sábado, 16 de outubro de 2010

My Man, Jeeves - P.G Wodehouse

Curiosamente, foi numa época em que eu praticamente não saía de casa que eu comecei a baixar arquivos com gente ou computadores lendo livros. Baixava quase sempre no site do projeto Gutemberg e, ao contrário da maioria das pessoas, eu acho, me divertia bastante ouvindo as máquinas proclamando monotonicamente o texto. Elas não dominavam a prosódia em todos os seus limites, variáveis e detalhes, eu notava, mas tampouco eram acometidas por tosses incômodas ou súbitos embargos na voz. Eu também gostava, enquanto escutava a gravação, de ler os textos naquele formato bloco de notas em que você continuava lendo sem interrupções, porque você não tinha páginas definidas e o margeamento era bem menos que regular.

Falo sobre audio livros porque esse tipo de atividade voltou a fazer parte da minha rotina, dessa vez justamente porque eu passei a gastar uma boa parte do meu tempo fora de casa, mais precisamente, dirigindo. My Man, Jeeves foi o primeiro que eu baixei de um catálogo consideravelmente extenso, para ser gratuito, e que eu recomendo a qualquer um como fonte de opções em matéria de coisas a serem ouvidas em viagens semanais. Ali serão encontradas gravações de diferentes qualidades, todas humanas, eu acho, e as opções de download são boas. Você poderá escolher tocar o arquivo na própria página ou poderá, ainda, baixá-lo compactado.

A cronologia das histórias do livro é que me deixou um pouco perdido, se bem que, mesmo agora, eu entenda que ela faz todo sentido com o resto do que eu sei sobre a saga. O primeiro livro da série que eu li, Right-Ho Jeeves, eu li mais ou menos na mesma época em que eu baixei os episódios feitos para a televisão. A minha lembrança é a do Hugh Laurie, como Bertie, chegando em casa completamente embriagado, depois de receber uma sentença penal condenatória, por ter roubado o capacete de um policial, e a do Stephen Fry, como Jeeves, entrando pela porta, colocando em ordem a bagunça espalhada e preparando uma poção estimuladora da sobriedade. Tudo isso se passando, é claro, em Londres.

My Man, Jeeves, narra episódios que se passaram durante a estadia do Bertie nos Estados Unidos, o que eu me lembro como tendo sido mostrado também na série. O aparente problema, na minha cabeça, é que neste livro são feitas algumas menções a acontecimentos que teriam acontecido antes que ele fosse para Nova Iorque, como, por exemplo, uma confusão havida na tentativa de livrar o Gussie (o primo de aspecto algo piscino) de um casamento indesejável. Eu me lembro disso acontecendo na série, mas sinceramente não sei se teria sido antes ou depois da temporada americana. Aqui entre nós, aliás, foram tantas as vezes que o Bertie resolveu se encarregar de salvar o Gussie dos e nos seus casamentos que essa minha dúvida cronológica fica sendo até boba, quando não é impertinente.

O livro, de toda maneira, pode ser lido e devidamente aproveitado sem esses conhecimentos prévios e sem se tornar angustiante pela ausência de informações sobre o futuro. Os capítulos são quase verdadeiros contos independentes. Bertie Wooster aparece inicialmente narrando uma estúpida briga com o seu mordomo envolvendo alguma peça da sua indumentária, para logo depois tentar se reconciliar com Jeeves, no que este dá conselhos a algum amigo do patrão acerca das mais variadas miudezas com as quais uma pessoa pode se complicar. Geralmente esse amigo tenderá à nesciedade, podendo essa condição ser agravada pela dependência financeira de algum parente. Jeeves aparece como o cérebro dos esquemas necessários à sobrevivência digna em meio à geral periclitância.

É bom dizer que nem todas essas histórias, apesar do título, se passam com esses dois. Três ou quatro dos capítulos, não sei bem, têm outro narrador, um tal Reggie Pepper. São histórias que eu achei bem menos cativantes, não importa o quão similares possam ser os estilos, que de fato se constroem em cima de narrativas em primeira pessoa -- em ambos os casos a frivolidade absoluta sendo a característica principal dela.

A gravação que eu peguei é feita por um americano e tem 5,2 horas de duração, de acordo com a iTunes.


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