segunda-feira, 27 de abril de 2009

Man and Superman; a comedy and philosophy - George Bernard Shaw

São quatro leituras diferentes, esse livro. A primeira é um prólogo de umas 40 páginas que o G.B.S escreveu para o amigo dele que primeiro perguntou por que ele não escrevia uma alguma coisa com um Don Juan. O nome do amigo era Arthur Bingham Walkley.  A segunda é a própria peça, aqui já nos quatro atos em que ela originalmente foi escrita e que puderam ser finalmente encenados alguns anos depois da estreia da versão aplacadora com que se refreou a insurgência do público inglês contra as diatribes características do autor. Das primeiras encenações se tirou o terceiro ato, o que mostra o diabo como uma espécie de cavalheiro indignado com o fato de Mozart ter abandonado o inferno pelo paraíso. Menorzinho também, de umas cinquenta páginas, o Revolutionist's Handbook and Pocket Companion é o livro que Jack Tanner escreveu e que tanto desconcerto causou nos outros personagens da peça. É a terceira das leituras que estão no livro. A última e menor de todas é uma compilação de máximas para revolucionários chamada perfeitamente aptamente de Máximas para Revolucionários.  

Antes que alguém se preocupe com o que está acontecendo comigo, no entanto, deixa eu esclarecer que ler esse livro não tem sido pra mim senão uma pequena distração das coisas sérias. Eu não me tornei um revolucionário, é o que eu quero dizer. Não me tornei nem o revolucionário esclarecido e inteligente que eu me tornaria se tivesse Jack Tanner como o meu modelo -- me tornar também um M.I.R.C, Member of the Idle Rich Class, isso já seria um benefício extra). E o que me deixa tranquilo para ler esse livro, as outras três leituras, em qualquer caso, é o fato de que eu já conhecia o texto da peça de um arquivo que eu uma vez encontrei na internet. 

Só estou relendo e completando um pouco o quadro de referências do texto puro da peça, portanto.

O bom de ler autores socialistas como G.B.S e Kurt Vonnegut é que eles parecem ter um senso de ridículo aguçado o suficiente para não proporem de maneira muito enfática alguma coisa para substituir a organização social que eles descrevem como péssima. Porque ato contínuo a isso eu perderia a paciência. Eles não cometeram esse erro nos livros que eu já li, não com força bastante para quebrar o escudo que eu tenho contra esse tipo e contra praticamente todos os tipos de discurso. Agora, se eles já fizeram muito estrago por aí, e eu até acredito que tenham feito estragos irreparáveis numas cabeçinhas de vento, com o meu distanciamento altivo eu me permito ler esses autores sem os levar muito a sério. Pelo estilo e pela imaginação vale a pena. Quer dizer, não estamos falando aqui de Jorge Amado,  ora raios!

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Não tive saco para ler a carta dedicatória inteira logo de início. Achei que o G.B.S exagerou um pouco no tamanho das explicações que ele deu. Parei quando ele mesmo escreveu que os homens sábios leem primeiro aquilo que foi escrito, depois aquilo que se escreveu sobre o que foi escrito. É claro que essa conta nunca vai ser fechada, e mesmo eu já conhecendo a peça, resolvi dar uma puladinha nessa parte. Enquanto eu ainda estava nela eu não pude deixar de pensar na cena do amigo dele perguntando lá por que ele não escrevia uma peça com um Don Juan. "You should write a Don Juan play, old George boy!", ele deve ter dito, só para ver se a conversa ia a algum lugar. E vendo a reação do G.B.S, uma grave expressão de quem estava ponderando alguma coisa na sua face, ele resolveu seguir uma tática mais prosaica de conversação. "Hey, pass me that salt, will you?". 

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A peça: leiam. 

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O livro dos revolucionários: não leiam. 

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E algumas máximas:

When a man teaches something he does not know to somebody else who has no aptitude for it, and gives him a certificate of proficiency, the latter has completed the education of a gentleman.
- The reasonable man adapts himself to the world: the unreasonable one persists in trying to adapt the world to himself. Therefore all progress depends on the unreasonable man. 
- Self-sacrifice enables us to sacrifice other people without blushing.
- (Prêmio especial para o melhor início de frase. Um temorzinho de ser visto como um criminoso por pessoas que não entendem que o meu elogio é ao estilo, porém, me faz alertar que o meu elogio é ao estilo) If you beat children for pleasure,  avow your object frankly, and play the game according to the rules, as a foxhunter does; and you will do comparatively little harm. No foxhunter is such a cad as to pretend that he hunts the fox to teach it not to steal chickens, or that he suffers more acutely than the fox at the death. Remember that even in childbeating there is the sportsman's way and the cad's way. 

