segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

September - Woody Allen

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A tendência geral de considerar os filmes mais antigos do Woody Allen como sendo soberbamente melhores do que os mais recentes, se é injusta com algumas excelentes comédias que ele lançou nos últimos anos, é também inapropriada com algumas chatices que ele produziu no passado distante. Toda vez que a Mia Farrow estava lá, pelo menos, era garantia de que umas três ou quatro cenas dela se lamuriando com a vida iriam aborrecer o espectador ao limite do insuportável, com a contaminação do resto. Essa guria pediu para nascer chata e Deus concedeu que ela assim o fosse inclusive quando ela estivesse interpretando personagens que não existem.

Uma das explicações para a preferência que se observa pelos filmes mais antigos, de toda maneira, só pode ser a participação do Woody Allen como ator, que costumava ser mais frequente. Mas neste filme aqui, nem isso acontece para dar a chance a quem está assistindo de experimentar alguns instantes de verdadeira admiração.

A história é a de uma casa afastada de Nova Iorque, onde, em regime de boa vizinhança, dois sujeitos passam o tempo todo, amigos das duas amigas que estão morando lá. A mãe e o padrasto da dona da casa estão de visita e eles dançam e bebem e conversam sobre como a filha precisa dar um jeito na vida dela. A filha é a Mia Farrow, que está apaixonada por um dos sujeitos, mas que só recebe o afeto do outro. Falta energia e tudo, no dia de uma festinha que eles tinham marcado, o que eu considerei o critério definitivo de que a coisa toda era meio um especial Malhação de férias, em que os amigos da escola viajam para a fazenda -- só que para o público tomador de vinho importado.

Uma cena eu achei bastante curiosa. Numa hora lá, jogando sinuca, o padrasto faz um discurso que é essencialmente o mesmo que o Boris faz no Whatever Works quando ele foi pedir a guria em casamento. Eles falam da neutralidade moral do universo e da sua indizível qualidade violenta. Para quem toca clarinete nas horas em que não está fazendo filmes com a Scarllet Jonhansson, até que Woody Allen se preocupa bastante com a violência que acomete o mundo, eu acho.

A referência do título é ao tempo que está chegando depois que os personagens da casa (não, não é uma Malhação para o público tomador de vinho importado, é um BBB) vão seguir cada um o seu caminho. Eles se encontram dentro da casa, ali eles também vão se perder, mas o que importa é que depois eles vão para outros lugares e o que está aguardando por eles nesses outros lugares tem valor pelo único fato de que ainda não aconteceu. E que portanto ainda não está definido. É o clássico ensinamento que todo mundo tem tentado comunicar a mim, resumido na cena em que a mãe diz que a única coisa triste é se olhar no espelho e perceber que o que está faltando é o nosso futuro.

2 comentários:

chico barney disse...

velho, discordo de quase tudo. mas vc é o melhor blogueiro em atividade. sério mesmo.

Neto Torcato disse...

Obrigado, velho. A parte do blogueiro em atividade, pelo menos, eu vou tentar realmente ser. Mas não vai dizer que você gosta da Mia Farrow, gosta? Só seria legal ela voltar a fazer um filme dele se ele gravasse mesmo um filme no Rio e ela fosse uma hipocondríaca que tivesse medo de calor e tal. As reclamações dela, nesse caso, seriam muito bem fundamentadas, aliás.

 
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