domingo, 7 de junho de 2009

Shadows and Fog - Woody Allen


Eu sei qual é uma das vantagens de saber representar. Uma das coisas que você ganha por saber representar é a chance de fazer as caras que o Woody Allen faz quando ele consegue escapar de um maníaco homicida, entrando dentro de um espelho mágico junto com o Armstead, The Magician. São as caras mais engraçadas, mais inofensivamente idiotas. Se eu tivesse talento para transfigurar a minha expressão como eu bem entendesse, independentemente de uma eventual sensação real que eu pudesse estar experimentando, eu não tenho dúvidas de que eu imitaria o Kleinman. Mas como eu dependo de estar passando realmente pela situação para fazer a correspondente expressão com o rosto, no fundo eu deveria é agradecer por não precisar fazer a cara de alguém que esteja fugindo de um maníaco homicida e que apenas por alguns instantes tenha encontrado um refúgio seguro. 

Eu vou dizer outra coisa que eu sei, que é o problema de ser novo e de começar a assistir aos filmes do Woody Allen indo dos mais recentes para os mais antigos. O problema disso é que quanto mais você vai gostando do diretor, e mais vai procurando os filmes antigos, mais você vai encontrando no seu caminho uma pessoa chamada Mia Farrow. A uma certa altura da sua tarefa de assistir aos filmes do Woody Allen é simplesmente impossível você não se deparar com ela. Ela tem sempre o jeito de alguém que vai se arrepender de uma grande besteira que ela vai fazer. E ela realmente faz grandes besteiras das quais ela deveria mesmo se arrepender. 

Em Shadows and Fog, no entanto, quando você acha que todas as personagens erradas já apareceram - isto é, no primeiro instante depois que você olha para a cara da Mia Farrow -, eis que uma força insuperável te arrasta para o chão. A força de... Madonna. Ela aparece como uma das funcionárias do circo, se eu me lembro bem, o que constitui um duplo mau gosto. Outro dia eu vi um filme na locadora - eu já escrevi isso aqui?, se já, fica a ênfase -, outro dia, eu dizendo, eu vi um filme na locadora, um daqueles em que as pessoas colocam o depoimento de jornalistas como atrativos para consumidores indecisos. Como se três palavras talvez publicadas no L.A Times fossem resolver o assunto. Mas estava escrito na capa desse filme o que eu pensei que um jornalista tinha escrito. Estava escrito "Isso mexe comigo". Eu me lembro de pensar que era o argumento mais sórdido que alguém poderia conceber para popularizar um filme, principalmente vindo de um jornalista. Incrédulo, eu peguei a caixinha do dvd para ler aquilo direito. A crítica, eu descobri, era da Madonna. Eu juro que eu olhei para os lados, balançando afirmativamente a cabeça, um riso sardônico se abrindo no meu rosto e as minhas sobrancelhas se arqueando sugestivamente (um exemplo de uma situação extrema me obrigando a fazer uma cara engraçada, aliás). 

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