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Biografias


Estava passando na televisão um especial sobre Ian Fleming. Eu não sabia que ele tinha chegado a trabalhar como espião da marinha britânica na Segunda Guerra, o que é mais ou menos o equivalente literário, eu imagino, de alguém não saber que Arnaldo Cézar Coelho um dia foi juiz de futebol.

Mas eu também descobri que Ian Fleming foi um concurseiro fracassado. Quando ele saiu de uma universidade austríaca, e nem me lembro se tendo concluído ou não a sua formação em alguma coisa,  ele tentou a prova de ingresso no serviço diplomático britânico. Reprovado muito abaixo da média mínima, parece. Ele tinha 23 ou 24 anos. A mãe dele é que, tão dominadora quanto excêntrica, ela é que achava que ele deveria ter alguma ocupação profissional. Ele acabou preenchendo uma vaga de jornalista na Reuters, onde ficou até que uma posição numa corretora de ações aparecesse como emprego que lhe permitisse comprar um apartamento. Algum tempo depois ele foi convidado para uma missão de espionagem na Rússia e, mostrando-se habilidoso no ofício, assumiu o comando de um grupo de agentes britânicos responsáveis por sabotar Hitler. Eram os Fleming's Pirates, eu acho. 

Nesse emprego ele conseguiu férias de 60 dias ao ano, o que ele aproveitava para visitar uma casa que ele tinha construído na Jamaica. Nenhuma janela dessa casa tinha vidro, pelo que eu me lembro. E ouvindo o caseiro dele falar de algumas celebridades que costumavam passar uma temporada naquela praia, o seu sotaque e a sua gramática tão ruins que os próprios produtores colocaram legendas em inglês, eu me lembrei do sujeito que fez uma ligação para o 911 para reclamar que o Burger King não estava servindo limonada. 

O que eu estou escrevendo neste post está tão concatenado com o que eu estou escrevendo neste post que eu vou mudar de programa. 


Depois do especial Ian Fleming começou a passar o especial Tolstoi. Desse último eu não unicamente assisti a alguns filmes originados dos seus livros, como no caso do Ian Fleming, mas até já li alguma coisa que ele escreveu. Só o Anna Karenina, para falar a verdade. Não consegui ver tudo até o final, mas parei numa época em que ele já tinha escrito Guerra e Paz - já tinha superado a gonorréia adquirida nos melhores recantos de Moscou, portanto -, já era aclamado como a verdadeira voz da Rússia e já estava escondido numa fazenda, tentando reformar a humanidade com uma escola para servos. 

Acho que no programa do Tolstoi uma tataraneta dele estava falando sobre algumas coisas da sua intimidade cotidiana. Ela dizia coisas como "Ah, mas ele não estava muito com a intenção de parar com a devassidão e com a bebida!" com o mesmo grau de proximidade que o caseiro lá estava falando do Fleming, por coincidência sobre essa mesma inclinação para o que nós poderíamos chamar candidamente de farra. 

terça-feira, 21 de abril de 2009

Breaking and Entering - Anthony Minghella

Algumas premissas em que se escora e algumas conclusões que se tiram deste filme:

1) É melhor deixar a pessoa que assaltou o seu escritório inteiramente livre.

2) É aceitável a fobia da sua enteada de toalhas inteiramente amarelas ou de toalhas com costuras amarelas.

