segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Europa - Lars von Trier



Difícil saber por onde começar. Acabei de ter uma experiência surreal assistindo a esse filme. Em algum momento eu me lembrei de que alguns anos atrás eu tinha sonhado com o momento em que eu respondia uma coisa muito específica a um comentário que alguém, chocado, fazia sobre uma cena em particular. Cheguei a declarar que o momento era uma repetição, ou talvez até uma projeção do que eu já tinha sonhado, mas não fui levado a sério. Pensaram que eu estava enganado. Mas se isso foi apenas uma espécie de confusão mental, irrelevante ao exame mais superficial que se fizer da situação, devo informar que talvez eu tenha sonhado algumas outras fantasmagorias durante o próprio filme. Tudo a indicar um grande potencial para o universo da imaginação, em todo caso. Teve um momento em que eu cheguei a fechar os olhos e a me desprender da ocasião de estar assistindo a um dvd. Minha percepção se dirigiu a outros planos. Logo depois eu voltei, desperto e ultrassensível. Agora que eu escrevo, me encontro num estado de vigília inconsistente. Também, a história favorece esse tipo de coisa. Imaginem um sujeito que poderia ter uma vida confortável e próspera em Boston, ou em qualquer outra cidade confortável e próspera dos EUA, indo para a Alemanha em outubro de 1945, para trabalhar numa companhia ferroviária. Lugar e época infelizes, conturbados. Você olha para a janela e só vê desordem. Destroços dos bombardeios aéreos; crianças famintas; terroristas misteriosos enforcados; trevas na acepção mais humana do termo. O testemunho da desmilitarização da Alemanha pelos aliados -- com a destruição do pouco que restou do seu aparato de guerra -- é dado daquela maneira conhecida: as pessoas olhando pela janela, o espanto refletido em seus olhos, que se perdem num ponto distante em que as últimas esperanças de grandiosidade vão sendo colapsadas. Mas em qualquer época e lugar, aqueles que olham para fora da janela com um pouquinho de atenção não poderiam ver nada de muito diferente. No caso de Leopold Kessler, o nosso fabuloso Leo, ingênuo e despreparado, o contraste é ainda maior. Ele é recebido com desconfiança por um tio esquisitíssimo; sofre pelo seu jeito americano de engraxar sapatos; apaixona-se por uma mulher que faz questão de confundi-lo. Paga para trabalhar na Zentropa, o derradeiro manicômio europeu.

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