quarta-feira, 4 de março de 2009

Eastbound & Down


Já posso anunciar umas das coisas que eu tenho a dizer sobre a Dixieland: a de que existe uma Síndrome de Tannhäuser nas séries de TV com personagens destinados a, ou oriundos dessa região. Se vocês tiverem alguma dúvida, olhem bem para esta foto. Este pedaço de estrambotismo aí um com esse mullet invasivo, esse cavanhaque cretino e uma barriga no meio, é Kenny Powers. Dá para adivinhar, não dá?, que ele está querendo se redimir e tal, talvez encontrar a luz para uma existência mais chã depois de passar uma boa temporada de luxúrias em alguma versão wasp do Castelo de Vênus (onde trovadores de talento como o atormentado Tannhäuser tinham a chance de transitar entre ninfas sibilantes de disposição voraz para a mais antiga forma de diversão se apenas eles aceitassem renunciar toda espécie de contemplação e de inclinação para uma carreira monogâmica com alguma filha de algum rei). 

O problema é que o nome do Kenny Powers não é Earl. 

Mas essa versão wasp do Castelo de Vênus, no caso do Kenny, não foi tanto um lugar místico para o qual ele pudesse ter ido. Foi, ao contrário, uma permanente rotina como astro de beisebol, algo que não é difícil de imaginar como sendo frequentemente caracterizado por ninfas sibilantes transitando num entorno muito próximo, inteiramente convidativas. 

Acho que é mesmo inevitável comparar Eastbound and Down, nova série da HBO, com My Name is Earl. A começar pelo fato das duas se passarem num recanto escondidinho do Sul dos E.U.A -- com os personagens mentally irregular e socially inept que esta circunstância necessariamente obriga os escritores a criarem --, passando pelas opções de direção -- marcada por várias cenas externas e execuções da versão do Bad Company de Black Betty --, até chegar ao elemento definitivo da Síndrome Tannhäuser: os personagens principais serem grandes idiotas entorpecidos por cavalares doses de egoísmo e buscarem fazer as pazes com o passado por meio de um rebaixamento humilhante a uma situação geral de perfeita penúria, a toda hora se sentindo almas divididas entre o bem e o mal, a toda hora se lembrando de como era legal fazer parte de um círculo algo inescrupuloso e esnobe de acquaintances e de como agora é chato ter que viver mediocremente, ordinariamente. Foi mais ou menos isso, em todo caso, que eu me lembro de ter visto na ópera de Wagner e que eu vi em My Name is Earl e que eu estou vendo em Eastbound and Down.

Espero que as minhas epifanias sobre esse assunto continuem e até aumentem quando eu conseguir me lembrar de marcar um almoço no Kentucky Fried Chicken

E eu não consegui encontrar uma foto do Will Farrell com uma peruca assim explicada: a aparência que o cabelo do Supla teria se ele deixasse crescer e alisasse como caixas de supermercado às vezes alisam. 

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