3) Meta logo na sua cabeça que nenhuma história de Sarajevo é simples. É melhor você pensar duas vezes quando você escutar alguma história de lá. Você não deverá se precipitar na conclusão de que ela é simples, pois nenhuma história de Sarajevo é simples. Suponha, por exemplo, que um guri com uma carinha de bósnio chegue para você dizendo que ele estourou uma caixinha de Toddynho vazia. Se isso acontecer, Anthony Minguella ensina que você deverá moderar os seus pensamentos. Não pense que essa caixinha de Toddynho estourando é só uma caixinha de Toddynho sendo estourada. O mínimo de investigação quanto aos pormenores deste estrépito possivelmente revelará que: ou o canudinho de alguma forma foi expelido da caixinha e atingiu de morte o irmão mais novo do melhor amigo desse guri, que por acaso era muçulmano enquanto o guri era cristão ortodoxo, assim desencadeando mais uma guerra na qual o melhor amigo do guri é obrigado a assassinar a mãe do outro; ou então o barulho do estouro foi confundido com o barulho de um explosivo C-4, o que levou as tropas da ONU a invadir uma mesquita e matar todos os presentes, inclusive a família do melhor amigo do guri que explodiu a caixinha, tudo isso enquanto o guri se escondia atrás de um carro no vidro do qual estava colocado um adesivo da Coca-Cola.

4) Quem quiser chegar a algum lugar roubando escritórios com técnicas de Le Parkour tem que treinar. E se você levar a sua mãe para o treinamento, certifique-se de levar a sua própria toalha. Do contrário, você pode acabar tendo que usar uma toalha com costuras amarelas. 

5) Fique tranquilo se a sua faxineira conscientemente preferir ganhar de presente uma Bíblia em vez das obras completas (?) de Franz Kafka. 

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Scarface - Brian De Palma

A cena dos pistoleiros colombianos invadindo a mansão de Tony Montana (Al Pacino) me fez lembrar daqueles ninjas fajutos que o Ninja Americano saía destruindo, às dezenas, com uns murrinhos de nada. Pistoleiros e ninjas desse exemplo, uns são tão postiços e débeis e de modo geral tão mal orientados na arte parecerem combativos quanto os outros. Porque só ficou faltando algum pistoleiro soltar uma bomba de fumaça e desaparecer da frente de todo mundo. Todo o resto da esdrúxula caracterização daquele filme estava lá. A parte em que os ninjas se comportam como umas formiguinhas tontas andando em grupos e sendo explodidas em grupos, confere. A parte em que um cara sozinho apaga do mapa pelo menos uns 15 adversários sem a menor dificuldade, confere. A parte em que essas vítimas ficam se comunicando com uns grunhidos incompreensíveis e emasculados, confere. 

Quer dizer, a sanguinolência do filme ficou toda por conta de uma única cena com uma serra elétrica. 

Uma inconsistência grave que eu vi no personagem principal e que acabou prejudicando o filme inteiro: o apego obsessivo dele à irmã. Olha só, o sujeito que pretende chegar ao topo da carreira de malfeitor, seria de se imaginar, teria uma atitude bem mais pragmática em relação às libertinagens a que a sua irmã caçula pudesse se sentir inclinada. Ainda mais quando fica tudo ali no círculo de amigos. Ainda mais quando esse mesmo sujeito chegou a abandonar por anos a família, esse tempo todo sem dar qualquer notícia. Para ver como foi sem propósito a reação do Montana basta compará-la com a dos Corleone, quando a irmã deles começou a ser maltratada lá por aquele genro que eles arrumaram. 

Outra coisa: a pessoa que compôs o leitmotiv da trilha sonora deve ter entendido que a encomenda que fizeram a ela era a de alguma coisa para ser tocada num filme de ficção científica espacial. A impressão que eu tive foi a de que eu estava assistindo ao Blade Runner all over again - com o mesmo soninho, naturalmente. 

The Hard Way - John Badham

Estou pensando aqui se é possível alguém desgostar do Michael J. Fox, se é possível que alguém tenha alguma aversão séria contra ele. Alguém que dissesse: "Quer saber, este ser humano me irrita!". É claro que tem, o Google não me deixaria mentir. Seria preciso, então, refinar um pouco a minha pesquisa e estabelecer um critério mais restrito. O que consigo pensar é nisto: existe alguém que odeie os personagens do Michael J. Fox? Do jovem republicano em Family Ties, passando pelo heróico McFly, pelo não menos heróico médico Doc. Hollywood, eu não consigo me lembrar de algum que não tenha sido inteiramente simpático. Aquele que constrói um hotel também é massa, como massa é Nick Lang, o ator infantilizado que quer aprender os truques de um policial de verdade em The Hard Way.

