sábado, 23 de agosto de 2008

O Chefão - Mario Puzo


Arranjei este livro num sebo, em troca de um monte de pocket books que eu tinha por aqui. A grande vantagem é que eu fiquei com aquele tema musical na minha cabeça, e durante os dias em que estive lendo o livro, por várias vezes eu o executava mentalmente enquanto dizia e fazia coisas que me parecessem de alguma forma astutas. E o que é impressionante é que, sob o efeito da música, essas coisas que eu dizia e fazia, por mais tolas e anódinas, pareciam mesmo de alguma forma astutas. Pelo menos suficientemente astutas, em todo caso, para me fazer pensar que espécie de chefão da máfia eu seria.

Às vezes eu ergo as mãos como um velho siciliano e procuro, com uma rouquidão postiça, passar por um homem de respeito. Nada acontece. A minha falta de carisma e de paciência para ajudar os outros não permitem que eu seja um grande Don, mas talvez eu tivesse algum futuro como consigliori. Acho mesmo que, sob as circunstâncias corretas, eu poderia me tornar um excelente caporegime, a julgar que minha lealdade a um grande Don pudesse fazer emergir alguma ferocidade que estivesse latente.

***

A leitura foi muito agradável, como particularmente agradável foi o primeiro contato que eu me lembro de ter feito com a história dos Corleone. Estou falando dos filmes, é claro. Não me lembro se eu já havia assistido a algum de forma mais detida antes de ter arrancado meus dentes sisos, alguns anos atrás. Certamente eu não tinha na minha cabeça todos os detalhes da história quando, numa semana que passei inteira em casa, só tomando sorvete e me recuperando da operação, aluguei os três filmes de uma só vez. Nessa ocasião foi que eu fui conhecer melhor a Família e, ao meu jeito, me tornei "amigo dos amigos". Já agora eu não me lembro de algumas partes que possivelmente eu deveria lembrar, se fosse minimamente sério o meu intuito de fazer uma comparação entre as duas versões.

***

Leio na contracapa deste livro que Mario Puzo participou da adaptação para o cinema.

***

Uma das coisas que eu não poderia deixar de falar é sobre o trabalho de tradução para o português. Bom, na medida em que traduções podem ser satisfatórias, as minhas reclamações contra a que foi feita nesse caso não são muitas. E eu não tenho o original em mãos para criticar muita coisa, é claro. O que eu de fato posso dizer é que certas passagens me fizeram parar e ponderar no que poderia estar o tradutor pensando quando escolheu determinadas palavras e expressões. Por exemplo, quando Sonny Corleone se irrita com a presença de oficiais do FBI no estacionamento da Alameda de Long Beach, no dia do casamento da sua irmã.

Muito bem. Vamos conceder ao tradutor que a semelhança mais próxima no banditismo nacional da primeira metade do século XX, o que talvez mais apropriadamente possa ser considerado uma forma de organização criminosa nos moldes da Máfia, seja o nosso cangaço. Vamos conceder, ainda, que era preciso traduzir o livro não com a intenção de manter no maior grau possível o estilo original, mas com o firme propósito de o tornar palatável, e mesmo familiar, ao público brasileiro. Poderíamos conceder ao tradutor fosse o que fosse: daí a achar que o filho do mais poderoso Don de Nova Iorque irá dizer "Cabras safados!" para manisfestar a sua raiva contra oficiais do FBI já é um pouco demais.

***

Sobre as inconsistências propriamente ditas que eu encontrei entre o livro e o filme, no que diz respeito a coisas que acontecem nas duas histórias, algumas devem ter uma explicação muito boa que eu desconheça. Possivelmente "inconsistência" não seja bem o que eu queira dizer, porque o que normalmente acontece, que é o filme suprimir passagens do livro, não aconteceu. O filme é que aparentemente inovou. No livro, por exemplo, não encontrei referência ao fato do Vito Corleone ter retornado à vila de Corleone para vingar a morte do seu pai, logo nos primeiros dias em que sua carreira de criminoso prosperou em Nova Iorque. Isso, no filme, é basicamente crucial para a sua caracterização. A mesma coisa vale para a tramóia de Freddie para aniquilar Michael, que é mostrada no segundo filme, e mostrada como um dos pontos mais dramáticos de toda a história, e que não tem qualquer respaldo na história do livro.

[Basta. Googlei o assunto e confirmei que o segundo filme e (principalmente) o terceiro não foram baseados no livro. Fim do do colchete e do post].

Nenhum comentário:

 
Free counter and web stats