sábado, 18 de abril de 2009

God bless you, Mr. Rosewater; or: Pearls before Swine - Kurt Vonnegut

Eu já cheguei à conclusão de que é melhor ler os livros do Kurt Vonnegut sem ter a noção exata da ordem em que eles foram escritos e da evolução histórica dos mesmos personagens que esses livros sempre mostram. É a mesma coisa que acontece quando você tem que fazer um determinado trabalho que se divide em várias etapas. É mais legal fazer tudo fora de qualquer ordem e de uma hora para outra descobrir que você já terminou do que fazer tudo na sequência normal e ter que ficar contando ansiosamente cada passo antes de concluir. 

Um das coisas que aparecem nesse livro, por exemplo, antes ou depois retratadas no Slaughterhouse 5, é o bombardeio da força aérea americana em Dresden. O assunto é tratado quase pecaminosamente. Não bem isso, quer dizer. O que acontece é que Eliot Rosewater fica tão desconcertado com o livro de Hans Rumpf, The Bombing of Germany, que ele guarda escondido o livro da mesma forma como pervertidos guardam escondido o seu acervo de pornografia. KV, que estava na infantaria do exército à época, ficou tão traumatizado com aquilo testemunhado do chão, enquanto as bombas caíam, que ele demorou alguns anos até conseguir encontrar a melhor maneira de colocar isso num romance. 

O grande maelstrom, no entanto, para o qual toda a sua obra é atraída e no qual toda a sua obra é aglutinada, é a figura estrambólica do escritor de ficção científica Kilgore Trout - o vastamente ignorado maior escritor de todos os tempos. Além das breves menções aos seus livros*, Kilgore aparece, aqui, como uma espécie de consiglieri de um sujeito que, ao seu modo bem peculiar, é uma espécie de chefão. Mais para o final ele chega até a participar de diálogos e tudo, o que nem sempre acontece nos outros livros. Mas aqui, por força de contrato, ele explica direitinho como as coisas que nós acharíamos lunáticas são, na verdade, um pouco razoáveis. Ou pelo menos aconselháveis de serem feitas por pessoas ligeiramente preocupadas.    

No outro lado da história está o jovem advogado Norman Mushari, tentando se assenhorar de uma parcela da imensa fortuna até o momento deixada nas mãos perdulárias de Eliot Rosewater. Mas isso ele tenta fazer sem infrigir a lei, só interpretando como lunático o estilo de vida de Eliot e só querendo fazer valer uma cláusula do estatuto da Rosewater Foundation que proibia de ser nomeado presidente da fundação um indivíduo legalmente tido por insano.

Trascrevo uma parte que não tem nada a ver com o que eu disse neste post, mas que tem a ver com o que eu pensei sobre os instrumentos tecnológicos às vezes acabando com ótimas piadas. Desde uma coisa chamada Winamp, eu acho, ninguém mais vai ouvir falar de uma coisa parecida com isto:

"There is music all day long, and Mrs. Buntline said what she enjoyed more than anything was picking out a musical program at the start of every day, and loading it into the record changer. This morning there was music coming out of all the loudspeakers, and it didn't sound like any music I had ever heard before. It was very high and fast and twittery, and Mrs. Buntline was humming along with it, rocking her head from side to side to show me how much she loved it. It was driving me crazy. And then her best friend, a woman named Mrs. Rosewater, came over, and she said how much she loved the music, too. She said someday, when her ship came in, she would have beautiful music all the time, too. I finally broke down and asked Mrs. Buntline what on earth it was. "Why, my dear child", she said, "that is none other than the immortal Beethoven." "Beethoven!", I said. "Have you ever heard of him before?", she said. "Yes, mam, I have. Daddy Parrot played Beethoven all the time back at the orphanage, but it didn't sound like that." So she took me in where the phonograph was, and she said, "Very well, I will prove it is Beethoven. I have loaded the changer with nothing but Beethoven. Every so often I just go on a Beethoven binge." "I just adore Beethoven, too, " Mrs. Rosewater said. Mrs. Buntline told me to look at what was in the record changer and tell her whether it was Beethoven or not. It was. She had loaded the changer with all nine symphonies, but the poor woman had them playing at 78 revolutions per minute instead of 33, and she couldn't tell the difference."



* Num dos que eu me lembro agora, Kilgore Trout narra a saga de uma nação inteiramente dedicada ao combate aos odores.  O ditador supremo da nação, mesmo depois notáveis avanços na indústria de desodorantes, decide por eliminar os narizes como solução final ao problema. 

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