Tem uma banda de jazz urbano nesse filme que é a melhor que eu já vi. Jazz urbano foi uma expressão que eu pensei agora como sendo apropriada para designar um povo que fica tocando jazz na rua, que é o que acontece no filme. Se o que eles tocam está ou não na definição desse tipo específico de jazz, isso eu não saberia dizer. São duas as ocasiões em que eles aparecem, se eu bem me lembro. Logo na primeira cena, enquanto os créditos ainda vão aparecendo; e mais tarde, numa cena de perseguição. A primeira  delas eu tenho certeza que é uma cena noturna tornada bastante peculiar pela fotografia do início dos anos 90. 

Outra coisa legal nesse filme é ver a Christina Ricci novinha, novinha.  Ela é a filha da mulher que está saindo com o personagem do James Woods. Também o incomparável em feiúra Luis Guzmán está no elenco (não, eu não estou dizendo que a Christina Ricci também está na categoria dos incomparavelmente feios).  

sábado, 18 de abril de 2009

Comedian - Christian Charles

I rest my case

God bless you, Mr. Rosewater; or: Pearls before Swine - Kurt Vonnegut

Eu já cheguei à conclusão de que é melhor ler os livros do Kurt Vonnegut sem ter a noção exata da ordem em que eles foram escritos e da evolução histórica dos mesmos personagens que esses livros sempre mostram. É a mesma coisa que acontece quando você tem que fazer um determinado trabalho que se divide em várias etapas. É mais legal fazer tudo fora de qualquer ordem e de uma hora para outra descobrir que você já terminou do que fazer tudo na sequência normal e ter que ficar contando ansiosamente cada passo antes de concluir. 

Um das coisas que aparecem nesse livro, por exemplo, antes ou depois retratadas no Slaughterhouse 5, é o bombardeio da força aérea americana em Dresden. O assunto é tratado quase pecaminosamente. Não bem isso, quer dizer. O que acontece é que Eliot Rosewater fica tão desconcertado com o livro de Hans Rumpf, The Bombing of Germany, que ele guarda escondido o livro da mesma forma como pervertidos guardam escondido o seu acervo de pornografia. KV, que estava na infantaria do exército à época, ficou tão traumatizado com aquilo testemunhado do chão, enquanto as bombas caíam, que ele demorou alguns anos até conseguir encontrar a melhor maneira de colocar isso num romance. 

O grande maelstrom, no entanto, para o qual toda a sua obra é atraída e no qual toda a sua obra é aglutinada, é a figura estrambólica do escritor de ficção científica Kilgore Trout - o vastamente ignorado maior escritor de todos os tempos. Além das breves menções aos seus livros*, Kilgore aparece, aqui, como uma espécie de consiglieri de um sujeito que, ao seu modo bem peculiar, é uma espécie de chefão. Mais para o final ele chega até a participar de diálogos e tudo, o que nem sempre acontece nos outros livros. Mas aqui, por força de contrato, ele explica direitinho como as coisas que nós acharíamos lunáticas são, na verdade, um pouco razoáveis. Ou pelo menos aconselháveis de serem feitas por pessoas ligeiramente preocupadas.    

No outro lado da história está o jovem advogado Norman Mushari, tentando se assenhorar de uma parcela da imensa fortuna até o momento deixada nas mãos perdulárias de Eliot Rosewater. Mas isso ele tenta fazer sem infrigir a lei, só interpretando como lunático o estilo de vida de Eliot e só querendo fazer valer uma cláusula do estatuto da Rosewater Foundation que proibia de ser nomeado presidente da fundação um indivíduo legalmente tido por insano.

