sábado, 15 de agosto de 2009

Tricky drink

Sábado à noite. Sozinho no seu quarto um jovem tem nas suas mãos um drink para obnubilar a tristeza que o abate. Se rios fossem de beber, ele seria um pato mergulhador. Ele sorve a última gota, insatisfeito. Seus olhos distraídos e medrosos giram pelos cantos em busca de respostas. Passam pela janela, pelo teto, pelos objetos espalhados no chão. Por providência eles param no drink, naquele último refúgio conhecido. Demoram-se um pouco ali, recatados e imóveis. Não tem como saber quanto tempo se passa assim. Saindo do estupor paralisante, no entanto, aos poucos uma súbita sensação de atividade cerebral vai tomando conta dele, como se finalmente ele tivesse reatado com o mundo uma relação de interferência recíproca, mínima que fosse. Encabula-se, por fim. Atrás da caixinha de Toddynho que ele estava tomando, cáustico como a própria bebida, depara-se com isto: “DESEMBARALHE AS LETRAS e descubra quem é que mais precisa que você jogue lixo no lixo”. Ele processa. Aquilo era uma pergunta? Por Deus, o que ele faria com mais uma pergunta? O que mais uma pergunta adiantaria a ele? Não, aquilo não era exatamente uma pergunta. Era uma afirmação indagativa. Uma funesta afirmação indagativa. Alguém precisa, parece, que se jogue lixo no lixo, alguém que pode ser descoberto pelos consumidores de Toddynho. Ele processa. Desviando-se, pensa como é que alguém pode dizer que alguma coisa é lixo antes que essa coisa de fato esteja no lixo. E pensa para quê alguém precisa chamar de lixo alguma coisa que já esteja no lixo. Ele processa que aquelas eram outras perguntas e que para o momento o que ele precisava era de respostas. Disposto a desvendar aquele mistério apresentado pela indústria de laticínios ele então tenta desembaralhar as letras e identificar aquele que mais precisa que se jogue lixo no lixo. O que se mostra tricky. As letras embaralhadas não estão exatamente dispersas pela embalagem, mas, ao fundo, a imagem de um globo terrestre e de uma caixinha de toddynho, viva, atirando uma bolinha de papel numa cesta azul, confundem. “aetnpla raTer”. Alguém precisa que se jogue lixo no lixo e para saber quem você precisa desembaralhar as letras “aetnpla raTer”. Tricky.

Um comentário:

Neto Torcato disse...

R.: O planeta Terra.

 
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