domingo, 25 de janeiro de 2009

Viridiana - Luis Buñuel



Hum... a questão é saber se um filme em que o próprio personagem coloca Mozart para tocar numa vitrola, na intenção de criar um ambiente apropriado ao consumo de café, só por esse motivo se salva. Ou se para a sua definitiva redenção nós também temos que considerar que esse personagem droga a sobrinha e praticamente date-rapes her. E que essa sobrinha vem a ser nada menos que uma noviça prestes a se tornar uma freira. Mas não é só esse tio que tem bom caráter nessa história. Tem também um outro personagem, um mendigo que é acolhido pela Viridiana, que eu gostaria de pensar que é só mentalmente enfermo. Mas parece que não. Parece que existe uma outra moléstia na história, umas marcas indiscerníveis à distância e em p&b. Ora, não sabendo se a doença que ele tem é, ou não, lepra, quando ele vai à igreja, dizem, ele enfia o braço na pia santíssima pensando: tomara que todo mundo pegue esse mau. Outras delicadezas refinadas vão se somando ao seu acervo. Esse mesmo sujeito será visto, mais tarde, roubando o vestido de noiva da falecida esposa do falecido dono da casa - e se apresentando perante a assembléia de brutos que está se aproveitando da caridade da Viridiana para banquetear. Ele então dança como nós pensamos que as pessoas do Egito antigo dançavam só por causa daquelas pinturas em duas dimensões que nós conhecemos. E, ainda por cima, suja a sala inteira com as penas de uma pomba que ele tinha encontrado no campo. A essa altura, obviamente, uma guerra total de comida era uma questão de tempo. Assim como era iminente que alguém se aproveitasse para praticar sujidades atrás do sofá. Na confusão do momento, uma anã principia passos de moonwalk. Volta a se tocar Handel, que já tinha sido tocado na apresentação dos créditos. Minutos antes, aliás, um bonito enquadramento já tinha mostrado todos os mendigos naquela posição daquela que é a mais conhecida versão da Santa Ceia. A bagunça é generalizada. Também, os benfeitores desse povo todo, a Viridiana e o seu primo Jorge, estão fora de casa, com a previsão de só voltarem no dia seguinte. Vocês se lembram daquela cena em Weird Science? Daquela em que eles precisam dar um jeito na bagunça porque os pais do Wyatt estão voltando de viagem e não podem encontrar a casa no estado deplorável que ela estava depois de ter sido realizada uma festa que simplesmente foi invadida por uma gangue de motoqueiros armados? A Mulher Nota Mil, usando seus poderes mágicos, faz os móveis retornarem ao seu lugar adequado instantes antes do momento fatídico. Um piano, se eu não me engano, entra e sai pela chaminé e vai parar na piscina. Eu pensava que algo de semelhante de alguma forma iria acontecer na Casa Grande e que os mendigos iriam se safar. Em vez disso, quando Jorge chega em casa e se depara com a algazarra, encontra-se a maneira gentil de não o escandalizar: quebrando-se uma garrafa na sua cabeça. Viridiana, que chega alguns segundos depois para encontrá-lo estendido no chão, quer saber o porquê daquilo. Ah, alguém responde, ele estava procurando por isso. E agora é hora de mais alguém date-rapes her. Depois se pega um baralho, joga-se "tute", tudo fica certo.

Nenhum comentário:

 
Free counter and web stats