Trascrevo uma parte que não tem nada a ver com o que eu disse neste post, mas que tem a ver com o que eu pensei sobre os instrumentos tecnológicos às vezes acabando com ótimas piadas. Desde uma coisa chamada Winamp, eu acho, ninguém mais vai ouvir falar de uma coisa parecida com isto:

"There is music all day long, and Mrs. Buntline said what she enjoyed more than anything was picking out a musical program at the start of every day, and loading it into the record changer. This morning there was music coming out of all the loudspeakers, and it didn't sound like any music I had ever heard before. It was very high and fast and twittery, and Mrs. Buntline was humming along with it, rocking her head from side to side to show me how much she loved it. It was driving me crazy. And then her best friend, a woman named Mrs. Rosewater, came over, and she said how much she loved the music, too. She said someday, when her ship came in, she would have beautiful music all the time, too. I finally broke down and asked Mrs. Buntline what on earth it was. "Why, my dear child", she said, "that is none other than the immortal Beethoven." "Beethoven!", I said. "Have you ever heard of him before?", she said. "Yes, mam, I have. Daddy Parrot played Beethoven all the time back at the orphanage, but it didn't sound like that." So she took me in where the phonograph was, and she said, "Very well, I will prove it is Beethoven. I have loaded the changer with nothing but Beethoven. Every so often I just go on a Beethoven binge." "I just adore Beethoven, too, " Mrs. Rosewater said. Mrs. Buntline told me to look at what was in the record changer and tell her whether it was Beethoven or not. It was. She had loaded the changer with all nine symphonies, but the poor woman had them playing at 78 revolutions per minute instead of 33, and she couldn't tell the difference."



* Num dos que eu me lembro agora, Kilgore Trout narra a saga de uma nação inteiramente dedicada ao combate aos odores.  O ditador supremo da nação, mesmo depois notáveis avanços na indústria de desodorantes, decide por eliminar os narizes como solução final ao problema. 

segunda-feira, 13 de abril de 2009

The Greenhornes


                                                  

Acho que eu tenho uma dificuldade muito maior para escrever sobre uma música do que para fazer um post sobre um filme ou um livro. Alguns dos detalhes técnicos que compõem um livro ou um filme eu consigo perceber, mesmo que grosseiramente. Sobre os detalhes técnicos que fazem parte de uma música eu já não seria capaz de desenvolver opiniões coerentes. Isso porque eu estudei música quando era pequeno e porque, do tempo que eu passei distraído neste planeta, a fração gasta ouvindo música deve ter sido maior do que a fração gasta assistindo a filmes ou lendo (nesse último caso, inclusive, boa parte do tempo que eu passei lendo eu passei também ouvindo alguma coisa). 

Eu vou tentar falar um pouco dos meus artistas favoritos, porém. Músicos, eu quero dizer. O estatuto do blog assim me permite e a recente consolidação dos meus arquivos mp3 numa lista única do Windows Media Player facilita a tarefa. 

Muito bem. The Greenhornes. Pode não parecer, mas a banda é americana, não é inglesa. Os discos que eu tenho aqui são estes: Dual Mono, East Grand Blues, Gun for you, Sewed Soles, The Greenhornes e alguns singles

Pela música que está no vídeo (Cant't stand it) dá para perceber que a sua mãe não vai gostar da banda -- muito embora isso não faça o menor sentido. Vai dizer que o sujeito canta mal? Que a distorção da guitarra (nem sei se a mera seleção de um tipo de som no pedal é considerada distorção) é desagradável? Baterista e baixista desastrados? Eu acho que não. 

As músicas, em geral, seguem a linha do garage rock. As letras insistem em si mesmas, como dizem. Gosto muito, por exemplo, de Shame & Misery (The Greenhornes). Pensando em termos de trilha sonora da vida, S&M poderia ser uma boa opção para aqueles momentos em que você se senta na sua cama e termina de amarrar o cadarço do sapato e sai de casa.



Too much sorrow (Dual Mono) é a música que deveria estar tocando quando você chegasse.     

domingo, 12 de abril de 2009

Just a Minute, Nicholas Parsons - Paul Merton, Clement Freud, Stephen Fry & Liza Tarbuck

Mais um dos arquivos antigos que a minha lista consolidada do Windows Media Player me fez o favor de executar. Eu até poderia tentar escrever o post sem hesitar, repetir ou desviar, como mandam as regras do programa, mas aí eu perderia a chance de dizer que a coisa é muito, muito engraçada. 

Encontrei o roteiro transcrito neste site aqui. Já é alguma coisa para quem não conseguir encontrar o mp3 desse programa em particular. Vou colar a apresentação e um trecho do Stephen Fry. Como o Blogger reagirá a isso, em relação à fonte em que os textos colados aparecerão, isso eu nunca posso antecipar. 

