domingo, 4 de janeiro de 2009

Russkiy kovcheg - Aleksandr Sukorov



Um filme muito bonito de se ver. E também, parece, revolucionário, fenomenal, épico. Consigo pensar num monte de palavras que poderiam descrevê-lo acuradamente sem, no entanto, resumir de maneira satisfatória o que eu achei que é o mais importante: que é um filme muito bonito de se ver. Prestei atenção nas entrevistas que estão no dvd e uma referência que é feita por todos os envolvidos é a ausência de compressão das imagens, as quais teriam sido captadas por uma câmera digital e transmitidas diretamente para um disco rígido. Isso, dizem, garantiu a qualidade excepcional. Mas as entrevistas não me esclareceram como os ensaios foram feitos, se é que foram feitos ensaios gerais. Quase três mil pessoas, entre figurantes e atores, participaram das filmagens. Três mil visitantes, por assim dizer, do Museu Hermitage, em São Petersburgo. Entre eles, alguns monarcas, alguns emissários estrangeiros, inúmeros membros do alto oficialato russo e uma quantidade nunca suficiente de maravilhosas donzelas com os seus vestidos fazendo fru-fru. Que eu tenha contado, duas orquestras. A história um pouco obscura vai mostrando personagens célebres dos últimos séculos na Rússia, cercados de uma pletora de figuras pálidas que compõem o cenário. São 35 salões ao todo, como disse, eu acho, o sujeito responsável pela iluminação. Em apenas um, eu acho, as pessoas que estão passeando por lá sobreviveram à perestroika. Todo o resto, pelas roupas e pelas atitudes, poderia ter saído de um baile no castelo dos Karenine para fazer parte do elenco. Principalmente considerando como eles valsam. Não sei, naquela época ou era a valsa ou era esperar os onze meses de inverno passarem até que alguém desse algum baile, nesse intervalo os amantes podendo se comunicar só por cartas que, se tivessem de ser remetidas à província ao lado, provavelmente teriam de percorrer uns mil quilômetros. Só de ida. Acho que eles prolongavam a valsa ao ridículo para atender à necessidade que o povo tinha de conversar alguma coisa. E convenhamos que era merecido. Eu jamais aprenderia a valsa, por mais aristocrata que eu pudesse ter nascido, por mais cultivador de frivolidades que uma grande fortuna me permitisse ser. O filme, já ia me esquecendo, foi gravado numa única tomada, sem cortes. Por isso é que eu até agora estou pensando nos ensaios que devem ter sido realizados. Quase uma hora e meia de filme sem cortes. O máximo que acontece é a câmera de vez em quando estacionar num canto do museu por alguns segundos, fixando-se em algum quadro famoso, alguma estátua, ou então no diplomata francês altamente lunático que vai acompanhando o sujeito cuja visão é o próprio enquadramento da câmera. Esses dois sussurram algumas coisas incompreensíveis e, como espectros rondando a Europa, às vezes entram em alguns lugares que não pareciam ser fisicamente possíveis de serem entrados por qualquer objeto material.

Nenhum comentário:

 
Free counter and web stats