quinta-feira, 23 de abril de 2009

Biografias


Estava passando na televisão um especial sobre Ian Fleming. Eu não sabia que ele tinha chegado a trabalhar como espião da marinha britânica na Segunda Guerra, o que é mais ou menos o equivalente literário, eu imagino, de alguém não saber que Arnaldo Cézar Coelho um dia foi juiz de futebol.

Mas eu também descobri que Ian Fleming foi um concurseiro fracassado. Quando ele saiu de uma universidade austríaca, e nem me lembro se tendo concluído ou não a sua formação em alguma coisa,  ele tentou a prova de ingresso no serviço diplomático britânico. Reprovado muito abaixo da média mínima, parece. Ele tinha 23 ou 24 anos. A mãe dele é que, tão dominadora quanto excêntrica, ela é que achava que ele deveria ter alguma ocupação profissional. Ele acabou preenchendo uma vaga de jornalista na Reuters, onde ficou até que uma posição numa corretora de ações aparecesse como emprego que lhe permitisse comprar um apartamento. Algum tempo depois ele foi convidado para uma missão de espionagem na Rússia e, mostrando-se habilidoso no ofício, assumiu o comando de um grupo de agentes britânicos responsáveis por sabotar Hitler. Eram os Fleming's Pirates, eu acho. 

Nesse emprego ele conseguiu férias de 60 dias ao ano, o que ele aproveitava para visitar uma casa que ele tinha construído na Jamaica. Nenhuma janela dessa casa tinha vidro, pelo que eu me lembro. E ouvindo o caseiro dele falar de algumas celebridades que costumavam passar uma temporada naquela praia, o seu sotaque e a sua gramática tão ruins que os próprios produtores colocaram legendas em inglês, eu me lembrei do sujeito que fez uma ligação para o 911 para reclamar que o Burger King não estava servindo limonada. 

O que eu estou escrevendo neste post está tão concatenado com o que eu estou escrevendo neste post que eu vou mudar de programa. 


Depois do especial Ian Fleming começou a passar o especial Tolstoi. Desse último eu não unicamente assisti a alguns filmes originados dos seus livros, como no caso do Ian Fleming, mas até já li alguma coisa que ele escreveu. Só o Anna Karenina, para falar a verdade. Não consegui ver tudo até o final, mas parei numa época em que ele já tinha escrito Guerra e Paz - já tinha superado a gonorréia adquirida nos melhores recantos de Moscou, portanto -, já era aclamado como a verdadeira voz da Rússia e já estava escondido numa fazenda, tentando reformar a humanidade com uma escola para servos. 

Acho que no programa do Tolstoi uma tataraneta dele estava falando sobre algumas coisas da sua intimidade cotidiana. Ela dizia coisas como "Ah, mas ele não estava muito com a intenção de parar com a devassidão e com a bebida!" com o mesmo grau de proximidade que o caseiro lá estava falando do Fleming, por coincidência sobre essa mesma inclinação para o que nós poderíamos chamar candidamente de farra. 

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