, enquanto eu ainda passava pelo jardim que dá acesso à bilheteria. Olhando para ela mais de perto, já depois de atravessar o jardim, reforcei a minha primeira idéia de que alguma estroinice estava acontecendo. Na minha distração, porém, respondi à pergunta antes de achar estranho que ela a estivesse me fazendo. Mas depois de alguns instantes eu me vi na circunstância de imaginar de onde ela tirava aquela autoridade. Reparei, então, que não tinha ninguém na bilheteria, onde normalmente bilheteiros medram, e concluí que o minutinho que ela estava pedindo era o minutinho que ela iria gastar fumando e dançando para um senhor que estava sentado num pequeno balcão, à minha esquerda. Que atendimento ao consumidor!, pensei -- tudo a ver com o nome do filme.

Instantes após, apareceram três amigos que furaram a fila e compraram os ingressos na minha frente. Duas pessoas que já tinham entrado, e que estavam numa galeria adjacente, também apareceram. A mulher contou, um, dois, três, quatro, cinco... seis. Eu era o sexto. O cinema só poderia funcionar com seis espectadores.

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