sábado, 31 de janeiro de 2009

Bonnie and Clyde - Arthur Penn


Não sei como esse filme é um dos prediletos da minha infância. Não sei onde eu via ou quem me deixava assistir. A memória que eu tenho, um pouco nebulosa e imprecisa, não é errada. A cena final das metralhadoras não me deixa mentir. Tenho ainda uma outra lembrança da história de Bonnie & Clyde de um desenho, acho que uma versão de Esqueceram de Mim que passava em algum lugar.

O mais nostálgico é a trilha sonora totalmente hillbilly. Revendo o filme, não pude escapar da sensação de imaginar Bud Spencer aparecendo a qualquer momento e dando estrepitosos murros em alguém. Mas em termos de figuras histórias dando as caras, nada supera Gene Hackman. O filme é de 1967 e ele já estava com aquela mesma cara. Já era careca. Já se parecia com alguém não merecedor de confiança. Eu não entendo como ele entrou para a carreira in the first place. Não tem um filme dele em que ele não apareça com aquela mesma cara. Senhores e senhoras deste suposto júri, isso não faz sentido.

Ele conta sempre uma mesma história, sobre um filho que colocava um pouquinho de álcool no leite da mãe para atender a ordens médicas. Sem saber de nada, a mãe bebe o leite e começa a gostar. Faz isso por uma semana, a cada dia bebendo um pouco mais do que no dia anterior. Vem, então, uma punch line chocantemente sem graça. Ele ri como uma criança. Eu adorei quando ele foi contar essa mesma história para um casal que eles tinham acabado de conhecer. Eles, quero dizer, os integrantes da Barrow Gang. E o varão desse casal é ninguém menos que Gene Wilder. Enquanto Hackman vai entretendo o abobalhado Wilder e sua noiva -- ambos, incidentalmente, capturados --, todo mundo que está no carro faz uma cara de obsessivo tédio. Seria uma foto perfeita, para quem gosta de registrar esse tipo de coisa.

Igualmente memorável é o recrutamento de C.W. Moss para a gangue, ele que até então estava tentando ganhar a vida honestamente, trabalhando num posto de gasolina, depois de uma temporada passada num reformatório. Bonnie lhe pergunta se ele saberia dizer que tipo de carro era aquele que ela estava dirigindo. Ele responde com todas as especificações possíveis. Ela diz que ele está errado. Ela diz que a primeira especificação a ser considerada é a de que o carro é roubado. Ali foi o primeiro olhar de C.W. sendo desviado da sua interlocutora, o seu primeiro pensamento de que ele estava em apuros. Quando ela se apresenta como ladra de bancos, o paninho que estava nas mãos de C.W é atirado ao chão, como dizendo "I'll be damned". Socos de incredulidade na pilastra de madeira. A expressão de quem está prestes a sucumbir a uma tentação, a expressão de quem quer mostrar que tem coragem suficiente para sucumbir a uma tentação: taí o que diferencia o homem dos animais.

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