***

Thank you, thank you, hello, my name is Nicholas Parsons. And as the Minute Waltz fades away once more it is my pleasure to welcome our many listeners not only in this country but throughout the world. But also to welcome the four dynamic and diverse personalities who are going to play Just A Minute this week. With pleasure we welcome back that clever, witty and man who plays the show with such humorous panache, Paul Merton. We also welcome back after a bit of an absence actually, someone who’s equally clever and witty at playing the game, that is Stephen Fry. And someone who plays the game with wonderful feminine charm and verve and that is Liza Tarbuck. And someone who’s been playing the game with incredible skill for more years than we care to remember, that is Clement Freud. Would you please welcome all four of them! As usual I am going to ask them to speak on a subject that I give them and they will try and do that without hesitation, repetition or deviating from the subject. Beside me sits Janet Staplehurst who’s going to help me keep the score, she’ll blow a whistle when the 60 seconds are up. And this particular edition of Just A Minute comes from the Radio Theatre in the heart of Broadcasting House in the West One district of London. And we have a truly cosmopolitan audience in front of us, excited and ready for us to get going. So let us start the show with Paul Merton. And Paul the subject in front of me is crow’s feet. Will you tell us something about crow’s feet in Just A Minute if you can starting now. 

***

O tema aleatório sobre o qual ele deveria falar era "that sinking feeling". 

SF: In this game in a way as you start optimistically and youthfully off on a sentence, you develop that sinking feeling as the end approaches and you wonder how on earth you’re going to round it off in some semblance of sense. It doesn’t often happen. Sometimes it does and when that occurs of course, you’re very pleased. But that sinking feeling always tells you that at some point you’re going to collapse in a giggle of words and a fart of nonsense which is just about happening to me now, as I feel that sinking feeling coming upon me and I know that I’m not going to get properly to the end of this assemblage of words... 

BUZZ 

NP: Clement you challenged. 
CF: Deviation. 
NP: Why? 
CF: Yes he was going to get to the end. 
SF: But I didn’t! Because you interrupted! 
NP: That is an impossible challenge on which to make a decision... 
PM: I was waiting for the fart of nonsense! 
NP: I thought he illustrated that quite well actually but er. So he was going to get to the end, that is your challenge, um... 
SF: But I didn’t because he interrupted me! So he proved himself wrong by interrupting me! 
NP: You didn’t because you interrupted me so it’s an impossible decision. The only thing I can do on this occasion is the thing I do about once in every series... 
SF: Oh no! Don’t do that! 
LT: Please! 

LAUGHTER FROM PM AND THE AUDIENCE 

SF: Oh you mean ask the audience? 
NP: Yes. 
SF: Right! All right, do that. Sorry I thought you meant the other thing! Whew! 
NP: Stephen you mustn’t give too much of my private life away. 
SF: Sorry. 
NP: Please. And... especially the way you say it! Leaves all kind of imagination there. But er they’ve gone... what I do... is ask the audience to be the superior judge and with the wisdom that I can see is in this audience at the present moment and the wit and the... Would you all decide whether Clement Freud deserves his challenge. And therefore you either cheer for his correct challenge and you boo for an incorrect challenge. And you all do it together now. 

CHEERS AND BOOS FROM THE AUDIENCE 

NP: I think the boos had it. It was an incorrect challenge so Stephen you have a point... 
SF: Thank you very much! 
NP: And you have that sinking feeling... 
SF: I owe a lot to boos! 

sábado, 11 de abril de 2009

Kurt Vonnegut

Eu acho que aquela pergunta de quem você gostaria de ver sentado numa mesa para conversar enquanto comendo um bom jantar deveria ser mudada. Não para uma versão com um balcão de pub, se foi nisso que vocês pensaram. Nem para uma versão na qual você teria direito a escolher uma pessoa para vê-la prender um pé num mata-burro. A ideia de conversar com a pessoa objeto de admiração fica mantida na sua essência, só a fórmula do encontro é que se torna melhor e mais simples. Em vez de se imaginar uma refeição com uma pessoa que você acaso ache que tenha alguma coisa a dizer, poderíamos ter o direito de jogar uma partida de pingue-pongue com elas - Forrest Gump excluído. Porque no restaurante você precisa esperar pela mesa, precisa ficar pensando no que vai pedir, uma série de regras de etiqueta podem te preocupar e tirar a sua atenção da pessoa. E sempre vai poder acontecer algum problema com a pessoa que estiver servindo.  

