segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Happiness - Todd Solondz


Melhor ter assistido do que não ter assistido. Agora, dizer que eu gostei é outra história. Em nenhum momento o total desamparo dos personagens me provocou sentimentos de simpatia. E dado que eles jamais poderiam ser admirados, ficou um vácuo entre mim e o filme que eu não saberia preencher. Eu concedo que a família Jordan/Maplewood, como produto de ficção, saiu divertida. Concedo também que, se você aceitar o comportamento doentio das pessoas como algo que não se pode criticar, mas que apenas pode ser mostrado da melhor maneira possível, então o Solondz terá feito um bom trabalho. Acho, na verdade, que ele fez um bom trabalho. Como não achar que ele fez um bom trabalho, por exemplo, no núcleo Vlad/Joy? Que povo engraçado. Agora eu sei de onde saiu o Vlad do Grand Theft Auto 4, do Xbox. Saiu desse filme. Ele é um imigrante eslavo dirigindo um táxi em Nova Iorque, mal falando inglês, sempre arquitetando um esquema. A Joy foi uma que caiu na sua conversa. Sabendo disso, ele aproveita para abrir o seu coração: "Joy, I must ask you a question", tímido, recatado, com o olhar indefeso. "Yes?", ela responde, igualmente tímida, recatada, com o olhar indefeso. "But I very ashamed.",numa atitude que reconhece a sua própria condição de pária, de alguém que destrói a língua. "I'm sure I'll understand.", compreensiva, atenciosa, com a esperança de que o fato dele só morar, mas não estar casado com a mulher que foi à escola bater na mulher - no caso, a própria Joy - que saiu com o seu amante, com a esperança desse fato significar alguma chance para o seu próprio romance. "Good", e mudando completamente o tom de voz, como se ele estivesse falando com a pessoa mais íntima do mundo, "can I borrow money?" E a encara com um olhar decidido, balançando a cabeça, acreditando em si mesmo "It is very important." "How much?", ela pergunta, ao que imediatamente escuta "One thousand dollars". Alguma reflexão feita, ela aceita que ele a leve a um caixa eletrônico ali perto. Aproveita para perguntar, porque perguntar não ofende: "Vlad, could I first have my guitar and my CD player back?" Eram as coisas que ela percebeu que ele tinha roubado dela. Condescendente, Vlad pensa um pouco naquele pleito e dá a sua palavra final "Okay, it is deal". Essa cena foi muito legal, igualada apenas pela cena em que o personagem do Philip Seymour Hoffmann escuta uma confissão antológica do que a sua vizinha tinha feito com o porteiro do prédio. Com o cadáver dele, melhor dizendo. Mas eles ainda podem ser amigos, diz ele. Afinal, "we all have our, you know, our pluses and minuses."

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