domingo, 1 de fevereiro de 2009

The Day of the Locust - John Schlesinger



Em mais de duas horas eu experimentei sensações perfeitamente antagônicas em relação a esse filme. A começar pelo personagem que eu considerava ser o principal. Na primeira parte eu me convenci de que era o Tod, o jovem e talentoso desenhista que chegava a Hollywood para conquistar o seu espaço nos bastidores de um grande estúdio. Ele até alugou um apartamento naquele condomínio ominoso em que as estrelas costumavam morar numa certa época que é sempre mais antiga do que a época em que a história se passa. Todo filme sobre como fazer um filme mostra esse condomínio. É o mesmo, acho, onde mora uma daquelas moças do Mulholland Drive -- com umas paredes brancas arqueadas, um belo jardim e até um indispensável anão. Mas logo a história se desvia para a mulher que o Tod está tentando conquistar, Faye. Se desvia mesmo. Tod é deixado totalmente em segundo plano até que a atenção dada à própria Faye é substituída pela que se dá ao Homer Simpson. O nome do sujeito com quem a Faye vai morar é Homer Simpson (Donald Sutherland). Ele cozinha bem e aceita que uns amigos dela, mexicanos profissionais do negócio das brigas de galo, se mudem para a garagem. Enquanto isso Tod está progredindo no estúdio, caindo nas graças de um alto executivo. Como eu disse, minha opinião sobre o filme variava conforme as horas iam se passando. O início foi legal. A primeira cena é no jardim do condomínio e Jeepers Creepers está tocando. Aliás, essa música toca um monte de vezes, inclusive quando a Faye descobre que o seu pai, um palhaço aposentado, estava fingindo morrer em seu leito. Tomada de raiva, ela começa a berrar a letra, quase rasgando a roupa. Mais ou menos por aí eu já estava um pouco sem paciência, porque o pai dela, para mim, já ia tarde. Detesto palhaços. Detesto ainda mais palhaços saudosistas. Cheguei até a dormir. Nada parecia que iria a algum lugar. O final do filme já estava chegando, os personagens ainda apenas orbitando em torno do sucesso em Hollywood. Se terminasse daquele jeito, o filme seria realista, eu imagino, na mesma proporção em que desprovido de graça. Faye estava de cocote em frente a um cinema, esperando as estrelas que chegariam para a estreia de The Buccaneer; Homer Simpson perambulava pelas ruas com as suas malas, sem rumo depois de ter sido abandonado pela amante; Tod andava também sem destino. Um pirralho (ou talvez fosse menina, confesso que não sei) muito chato que morava no condomínio, então, aparece para infernizar Homer Simpson. Homer Simpson, depois de perseguir sofrivelmente o guri, quase caindo com os olés que ele estava tomando, finalmente se beneficia de alguma coisa na história: do tombo que o próprio pirralho tomou. Daí, transido de ódio, ele começa a pular em cima da criança, esmagando-a insistentemente. Fiquei interessado. A multidão que estava por perto, à espera das estrelas, percebe que alguma coisa de errado estava acontecendo. Sai enfurecida e o segura. Agora ele começa a ser espancado. Na confusão do momento, Faye é violentada por dois homens. Tod é arrastado e se perde. Depois de um tempo ele consegue escapar, debruçado e ferido no chão. Ele levanta os olhos e ao fundo de toda aquela baderna ele enxerga um homem mascarado. Ele reconhece que aquele homem tem o mesmo semblante de um desenho que ele havia feito uma vez. Agora nós descobrimos que Tod era uma espécie de Mãe Dinah cruzada com Chico Xavier -- os seus desenhos são representações de uma tragédia futura. No meio dos incêndios, dos saques e das depredações, ele começa a perceber que tudo aquilo ele já tinha ilustrado. Como aquele cara em Heroes. Só que não aparece ninguém para tentar dar um jeito. O cômico fica por parte de um locutor que estava em frente ao cinema, entrevistando os atores e atrizes que chegavam. Ele não tinha um ponto de vista favorecido do qual ele fosse capaz de distinguir o massacre que estava acontecendo de uma mera agitação dos fãs.

Nenhum comentário:

 
Free counter and web stats