Já enfrentar, digamos, Kurt Vonnegut numa partida de pingue-pongue é uma atividade que não pode deixar de ser divertida. 


Partes 2, 3, 4, 5, 6, 7 e 8

sexta-feira, 10 de abril de 2009

The Catcher in the Rye - J.D. Salinger

Comparada com outras capas que eu vi no Google, a dessa edição sem dúvida é a mais sem graça. O que ela tem de peculiar é que ela é idêntica nos dois lados do livro: só essas palavras, nenhuma figura. Essa simplicidade de apresentação até condiz com a simplicidade do próprio estilo do autor, embora a história contada tenha muito mais agitação do que se poderia supor de um quadro opaco e cinza. 

A história contada é a de dois ou três dias na vida do adolescente deprimido Holden Caulfield. De dois ou três dias na vida de um adolescente que se deprime com quase tudo que ele faz, vê e escuta, em todo caso. Pelo sarcasmo e tal com que ele fala de tudo seria até estranho dizer que ele estivesse espiritualmente completamente abatido, mas a questão é que ele mesmo se afirma deprimido com uma porção de coisas. Com as garotas que ele vê num lobby e que ele imagina se casando com homens estúpidos, por exemplo. Com o pensamento de que se ele descobrisse a pessoa que roubou as luvas dele no colégio interno ele provavelmente não iria dar um soco nela, por exemplo. Acho que durante esses dias cinco minutos não se passaram sem que ele encontrasse um motivo novo para se sentir muito mal com alguma coisa. A ponto de ser morto por ela. Várias vezes ele reclama graciosamente de coisas que o estavam matando. 

"I was crazy about The Great Gatsby. Old Gatsby. Old sport. That killed me. Anyway, I'm sort of glad they've got the atomic bomb invented. If there's ever another war, I'm going to sit right the hell on top of it. I'll volunteer for it, I swear to God I will."  

Essa parte é engraçada. Ele estava falando de como o irmão dele tinha ficado no exército por quatro anos e da impressão que ele teve de que o exército estava tão cheio de canalhas como os nazistas. Quando eu leio alguém comentando situações vividas no exército e na guerra eu sempre fico com uma sensação de exótico. Os homens cujas circunstâncias de tempo e lugar fazem com que participar de uma guerra seja uma possibilidade real, quer dizer, esses me parecem criaturas exóticas que eu nunca vou conseguir entender de verdade. 

terça-feira, 7 de abril de 2009

Harmful if Swallowed - Dane Cook


A lista que eu finalmente consegui terminar de fazer, com tudo que eu tenho em mp3 e provavelmente algumas outras coisas em outros formatos, me traz algumas surpresas quando eu deixo a execução do Windows Media Player na ordem aleatória. Esse arquivo, por exemplo, foi uma agradável distração.

Eu até já meio que elogiei o Dane Cook aqui. E realmente não me parece que alguém vá poder acusá-lo de sensaboria. Mas o que me vem à cabeça dizer agora é algo muito bobo que eu ri muito quando eu li em algum blog que o Paulo Francis certa vez teria dito sobre Platão. Ou Sócrates, não me lembro bem. O completo absurdo foi o de que Platão tinha uma excelente prosódia. Ou Sócrates. Isso, segundo Paulo Francis. 

Ah, não tinha? Ah, nós não temos como saber isso?! Ah, Paulo Francis era um idiota que dizia coisas estúpidas achando que ninguém estava prestando atenção nas suas baboseiras? Bom, pelo menos nós temos como saber que a prosódia do Dane Cook é mesmo excelente. Foi para dizer isso que eu fiz este post, em todo caso. Ele tem. Metade da graça nas piadas dele está na segunda ou na terceira vez que ele diz uma mesma palavra. Reparem em como ele faz isso cada vez com uma prosódia mais excelente. 

