sábado, 20 de setembro de 2008

Das Leben der Anderen - Florian Henckel von Donnersmarck


Lançado como A vida dos outros. E parando para pensar, acho que eu li há alguns meses uma crítica publicada na Veja sobre esse filme. Acho mais. Acho que essa crítica estava acompanhada de uma outra, sobre um filme do Viggo Mortensen. A substância dessas duas críticas, até onde eu me lembro, era revelar ao leitor a bombástica novidade de que as aparências podem enganar. Sobretudo no que diz respeito ao caráter das pessoas. Ora, de alguma forma até hoje insabida, alguém na Veja conseguiu deduzir coerentemente o postulado de que um cidadão aparentemente bonzinho pode ser, na verdade, um crápula. Para tanto, é óbvio, utilizando em algum momento a palavra "emular", que a lei não pode ser descumprida.

Mas no caso do espião da Stasi encarregado de bisbilhotar todo mundo que representasse alguma ameaça ao Partido, nas horas vagas interrogando suspeitos à exaustão e ensinando suas técnicas maquinalmente eficientes a uns alunos mais ou menos dedicados, mais ou menos suscetíveis de aceitar tranquilamente as atrocidades que lhe eram ministradas, as aparências enganam no sentido inverso. O sujeito que tinha tudo para ser o diabo encarnado, por natureza e ofício impiedoso, é o sujeito capaz dos atos de gentileza e bondade. Mais do que isso: é o sujeito capaz de praticar secretamente o bem em detrimento do seu próprio orgulho e bem-estar.

Eu realmente gostei desse filme. Mesmo em circunstâncias absolutamente desfavoráveis, um monte de gente passando no meio da sala e bloqueando o que eu estava vendo, consegui não perder a concentração. A nota de peculiaridade fica com o especialista que é chamado para descobrir em que máquina de escrever tinha sido escrito um artigo incendiário contra o regime comunista, artigo esse sub-repticiamente publicado na revista Der Spiegel de maneira anônima. Aquele cara pode bater no peito e dizer que é especialista.

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