***

Check out this motherfu&*#$.   

domingo, 5 de abril de 2009

Synecdoche, New York - Charlie Kaufman


Para observações sérias e corretas eu recomendo este post aqui, que chega a dizer que: "Desta vez, ele [Charlie Kaufman] parece ter pego a estrada maluco beleza sem o cinto de segurança de um diretor para policiar seus vôos, partindo numa jornada sem volta, mas com a fé do seu elenco de atores simpáticos à causa autoral e independente." Mesmo sem conhecer os detalhes de criação do filme, só sabendo de maneira genérica que é o primeiro que além de escrever o roteiro ele está também dirigindo, achei esse comentário bastante pertinente. 

O mais que eu poderia dizer, eu acho, já tem a ver com o que eu estava pensando enquanto assistia à história. E é sobre o erro crasso da insistência ou o mérito despercebido da desistência. Quer dizer, me parece muito claro que a civilização é a soma harmônica do esforço das pessoas que insistiram nas boas ideias com a contribuição não menos valiosa das pessoas que desistiram das más. Na dúvida, é claro, e em termos estatísticos, não prosseguir num determinado curso de ação e renunciar à satisfação de dizer que concluiu alguma coisa, na dúvida esse é sempre o melhor caminho, porque as chances de você estar fazendo algo errado ou simplesmente insignificante são bem maiores do que as chances de você estar acrescentando alguma coisa ao acervo das genialidades. 

Enquanto eu assistia ao filme eu fiquei pensando nisso. Que Charlie Kaufman poderia ter desistido de terminá-lo; Caden Cotard (Phillip Seymour Hoffman), de fazer a peça mais brutalmente honesta de todos os tempos; eu, de ficar sentado, vendo tudo isso acontecer sem a garantia de um resultado final positivo. Mas não. Ficamos nós três, por puro orgulho, tentando nos convencer de que valeria a pena ir até o fim. 

E fomos o mais longe possível. Charlie Kaufman, aliás, vai ter lá um filme com o seu nome creditado como diretor. Eu vou ter até um post dedicado ao filme. O Caden, no fundo, foi o mais conformado. Quando alguém disse que ele tinha que parar com aquele negócio de construir um palco do tamanho da própria cidade, ele aceitou parar de viver a sua vida como um dramaturgo monomaníaco e entrar na pele da arrumadeira da sua ex-mulher. Mas ele levou, o quê, dezessete anos para tomar essa decisão?! Não. Foi mais do que isso, eu acho. 

sábado, 4 de abril de 2009

Posts sobre como a pessoa sabe que está ficando velha

Quase todos eles são engraçadinhos. Mas quase todos eles nos despertam um sentimento de boa comiseração pela pessoa que está escrevendo, como se fosse uma dupla miséria a pessoa ficar velha e ainda por cima estar ciente disso. Lendo esses posts, em todo caso, você descobre que boa parte da população prefere estar esclerosada e inconsciente do tempo contínuo a olhar para o espelho e detectar uma ruga. O que divide tanto a atenção da indústria farmacêutica. 

Zelig - Woody Allen

Reading The Great Gatsby made me want to watch Zelig once more. Those images in black & white that keep coming to one’s head when one reads about people being told at dinner that there’s a long distance call from Philadelphia that needs to be taken now, they give me some sort of happy nostalgia. And so does this movie. I had tried renting it last week, but someone from the store told me the DVD was somehow out of order. I remember thinking why the hell they wouldn’t just throw away the DVD and simply remove it from the archives clients browse online. This unpleasant surprise was what happened to me: I picked the movie from the website only to receive a couple of minutes later a telephone call by which I learned the DVD was out order. I’m not even going to ask why it was available online if it was actually out of order. I’m just going to ask how exactly they expected it to be “in order” again in the future. Was there a guy working on it? I never heard of someone being able to fix a DVD. I never heard of a DVD that needed fixing in the first place.

What I did, I downloaded the movie. 

And there he was, right on the first scene, F. Scott Fitzgerald himself, sitting at a little chair next to a little table, alone in the middle of a garden – taking notes of what he was seeing in that party. Waal, what a few decades can do to one's literary methods. If somebody asked him to give some literary perspective on our present generation, instead of that of the 20’s, he probably wouldn’t even have to sit down. He certainly would turn down the little notebook he had in his hands. For a mere smartphone would have done the job. Standing in the middle of crowd, he would be able to portrait whatever he thought deserved to be portrayed all via Twitter. 

 
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